Liturgia de Domingo

4 de maio – 3º DOMINGO DA PÁSCOA

Por Pe. Johan Konings, sj
  

I. INTRODUÇÃO GERAL

A liturgia do segundo domingo pascal apresentou a comunidade apostólica e sua fé em Jesus Cristo ressuscitado. Agora, o terceiro domingo apresenta a mensagem que essa comunidade anunciou ao mundo, a pregação dos apóstolos nos primórdios da Igreja: o “querigma”. A perspectiva do anúncio universal é criada pela antífona da entrada, com o Salmo 66[65],1-2: “Aclamai a Deus, toda a terra”, enquanto a oração do dia evoca a renovação espiritual dos que creem e recebem a condição de filhos de Deus.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (At 2,14a.22-33)

A primeira leitura apresenta o “querigma” apostólico, o anúncio – no discurso de Pedro em Pentecostes – da ressurreição de Jesus e de sua vitória sobre a morte. É o protótipo da pregação apostólica. Suprimida a introdução do discurso, por ser a leitura de Pentecostes (At 2,15-21), a leitura de hoje se inicia com o v. 22, anunciando que o profeta rejeitado ressuscitou, cumprindo as Escrituras (Sl 16[15],8-10). Não se trata de ver aí uma realização “ao pé da letra”, mas de reconhecer nas Escrituras antigas a maneira de agir de Deus desde sempre, a qual se realiza num sentido “pleno” em Jesus Cristo. Ou melhor: naquilo que se vê em Jesus, aparece o sentido profundo e escondido das antigas Escrituras. O importante nesse querigma é o anúncio da ressurreição como sinal de que Deus “homologou” a obra de Jesus e lhe deu razão contra tudo e todos. Isso é atestado não só por testemunhas humanas, mas também pelo testemunho de Deus mesmo, na Escritura. O Salmo 16[15], por exemplo, originalmente a prece de quem sabe que Deus não o entregará à morte, encontra em Cristo sua realização plena e inesperada. Esse salmo é também o salmo responsorial de hoje e terá de ser devidamente valorizado.

2. II leitura (1Pd 1,17-21)

Na segunda leitura, continua a leitura da 1Pd iniciada no domingo passado. Jesus Cristo é visto como aquele que nos conduz a Deus. Sua morte nos remiu de um obsoleto modo de viver. Por meio de Cristo, ou seja, quando reconhecemos e assumimos a validade do seu modo de viver e de morrer, chegamos a crer verdadeiramente em Deus e o conhecemos como aquele que ressuscita Jesus, aquele que dá razão a Jesus e “endossa” a sua obra. Isso modifica nossa vida. Desde o nosso batismo, chamamos a Deus de Pai; mas ele é também o Santo que nos chama à santidade (1Pd 1,16; cf. Lv 19,2). O sacrifício de Cristo, Cordeiro pascal, obriga-nos à santidade. Os últimos versículos desta leitura (v. 19-21) constituem uma profissão de fé no Cristo, que desde sempre está com Deus: ele nos fez ver como Deus verdadeiramente é, e por isso podemos acreditar que Deus nos ama.

3. Evangelho (Lc 24,13-35)

O evangelho é preparado pela aclamação, que evoca o ardor dos discípulos ao escutar a Palavra de Deus (cf. Lc 24,32). Trata-se da narrativa dos discípulos de Emaús (lida também na missa da tarde no domingo da Páscoa). A homilia pode sublinhar diversos aspectos.
1) “Não era necessário que o Cristo padecesse tudo isso para entrar na glória?” (Lc 24,26). Cabe parar um momento junto ao termo “o Cristo”. Não é apenas de Jesus como pessoa que se trata, mas de Jesus enquanto Cristo, Messias, libertador e salvador enviado e autorizado por Deus. Não se trata apenas de reconhecer a vontade divina a respeito de um homem piedoso, mas do modo de proceder de Deus no envio de seu representante, o “Filho do homem” revestido de sua autoridade (cf. Dn 7,13-14), que deve levar a termo o caminho do sofrimento e da doação da vida (cf. Lc 9,22.31).
2) Jesus “lhes explicou, em todas as Escrituras, o que estava escrito a seu respeito” (Lc 24,27). Em continuidade com a primeira leitura, podemos explicitar o tema do cumprimento das Escrituras. As Escrituras fazem compreender o teor divino do agir de Jesus. Enquanto os discípulos de Emaús estavam decepcionados a respeito de Jesus, fica claro agora que, apesar da aparência contrária, Jesus agiu certo e realizou o projeto de Deus. As Escrituras testemunham isso. Jesus assumiu e levou a termo a maneira de ver e de sentir de Deus que, embora de modo escondido, está representada nas antigas Escrituras. Ele assumiu a linha fundamental da experiência religiosa de Israel e a levou à perfeição, por assim dizer. Mas só foi possível entender isso depois de ele ter concluído a sua missão. Só à luz da Páscoa foi possível que as Escrituras se abrissem para os discípulos (cf. também Jo 20,9; 12,16).
3) Reconheceram-no ao partir o pão (cf. Lc 24,31 e 35). A experiência de Emaús nos faz reconhecer Cristo na celebração do pão repartido. Na “última ceia”, o repartir o pão fora reinterpretado, “ressignificado”, pelo próprio Jesus como dom de sua vida pelos seus e pela multidão (Lc 22,19); e à comunhão do cálice que acompanhava esse gesto, Jesus lhe dera o sentido de celebração da nova e eterna aliança (Lc 22,20). Assim puderam reconhecê-lo ao partir do pão. Mas o gesto de Jesus na casa dos discípulos significava também a rememoração do gesto fundador que fora a Última Ceia, a primeira ceia da nova aliança. Desde então, esse gesto se renova constantemente e recebe de cada momento histórico significações novas e atuais. Que significa “partir o pão” hoje?Não é apenas o gesto eucarístico; é também o repartir o pão no dia a dia, o pão do fruto do trabalho, da cultura, da educação, da saúde… Os discípulos de Emaús, decerto, não pensavam num mero rito “religioso”, mas em solidariedade humana. Ao convidarem Jesus, não pensaram numa celebração ritual, mas num gesto de solidariedade humana: que o “peregrino” pudesse restaurar as forças e descansar, sem ter de enfrentar o perigo de uma caminhada noturna. O repartir o pão de Jesus é situado na comunhão fraterna da vida cotidiana. Esse é o “aporte” humano que Jesus ressignifica, chamando à memória o dom de sua vida.

III. DICAS PARA REFLEXÃO: Entender as Escrituras e partir o pão

A liturgia de hoje nos conscientiza de que Jesus, apesar – e por meio – de seu sofrimento e morte, é aquele que realiza plenamente o que a experiência de Deus no Antigo Testamento já deixou entrever, aquilo que se reconhece nas antigas Escrituras quando se olha para trás à luz do que aconteceu a Jesus. Ao tomarmos consciência disso, brota-nos, como nos discípulos de Emaús, um sentimento de íntima gratidão e alegria (“Não ardia o nosso coração…?” [Lc 24,32]) que invade a celebração toda, especialmente quando, ao partir o pão, a comunidade experimenta o Senhor ressuscitado presente no seu meio.


3 de março – 3º DOMINGO DA QUARESMA
Por Celso Loraschi
I. INTRODUÇÃO GERAL
 Deus é a fonte de todos os bens. Acompanha com carinho os seus filhos e filhas na caminhada desta vida. Fornece-lhes alimento e força a fim de que seu projeto de vida digna para todos se realize no mundo. É preciso caminhar com a certeza de conquistar a terra prometida por Deus, onde a justiça e a paz se abraçam. O povo de Deus não pode cair na tentação de voltar atrás e acomodar-se dentro de sistemas que exploram e matam. Deus caminha com seu povo e o liberta das opressões. Os conflitos e as dificuldades fazem parte do processo de construção de um mundo novo (I leitura). Jesus é “Deus-conosco”, a água viva que sacia a nossa sede de plenitude. Ele nos ensina o caminho de superação dos legalismos e nacionalismos que dificultam a aproximação e o diálogo entre pessoas e povos. Ele nos proporciona a possibilidade de reconhecer o rosto de Deus nas tradições e culturas diversas e, assim, adorá-lo “em espírito e verdade” (evangelho). São Paulo, na carta aos Romanos, demonstra que a fé em Deus torna a pessoa justa. Isso acontece por meio de Jesus Cristo, que entregou sua vida por amor a todos nós, pecadores (II leitura). Por ele, caminhamos na esperança que não decepciona, pois ele nos salvou gratuitamente.
 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1.      I leitura (Ex 17,3-7): Deus caminha com seu povo
            O povo de Israel caminha pelo deserto, em processo de libertação da escravidão do Egito. O tempo passa, as dificuldades aumentam. O entusiasmo dos primeiros momentos do êxodo dá lugar a reclamações. Aparece a tentação do desânimo e da volta ao regime anterior. De fato, a água é elemento essencial para a sobrevivência do povo. Como não reclamar numa situação dessas?
            O povo põe-se na dependência da liderança. Jogam as dificuldades aos pés de Moisés e o condenam por tirá-los do Egito. Moisés poderia argumentar que ninguém os obrigou a sair de lá. Porém não os condena e dirige-se a Deus para expor-lhe o problema que os aflige. Deus sempre ouve a oração quando acompanhada do empenho pelo bem comum. Junto com as demais lideranças (os anciãos), Moisés testemunha a ação gratuita de Deus em favor dos que murmuram. Estes estão em processo de aprendizagem. Ao chegarem à terra prometida, organizados em tribos, saberão organizar uma sociedade nova de forma participativa e administrá-la de forma corresponsável.
            A vida itinerante caracteriza-se por inseguranças, perigos, cansaços… A formação do povo de Israel deu-se num processo de caminhada, de tensões entre grupos e de descoberta de princípios orientadores para uma convivência pacífica. A utopia da terra prometida conservou-lhe a resistência e o ânimo para caminhar. Isso seria impossível sem a fé na providência divina.
            A rocha representa a impossibilidade radical do ser humano de encontrar, por si só, saídas para suas crises e problemas de toda ordem. É a ilusão de achar que tudo se pode solucionar com os recursos inventados pela lógica humana. Porém, somente a fé em Deus possibilita as verdadeiras soluções que garantem vida para todos os povos. Somente a certeza de sua presença viva faz que a história humana se torne história de libertação. Deus é fonte de vida. É generosamente providente: oferece gratuitamente todos os recursos necessários à vida de seus filhos e filhas.
 2.      Evangelho (Jo 4,5-42): Jesus, a água viva
            Como sabemos, os samaritanos são considerados inimigos históricos dos judeus. São um povo de raça mista e possuem outra concepção religiosa. Para um judeu, ser chamado de “samaritano” era enorme ofensa. A origem dessa hostilidade remonta ao tempo da invasão assíria no Reino do Norte, em 722 a.C., quando a cidade de Samaria foi destruída e boa parte da população deportada. A região foi povoada por colonos assírios que se casaram com hebreus. Mais tarde, no período pós-exílico, o sistema religioso do templo de Jerusalém exclui os samaritanos.
            Jesus passa pela região de Samaria, na cidade de Sicar (antiga Siquém), onde fora enterrado Josué, o sucessor de Moisés. Jesus está fatigado e senta-se à beira do poço que era do patriarca Jacó. Na tradição judaica, o poço representa a garantia da água oferecida por Deus ao povo, como a água jorrada da rocha durante o êxodo. O poço é figura do culto e da Lei judaica, cuja autoria era atribuída a Moisés. Da observância da Lei e do culto brotava a água viva da Sabedoria. A ideia dominante era que o poço da água viva era o próprio templo de Jerusalém.
            Jesus está em caminhada. Chega ao local do poço à “sexta hora”, o que corresponde ao meio-dia. É a mesma hora em que Jesus vai ser condenado à morte (19,14). É o final de sua caminhada. Com sua morte, Jesus se torna o Caminho para todos os que o seguem. Jesus, ao sentar-se no poço, está na verdade revelando que ele mesmo é o poço da água viva. Toma o lugar da Lei, do culto, do templo… João vai dizer que Jesus, ao morrer, vai ser traspassado por uma lança e do seu lado sairão sangue e água (19,34).
            A mulher representa o povo samaritano com sua tradição religiosa. Os seus “cinco maridos” são uma referência aos cinco deuses cultuados pelos antepassados (cf. 2Rs 17,29-32). Jesus oferece à mulher o verdadeiro culto, que é ele próprio. De fato, quem toma a iniciativa do diálogo é o próprio Jesus, que pede água. Corresponde à atitude do próprio Deus da aliança, que sempre busca o seu povo, apesar de suas infidelidades. A samaritana (o povo impuro e marginalizado), não os líderes religiosos de Jerusalém, reconhece Jesus como o Messias, fonte de onde jorra água para a vida eterna.
            A grande novidade de Jesus é a proposta de total mudança de mentalidade com relação a Deus: ele o chama de Pai. E, como Pai de todos, não necessita de determinado lugar para ser cultuado: nem na Samaria, nem em Jerusalém. A mudança de mentalidade também significa entrar numa nova relação com o próximo, a qual derrubará as barreiras entre judeus e samaritanos. Ambos os povos poderão adorar a Deus já não com rituais fixados pela rigidez legalista, mas “em espírito e verdade”.
Sendo Deus a fonte de todo amor e de toda vida, Pai de todos os povos, deseja ser adorado de modo verdadeiro em todos os lugares. Ele busca pessoas que o adorem com lealdade. Jesus, o Filho, viveu o amor desta maneira: na fidelidade ao Pai, deixou-se conduzir pelo Espírito da Verdade. Do coração de todos os que seguem Jesus brotam rios de água viva, pois saberão amar como ele amou.
 3.      II leitura (Rm 5,1-2.5-8): A nova condição humana
             Paulo, nos capítulos anteriores ao texto da liturgia deste domingo, procurou convencer os judeus de que a justificação se dá pela fé, sem a necessidade das obras da Lei. Percebe-se que, mesmo no interior da comunidade cristã, há pessoas de origem judaica, apegadas à tradição legalista, com dificuldades de aceitar a doutrina da graça divina.
            A partir do capítulo 5, vemos Paulo debruçado sobre os traços que caracterizam uma pessoa que, pela fé em Jesus Cristo salvador, passou a ser nova criatura. Ele parte da certeza de que fomos justificados pela fé, de forma definitiva. Aceitar essa verdade é entrar numa nova condição humana conferida pela graça de Deus. O primeiro efeito desta é a paz com Deus. Podemos viver agora permanentemente sob abundantes bênçãos divinas. É um estado de bem-estar e alegria. A graça nos confere inteireza pessoal e capacidade de relacionamento fraterno com o próximo.
            A paz que provém da fé e é graça de Deus, concedida plenamente em Jesus Cristo, também nos liberta do medo da condenação. Aproxima-nos de Deus de tal modo, que podemos amá-lo e glorificá-lo em tudo o que somos e fazemos. Portanto, o estado de graça nos conserva na harmonia com nós mesmos, com os outros, com a natureza e com Deus. O ser humano, assim, está revestido de imortalidade já nesta vida mortal.
            O pecado já não tem poder sobre a graça. A inimizade com Deus foi definitivamente derrubada pela reconciliação que Jesus, pela sua morte, trouxe à humanidade pecadora. Essa regeneração do gênero humano o torna capaz de viver na vontade divina, na certeza da realização plena. Vive-se, então, na esperança que não decepciona. Ela firma nossos passos e não nos deixa na confusão, nem na dispersão, nem na timidez, nem no desapontamento. Ela se alicerça na certeza do amor sem limites de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo e não por meritocracia. Tanto judeus como gentios recebem o dom da reconciliação e da paz. O amor de Deus derramado sobre todos os povos é força ativa, capaz de mudar o mundo.
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO
– Deus liberta o povo da escravidão do Egito. Caminha com ele pelo deserto. Mesmo quando o povo se queixa e duvida da presença de Deus, este não o condena nem o abandona. Ouve a oração de Moisés e das outras lideranças e faz nascer água da rocha. Sacia a sede do povo para que este não desanime na caminhada para a terra prometida. Essa caminhada de 40 anos é lembrada pela Igreja, de modo especial, neste tempo da Quaresma. É preciso caminhar com perseverança, confiando na presença de Deus. Ele ouve nossas preces, perdoa-nos e nos acompanha na caminhada de nossa vida. É tempo de superar os queixumes e arregaçar as mangas para que a terra que Deus nos deu seja realmente a casa de todos, conforme nos interpela a Campanha da Fraternidade, sem que ninguém seja escravizado, vendido como mercadoria ou explorado.
– Jesus tomou a iniciativa de ir ao encontro dos samaritanos, inimigos dos judeus. Estabelece um diálogo com a mulher, representante do povo da região da Samaria. Do diálogo nasce a mútua compreensão. Por meio do diálogo, Jesus se revela: ele é a fonte de água viva. Para manter a intimidade com Jesus, bebemos de sua palavra e nos alimentamos de seu corpo na eucaristia. Além de nos saciar, tornamo-nos fonte de água viva. Como fez a samaritana, tornamo-nos discípulos missionários, portadores da boa notícia da salvação de Deus para todos.
– Uma vez reconciliados com Deus, é impossível não irradiar seu amor. Assim fez são Paulo, a ponto de entregar-se totalmente como ministro da reconciliação. Muitos caminhos que o mundo moderno nos oferece dificultam a compreensão e a acolhida da graça divina e a paz entre pessoas e povos. Vivemos dispersos, divididos, confusos, inseguros, apegados aos bens materiais, à fama, ao que nos satisfaz momentaneamente… Somente a paz que vem do amor de Deus é capaz de construir a família humana e nos realizar verdadeiramente. Para isso, precisamos resgatar o valor do silêncio, da meditação da palavra de Deus, da oração pessoal, familiar e comunitária, da contemplação, do cuidado e da promoção dos direitos comuns.
Celso Loraschi
Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos, professor de evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos no Instituto Teológico de Santa Catarina (Itesc).
 http://vidapastoral.com.br/roteiros/23-de-marco-3o-domingo-da-quaresma/

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16 de março – 2º DOMINGO DA QUARESMA

I. INTRODUÇÃO GERAL

Por Celso Loraschi

            Seguir a Deus é assumir atitude de permanente êxodo. Abraão, nosso pai na fé, foi chamado por Deus a pôr-se a caminho para a terra prometida. Foi provocado a deixar as seguranças para entrar na dinâmica do plano de amor de Deus, visando a uma “terra sem males”, uma sociedade de justiça e paz. Obedecendo ao chamado divino, Abraão e sua família tornaram-se portadores da bênção divina para todo o povo (I leitura). O cristão, continuamente, corre o risco de se equivocar a respeito de Jesus e de sua proposta. Como Pedro no episódio da transfiguração, tende a construir o “ninho” de proteção e de bem-estar, negligenciando as implicâncias do seguimento de Jesus no caminho da cruz e da morte (evangelho). É bom prestar atenção nos conselhos de Paulo a Timóteo: são expressões de amor e de solidariedade a quem passa por situações conflituosas. Timóteo é encorajado a persistir no testemunho de Jesus Cristo, participando de seus sofrimentos pela causa do evangelho (II leitura). Neste tempo propício de penitência e conversão, somos convidados a ouvir o chamado que Deus nos faz para ser santos; é tempo propício para aprofundar a vocação que dele recebemos e discernir o que é essencial do que é ilusório.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Gn 12,1-4a): A fé que se transforma em caminho
            A Bíblia nos apresenta a figura de Abraão como o pai do povo de Israel. Sua fé e confiança em Deus tornam-se a principal herança para as futuras gerações. Abraão é representativo de grupos seminômades, que, por natureza, não se submetem à dominação do poder político, como o exercido naquela época (em torno de 1500 a.C.) pelas cidades-estado. São caminhantes, sempre em busca de terra fértil que proporcione pastagens para a sobrevivência dos seus rebanhos e, consequentemente, de suas famílias e clãs.
            A experiência que Abraão possui de Deus está intimamente ligada ao estilo de vida dos pastores. A garantia da terra e o senso de liberdade são fundamentais. A presença de Deus se dá onde se encontram as famílias. Ele caminha com os pastores, conduz os seus passos e lhes dá a terra de que necessitam. A terra é promessa e dom de Deus, porém é necessário que Abraão esteja disposto a romper com as seguranças que impedem a caminhada na direção que Deus lhe aponta.
            Confiar no Deus da promessa é ter a certeza de um mundo sem exploração e sem fome. Essa promessa é motivadora para os movimentos populares, especialmente em época de opressão, como aquela exercida pelo Egito e, posteriormente, pela monarquia israelita. Abraão torna-se a “memória perigosa” que desacomoda os oprimidos, proporcionando-lhes inspiração para a resistência e a mobilização em vista de uma nova sociedade.
2. II leitura (2Tm 1,8b-10): A santa vocação
            A segunda carta a Timóteo faz parte das tradicionalmente conhecidas “cartas pastorais” (junto com 1Tm e Tt). São dirigidas aos animadores de Igrejas cristãs, num tom pessoal. Os autores atribuem essas cartas a Paulo. Foram escritas algum tempo depois de sua morte, no intuito de iluminar e fortalecer a missão desses “pastores” junto às comunidades.
Timóteo havia sido um companheiro de Paulo. Participou da segunda e terceira viagens missionárias. Era uma pessoa de confiança e dedicado à evangelização. Paulo podia contar com ele para enviá-lo às comunidades a fim de levar instruções e animar a fé dos cristãos. Após a morte de Paulo, continuou a missão de ministro da Palavra, revelando-se importante liderança. A tradição o venera como bispo de Éfeso. Etimologicamente, Timóteo significa “aquele que honra a Deus”.
            O texto da leitura de hoje indica uma situação difícil pela qual está passando Timóteo. O intuito é confortá-lo e animá-lo à perseverança. Timóteo é convidado a participar solidariamente dos sofrimentos pelos quais Paulo também passou por causa do evangelho. Quem assumiu a missão de servir à Palavra não pode sucumbir às dificuldades nem manifestar-se timidamente. A tribulação é inerente ao anúncio do evangelho quando feito com autenticidade. Como aconteceu com Jesus, também acontece com os seus discípulos. Nessa mesma carta, encontramos o alerta: “Todos os que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus serão perseguidos” (3,12).
            A confiança plena na graça de Deus deve ser característica da pessoa que evangeliza. Deus nos salvou gratuitamente em Jesus Cristo. Ele nos chama com uma santa vocação para servi-lo e amá-lo. A santidade nos faz andar cotidianamente na intimidade divina, como o fez Jesus. A pessoa santa é portadora da graça e irradiadora da boa notícia de Jesus, o Salvador, que venceu a morte e fez brilhar a vida. A missão de Timóteo e de toda pessoa seguidora de Jesus é anunciar, de modo permanente e corajoso, esse projeto salvador de Deus, concebido desde toda a eternidade e revelado plenamente em Jesus Cristo.
3. Evangelho (Mt 17,1-9): A transfiguração de Jesus
A narrativa da transfiguração de Jesus está permeada de elementos simbólicos teologicamente muito significativos. Vemos Jesus subindo à montanha com Pedro, Tiago e João. Todos participam de uma experiência mística inédita. Moisés e Elias também se fazem presentes e dialogam com Jesus.
            Lembremos, especialmente, que a comunidade de Mateus é formada de judeus que vivem a fé cristã. Portanto, é importante que a tradição judaica seja respeitada e aprofundada agora em novo contexto. Assim, a montanha tem um significado especial de manifestação de Deus. Basta lembrar o dom da Lei de Deus a Moisés no monte Sinai. Assim também a expressão “seis dias depois”, bem como a presença da nuvem. Lemos em Ex 24,16: “Quando Moisés subiu ao monte, a nuvem cobriu o monte. A glória do Senhor pousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu durante seis dias”. Como vemos, há íntima relação entre a transfiguração de Jesus e a experiência religiosa de Moisés. É um momento extraordinário de manifestação divina. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas, caminho que aponta para o Messias. Jesus é o cumprimento da promessa do Pai revelada na Sagrada Escritura.
            Podemos considerar como centro dessa narrativa a declaração de Deus: “Este é meu Filho amado, nele está meu pleno agrado: escutai-o!” Essa voz que vem do céu declarando a filiação divina de Jesus também se fez ouvir no seu batismo (Mt 3,17). É, sem dúvida, a confissão de fé da comunidade cristã, representada nesse momento por Pedro, Tiago e João. De fato, os discípulos, no barco, reconhecem Jesus caminhando sobre as águas e salvando Pedro de sua fraqueza de fé: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (14,33). Na ocasião em que Jesus pergunta o que dizem dele, Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (16,16). É no momento da morte de Jesus que o centurião e os guardas declaram: “De fato, esse era Filho de Deus” (27,54). O anúncio da verdade sobre Jesus não foi feito aos que detinham o poder político ou religioso. Também não foi feito em algum centro ou instituição importante. Dirigiu-se, sim, a um grupo de gente simples, num lugar social periférico.
            O imperativo “escutai-o” enfatiza a perfeita relação entre a profissão de fé em Jesus como “Filho de Deus” e a atenção cuidadosa ao seu ensinamento. O elemento fundamental do ensino de Jesus é que ele terá de passar pelo sofrimento e pela morte, na perspectiva do “Servo sofredor” anunciado pelo profeta Isaías (cf. 42,1-9). Não é por acaso que Mateus insere o relato da transfiguração logo após o primeiro anúncio de sua paixão e morte e o convite ao discipulado: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (16,24). Portanto, os discípulos deverão compreender que o caminho para o seguimento de Jesus, Servo de Deus, implica “descer da montanha” e assumir as consequências, conforme o testemunho do Mestre. Porém esse não é um caminho derrotista. A vida triunfa sobre a morte. A glória de Deus se manifestará plenamente na ressurreição. A transfiguração é um sinal antecipado da realidade da Páscoa.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
– Pôr-se à disposição de Deus. As leituras deste domingo nos apontam a dinâmica do projeto libertador de Deus: deixar as seguranças que nos engessam para nos pormos a caminho da terra que Deus deseja para a humanidade. A exemplo de Abraão e sua família, nós também podemos assumir a fé e a total confiança em Deus, que sustenta e guia os nossos passos na verdade, na justiça e no amor. Essa é a melhor herança que podemos deixar às futuras gerações.
– Assumir a missão de evangelizar. Timóteo, “aquele que honra a Deus”, assumiu a missão de anunciar o evangelho de forma corajosa e perseverante mesmo nas situações difíceis; também nós podemos ser anunciadores da boa notícia de Jesus em nossas famílias, na comunidade e na sociedade. Isso acontece pela coerência entre fé e vida, pelo testemunho de doação alegre, também pela constância no testemunho de diálogo e de fraternidade. Assim, estaremos respondendo à “santa vocação” a que fomos chamados pela bondade de Deus.
– A vida é um permanente caminhar. Jesus foi a grande manifestação de Deus para a humanidade. Pedro, Tiago e João foram agraciados com uma experiência maravilhosa, participando da transfiguração de Jesus. Também em nossa vida, Deus nos concede momentos de muita luz, consolo e força. Tendemos, porém, a buscar e a nos acomodar ao que nos garante bem-estar, prazeres, sensações agradáveis… Não podemos esquecer que seguir Jesus implica “descer da montanha” do egoísmo e da acomodação. Seguir Jesus é entregar-se pela causa da vida digna sem exclusão, alicerçada na justiça e na igualdade. Para isso, conforme nos convoca a Campanha da Fraternidade, faz-se necessário o cuidado com a dignidade de todos os seres humanos, o cuidado de evitar a exploração e o tráfico humano.

Celso Loraschi

Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos, professor de evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos no Instituto Teológico de Santa Catarina (Itesc).
E-mail: loraschi@itesc.org.br
www.paulinos.org.br

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9 de março – 1º DOMINGO DA QUARESMA

Por Celso Loraschi
  
I. INTRODUÇÃO GERAL
            Iniciamos o período da Quaresma com a disposição renovada de mergulhar em Deus, deixando-nos iluminar por suas palavras, questionando-nos sobre nossas atitudes e comprometendo-nos com uma nova vida. Somos fruto da iniciativa amorosa de Deus. Ele nos modelou a partir do barro e deu-nos a vida, insuflando em nós o seu sopro divino. Presenteou o ser humano com uma habitação especial, um jardim que produz toda espécie de frutos. Para conservar o estado de bem-estar e alegria, ordenou-lhe que não tocasse na “árvore da ciência do bem e do mal”. Porém a rebeldia dos homens e das mulheres, representados por Adão e Eva, originou toda espécie de males (I leitura). Deus, no entanto, não abandona as suas criaturas. Ele é criador e também libertador. Por isso, como máxima expressão do seu amor, enviou o seu Filho, Jesus Cristo, para nos libertar de todos os males, com suas consequências. Se pelo pecado de Adão entrou a morte no mundo, pela graça de Jesus Cristo nos é dada a redenção (II leitura). Para isso, Jesus assumiu plenamente a condição humana, sofreu toda espécie de tentações durante toda a sua vida. Não caiu, porém, nelas. Permaneceu fiel à vontade do Pai, alimentando-se permanentemente de sua palavra e cultivando a sua intimidade pelo silêncio e pela oração (evangelho). Portanto, a palavra e o exemplo de nosso irmão maior, Jesus Cristo, devem tornar-se o pão nosso de cada dia, que nos sustenta na caminhada desta vida e nos mantém na fidelidade ao projeto de Deus.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Gn 2,7-9; 3,1-7): Da argila da terra Deus criou o ser humano
A figura de Deus apresentada nesse relato da criação é a de um oleiro com incrível capacidade artística. Percebe-se a intenção dos autores de ressaltar a origem do ser humano, que tem íntima ligação com Deus e com a terra que ele criou. O próprio nome Adão vem de adamah, termo hebraico que designa a terra. É a palavra que deu origem ao homem, entendido aqui como nome genérico da raça humana. Homens e mulheres são seres originados do húmus da terra. A terra, portanto, Deus a fez e a usou como “mãe” da humanidade. Ela é fonte de vida, é fértil e produz todas as espécies de frutos.
            Deus é pai, amigo e conselheiro dos seus filhos e filhas. Dá-lhes as instruções necessárias para que possam viver sobre a terra em íntima comunhão com ele e, como decorrência, em solidariedade com todas as coisas. Por isso, Deus pede que não comam do fruto da “árvore da ciência do bem e do mal”. Em outras palavras: os seres humanos devem respeitar a soberania de Deus sobre todas as coisas e submeter-se ao seu desígnio. Tudo o que ele faz é muito bom.
            A narrativa busca explicar o motivo do sofrimento pessoal e dos males sociais. A origem de todas as coisas está fundamentada na bondade divina. Foram feitas para o bem dos seres humanos. Por que, então, o sofrimento? Os autores do texto expressam profunda consciência crítica sobre a opressão. Esta se constitui a causa de todos os males. Ao tomarem a figura da serpente como a provocadora da violação da ordem divina, apontam para a sagacidade do poder em “dar o bote” para morder e alienar a consciência humana.
Certamente, o grupo que está por trás do texto conhece muito bem as consequências da monarquia israelita. Analisam a realidade social, denunciando a ambição de grandeza e de sabedoria do regime monárquico, que pretende ser “igual a Deus”, usurpando o poder divino e revelando o domínio sobre os bens e as pessoas. Mas, como diz o adágio popular, “o rei está nu”. A nudez revela que a fraqueza e a condição de mortalidade fazem parte da pessoa. De que lhe adiantam as pretensões de poder e de possessão? Confrontado honestamente com o desígnio divino, o ser humano, pretensamente poderoso, sente-se envergonhado. É claro, pois a conquista e a manutenção do poder envolvem mentiras, enganação, usurpação de bens… Deus, porém, é justo e verdadeiro. Diante dele, nenhuma “folha de figueira” cobre essa nudez, a transparência de sua verdade, por mais que a pessoa busque justificativas.
2. II leitura (Rm 5,12-19): O novo ser humano em Jesus Cristo
            Um dos temas dominantes na carta aos Romanos é a justificação pela graça. Para são Paulo, o pecado entrou no mundo trazendo a morte. Esta deve ser entendida não apenas em seu aspecto físico, mas também como realidade pessoal e social, proveniente do egoísmo humano. É herança da transgressão de Adão, representante dos seres humanos. Essa condição de pecadores nos torna incapacitados de nos redimir. Nenhum mérito humano possibilita a salvação. Ela nos é dada por pura graça de Deus, que se revela plenamente em Cristo Jesus.
            Com a Lei, ficou explícito em que consiste o pecado. Com Jesus, a Lei foi superada e, sem ela, o pecado já não é levado em conta. Isso acontece porque a graça de Deus foi derramada sobre todos nós, pecadores, redimindo-nos do pecado. Se o pecado de Adão trouxe a morte, a fidelidade de Jesus Cristo trouxe a vida definitiva. Se a rebeldia do ser humano diante do Criador trouxe a condenação para todos, o dom gratuito de Jesus Cristo para todos trouxe a justificação. Se a transgressão do ser humano é fonte de morte, a graça de Deus, por meio de Jesus, é fonte de vida plena. A graça nos reconcilia com Deus e resgata a nossa integridade. Pela graça, é-nos dada a vida eterna.
            São Paulo nos convence de que o pecado foi instrumento que possibilitou a manifestação da misericórdia divina. A transgressão do “primeiro Adão” não conseguiu impedir o fluxo da graça. Pelo contrário, fê-la fluir ainda mais abundantemente. Essa certeza nos torna abertos para acolher o perdão gratuito de Deus e nos incentiva a mergulhar sempre mais em sua graça. Deus nos criou por amor e também por amor nos liberta do mal e da morte. O ato de expiação de Jesus, o novo Adão, anulou definitivamente o poder do pecado.
3. Evangelho (Mt 4,1-11): Jesus vence as tentações
Desde o início do seu ministério, Jesus enfrenta o embate com propostas diabólicas que buscam desviá-lo de sua missão de defender e promover a vida digna das vítimas do poder em sua tríplice dimensão. O “diabo”, a antiga serpente, inimigo do plano de Deus para a humanidade (cujas expressões se encontram tanto dentro de cada um de nós como nas próprias estruturas sociais), convida Jesus a seguir outro caminho, procurando fazê-lo abandonar a missão que iria realizar como Messias sofredor. Em toda a sua vida (este é o sentido dos “40 dias e 40 noites”), Jesus foi tentado a dar preferência a uma lógica criada segundo intentos egoístas. Teve a possibilidade de ou apresentar um falso messianismo, satisfazendo as expectativas dos seus contemporâneos, ou de optar pela realização da vontade do Pai, assumindo o serviço de libertação junto às pessoas excluídas.
A primeira tentação indica a dimensão econômica do poder. Jesus, como ser humano, sentiu-se certamente atraído pela proposta de orientar a sua vida para o acúmulo de bens e para o desfrute dos prazeres que eles podem oferecer. Podia até mesmo ancorar-se na “teologia da retribuição”, tão presente nos ensinamentos oficiais dos doutores da Lei, legitimando a riqueza e o bem-estar físico como bênçãos divinas. Porém Jesus vai por outro caminho. Ele empenha todo o seu tempo e sacrifica a própria vida no cumprimento da missão que o Pai lhe deu em favor do resgate da vida digna sem exclusão. Ao responder que a pessoa vive não só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus, aponta para a perspectiva essencial que deve conduzir todos os nossos passos. A palavra de Deus constitui a fonte e a autoridade das quais emana todo ensinamento capaz de realizar as aspirações mais profundas de cada um de nós; é alimento capaz de satisfazer a fome do coração humano, desejoso de inteireza e autenticidade.
            A segunda tentação refere-se à dimensão religiosa do poder. O “pináculo”, para além da parte física mais alta do templo, representa os elevados cargos que um judeu poderia galgar na hierarquia religiosa. Esse caminho de poder, pela via religiosa, proporcionaria a Jesus prestígio e proteção muito especiais. A pessoa envolvida na “auréola” de uma espiritualidade legitimada pela ideologia do sistema religioso oficial, como era o caso do templo de Jerusalém, sente-se assegurada pela “blindagem” que seu status religioso proporciona. Jesus poderia apegar-se à sua condição divina e mostrar “sinais do céu”, como queriam os fariseus e saduceus. Poderia “forçar” a providência de Deus, solucionando magicamente os problemas humanos. A resposta de Jesus de não tentar o Senhor Deus informa-nos de que a lógica humana deve submeter-se à lógica divina e não o contrário. A vontade do Pai, de forma desconcertante, manifesta-se no caminho da obediência de seu Filho até a morte de cruz. Com isso, cai por terra toda a presunção de querer usar a Deus para a vanglória humana.
            A terceira tentação indica a dimensão política do poder. Equivale à tentação da idolatria por excelência: adoração a Satanás. É posicionar-se como um ser divino, com o poder de agir, de forma absoluta, sobre pessoas e bens. É a tentação de querer alcançar a felicidade suprema pela autoafirmação e pelo domínio sobre os outros. Jesus, com certeza, confrontou-se com essa possibilidade de orientar toda a sua vida no sentido de galgar cargos políticos que lhe conferissem força e fama social. As multidões queriam fazê-lo rei… O posicionamento de Jesus, ao rejeitar essa tentação, transforma-se no caminho de superação de todo domínio e também de todo servilismo. Coloca a Deus como o único Ser digno de adoração. Jesus propõe nova ordem social como realização da vontade do Pai e orienta toda a sua missão para a organização dessa nova ordem. Revela, assim, a verdadeira origem do reino de justiça, fraternidade e paz: é dom de Deus e serviço abnegado dos seus filhos e filhas.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
– Deus é criador e libertador. Em seu desígnio de amor, criou o ser humano em íntima união com a mãe terra. Em sua providência generosa, garante as condições de vida digna para todas as pessoas. Deu-nos a missão de cuidar de todas as coisas, sem cair na tentação de “comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal”, isto é, de entrar na ideologia do poder, que tende a dominar as pessoas e se apossar do que é de todos. É preciso respeitar e promover o princípio da soberania de Deus sobre todas as coisas e administrá-las com justiça, evitando toda espécie de exploração.
– Não cair em tentação. Durante toda a nossa vida, somos tentados a abdicar do compromisso com o projeto de Deus, deixando-nos levar por propostas diabólicas. Jesus nos ensinou o caminho de superação das tentações do poder em sua tríplice dimensão: econômica, política e religiosa. É claro que a economia, a política e a religião podem ser meios privilegiados para a construção do reino de justiça, paz e fraternidade no mundo, desde que sejam organizadas como serviço dedicado e honesto ao próximo, principalmente às pessoas mais necessitadas.
– Ser portadores da graça divina. Com sua obediência radical à vontade do Pai, Jesus nos trouxe a graça da libertação de todos os males e a vida em plenitude. Seguindo seus passos, podemos ser portadores da graça divina, defendendo e promovendo o direito à vida digna sem exclusão. A Campanha da Fraternidade nos aponta sugestões práticas.

Celso Loraschi

Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos, professor de evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos no Instituto Teológico de Santa Catarina (Itesc).
E-mail: loraschi@itesc.org.br
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Quaresma1401: As tentações continuam...

A Quaresma é um tempo sagrado para aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã.
E nós somos convidados pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que freqüentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.

As Leituras bíblicas nos ajudam nesse sentido...
A 1a Leitura apresenta a tentação de Adão e Eva: (Gen 2,7-9.3,1-7)
Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena.
No entanto o homem preferiu construir o "paraíso" a seu modo.
Rompendo com o projeto de Deus, "sentiu-se nu", despojado dos dons de Deus, incapaz de ser feliz.
A finalidade do autor sagrado não é uma descrição histórica ou científica, mas uma Catequese sobre a Origem do Mundo e da Vida.
- O Homem vem "da terra", no entanto recebe também o "sopro de Deus".
- Deus criou o homem para ser feliz, em comunhão com Deus e indica-lhe o caminho da imortalidade e da vida plena.
- A escolha errada do homem, desde o início da história, destrói a harmonia no mundo e é a Origem do Mal.
- "Jardim, plantas, água abundante": é o ideal de felicidade desejado por um povo que vive os rigores do deserto árido.
- "Árvore da vida": símbolo da imortalidade concedida ao homem.
- "Árvore do conhecimento do bem e do mal": representa a auto-suficiência de quem busca a própria felicidade longe de Deus.
- "Nus": Despojados da dignidade inicial (viver nu é a condição dos animais).
- "A Serpente": representa a Religião Cananéia, que cultuava a serpente.
   Por ela, os israelitas eram tentados a abandonar o caminho exigente da Lei.
   É símbolo de tudo o que afasta os homens de Deus e de suas propostas.

A 2ª Leitura nos propõe dois exemplos: Adão e Jesus. (Rm 5,12-19)
Adão representa o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decidir, por si só, os caminhos da salvação e da vida plena; Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus.
O esquema de Adão gera egoísmo, sofrimento e morte; o esquema de Jesus gera vida plena e definitiva.

O Evangelho fala das tentações de Jesus. (Mt 4,1-11)
Na sua quaresma no DESERTO, Jesus é tentado três vezes a abandonar o plano de Deus e procurar outros caminhos, mas Ele se recusa.
Esse relato não é uma reportagem histórica, mas uma Catequese, cujo objetivo é mostrar que também Jesus foi tentado, mas foi fiel à vontade do Pai.
Os 40 dias simbolizam os 40 anos passados por Israel no deserto.
Jesus revive a experiência da fome e da confiança do povo na Providência divina.
Mateus sintetiza em três tentações simbólicas todas aquelas provas, que Jesus enfrentou e venceu durante toda a sua vida:
 1) Tentação da Abundância (Riqueza):
Jesus é tentado a transformar as pedras em pães, como no tempo do Maná.
Jesus vence a prova, demonstrando a necessidade essencial de alimentar-se da Palavra de Deus: "Nem só de pão vive o homem..."
2) Tentação do Prestígio:     
Jesus poderia ter escolhido um caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espetaculares e sendo admirado e aclamado pelas multidões.
Jesus rejeita todo o desejo de prestígio e afirma:
 "Não tentarás o Senhor teu Deus".
Não força Deus para solucionar magicamente problemas humanos.
3) Tentação do Poder:
Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio.
No entanto, Jesus rejeita essa tentação, afirmando: "Só a Deus adorarás".
As três tentações aqui apresentadas são três faces de uma única tentação:
ignorar as propostas de Deus e escolher um caminho pessoal.
Jesus recusou a tentação do pão, da glória e do poder...
Para Ele, só uma coisa é verdadeiramente decisiva e fundamental: a comunhão com o Pai e o cumprimento obediente do seu projeto…
Na Palavra de Deus, encontra a força e a resposta para vencê-las...
 + As Tentações continuam ainda hoje...
Ainda hoje somos tentados a esquecer as propostas de Deus e seguir outros deuses.
A Quaresma é um tempo favorável para rever quais são os ídolos, que adoramos no lugar de Deus e que condicionam as nossas decisões e opções.
As tentações de ontem e de hoje, são fundamentalmente as mesmas:
- Tentação da Riqueza: de "ter mais": dinheiro, bens, conforto, comodidade...
  Até recusamos compromissos voluntários, pois podem prejudicar o conforto...
  achando que para ser feliz, basta ter muitos bens...
- Tentação do Prestígio, da fama: Adoramos ser elogiados, aparecer...
   Até exigimos de Deus sinais do seu amor:
   E se o milagre não acontece, a nossa fé vacila!...
- Tentação do Poder: procuramos o Poder a todo custo e o exercemos com prepotência... em todos os ambientes...  
+ As tentações continuam ainda...  Qual é a nossa atitude diante delas?

                                         Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa -09.03.2014

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2 de fevereiro – APRESENTAÇÃO DO SENHOR

GLÓRIA DE ISRAEL E LUZ DAS NAÇÕES

I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia de hoje é o ponto culminante do natal do Senhor, porque indica o modo como se deu a encarnação do Filho de Deus e a que ela se destina. Cristo assumiu todos os condicionamentos da humanidade, até mesmo se submeteu à lei de Moisés, pela qual era regido o povo ao qual pertenceu. Além do contexto histórico, geográfico e econômico, o evangelho mostra que a vida terrestre do “Filho do Altíssimo” (Lc 1,32) estava inserida em um contexto cultural e religioso particular. Também o destaque dado ao tipo de sacrifício realizado por sua família (Lv 5,6-7; 12,6) manifesta que ele não somente assumiu nossa humanidade, mas se fez pobre entre os pobres.
A festa da Apresentação do Senhor é bem antiga, e já houve tempo em que era celebrada em 14 de fevereiro, quarenta dias após a festa da Epifania (manifestação aos magos). Também já foi considerada como festa mariana, com o nome de “Purificação da Bem-aventurada Virgem Maria”. Mas, a partir das recentes reformas litúrgicas, o nome da festa foi mudado para “Apresentação do Senhor” e ela passou a ser celebrada quarenta dias depois do Natal. O novo título e data da celebração são uma indicação mais correta da natureza e do objeto dessa festa, visto que nesse dia a Igreja celebra um aspecto importante do mistério salvífico, e não simplesmente um acontecimento da infância de Jesus.
 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 2,22-40): Consagrado ao Senhor
Os primeiros versículos (22-24) do evangelho proclamado na liturgia de hoje tratam especificamente da manifestação (epifania) do messiado de Jesus a partir do cumprimento dos ritos de iniciação na religião da sua família, o judaísmo. Jesus e Maria, recém-nascido e parturiente, submeteram-se a tudo que a lei de Moisés indicava a respeito do nascimento de um menino primogênito (Lv 12,1-8; Ex 13,2.12-13).
Pela circuncisão (Lc 2,21), Jesus tinha sido oficialmente marcado como membro de Israel, ingressando na aliança feita com os patriarcas e com os descendentes deles desde Abraão até os escravos libertos do Egito. No momento da circuncisão, de acordo com a lei dada por Deus a Moisés, foi imposto o nome do menino: ele foi chamado Jesus, conforme o anjo havia orientado. Naquela cultura, o nome designava a identidade e a missão da pessoa. Jesus quer dizer “Deus salva”. Isso significa que Deus nunca desistiu de salvar o mundo por meio de Israel e que cumpriu essa promessa mediante um israelita fiel, Jesus de Nazaré. Ao se tornar oficialmente membro do povo da aliança, Jesus realizou em sua vida, morte e ressurreição a vocação que Abraão e seus descendentes haviam recebido.
Pelo rito de iniciação à religião judaica, ou seja, de pertença à antiga aliança, Jesus não somente deveria ser circuncidado, mas também resgatado. O primeiro rito remetia aos patriarcas e o segundo, à libertação do Egito. O ritual do resgate estava vinculado à Páscoa, quando os primogênitos dos hebreus tiveram a vida poupada e se tornaram consagrados a Deus (Ex 13,11-15; Nm 18,15-16). O resgate significava que o primogênito era trocado por uma quantia em dinheiro e, a partir de então, podia deixar o santuário e voltar ao convívio familiar.
Propositalmente, Lucas não menciona o resgate de Jesus, que, à semelhança dos levitas (Nm 3,45), continuará sempre pertencendo a Deus. Em vez do resgate do primogênito, Lucas narra a apresentação de Jesus, evocando a entrada do Senhor no santuário para realizar uma grande purificação (Ml 3,1-4). Ao dizer que o menino foi purificado, o evangelho está afirmando que Israel inteiro foi igualmente purificado por meio dele.
Aqui cabe um esclarecimento sobre o significado de purificação. Esse termo nem sempre denota algo negativo; nesse trecho do evangelho, a impureza não é moral, mas ritual (Lv 12,2-4) e significa apenas que, após aqueles ritos, as pessoas eram reinseridas na esfera da vida comunitária, de forma análoga a uma âmbula que, após ser purificada, deixa o sacrário e pode ser mantida junto com outros objetos.
A segunda parte do evangelho de hoje (vv. 25-40) fala sobre o reconhecimento do Cristo pelos representantes dos piedosos que esperavam a vinda do Messias, ou seja, a consolação de Israel, a qual, conforme Is 40,1, é sinônimo da salvação que vem de Deus. Os “pobres de Javé” reconhecem o Messias libertador naquele frágil recém-nascido.
Primeiramente, aparece Simeão. Seu hino de louvor é também um discurso de despedida, como acontece no livro do Deuteronômio, que fecha o Pentateuco (Torah) com longa despedida de Moisés. O velho Simeão reconhece que a esperança de Israel converge para aquele menino, o qual realizará a libertação de Jerusalém, a cidade santa, que no Antigo Testamento representa todos os escolhidos de Deus. Além disso, o menino é uma luz que parte de Israel para as nações pagãs e será um sinal de contradição, pois diante dele todos terão de tomar uma decisão. Nesse sentido, ele será soerguimento para alguns e queda para outros, pois diante dele se revelarão as intenções dos corações.
Em seguida, Ana é mencionada. O nome dela significa “graça”, “favor”. Ao fazer referência à família de Ana como pertencente ao clã de Fanuel, Lucas alude a uma experiência mística do patriarca Jacó e a todos aqueles que sempre desejaram ver Deus face a face (Gn 32,30). Também a menção à tribo de Ana é algo bastante significativo, porque, no antigo Israel, a tribo de Aser ficava ao norte (Js 17,10); isso mostra que Ana era uma profetisa da Galileia e, portanto, seria considerada pelos legalistas de Jerusalém como suspeita de heresia. No entanto, é ela, e não os líderes religiosos da época, quem reconhece Jesus como Messias.
 2. I leitura (Ml 3,1-4): Para purificar o seu povo
O dia do SENHOR, mencionado várias vezes no Antigo Testamento, geralmente é considerado como uma visitação ou vinda; como uma intervenção divina quase sempre iminente. O texto do profeta Malaquias afirma que o SENHOR virá ao templo de Jerusalém como um fogo purificador.
A imagem do fogo não tem por objetivo causar medo, mas é simplesmente uma metáfora tirada da vida cotidiana. Alguns aspectos do processo de refinação de metais são simbolicamente empregados várias vezes pela Escritura para discorrer sobre a purificação do pecado e como prova de fidelidade a Deus.
A prata era obtida pelo processo de fusão. Sob alta temperatura, as substâncias agregadas à superfície do metal se transformavam em pó, o qual era repelido por uma rajada de ar. Nas diversas referências bíblicas, a refinação do metal é usada simbolicamente para ilustrar o tipo de provação à qual os seres humanos são submetidos. Em momentos difíceis da história é que se pode constatar quem de fato é ou não fiel a Deus. Aqueles que permanecem fiéis, firmes na fé, experimentarão a libertação definitiva, mesmo que eventualmente suportem algumas circunstâncias difíceis.
 3. II leitura (Hb 2,14-18): Em solidariedade com cada ser humano
O tema central da carta aos Hebreus é o sumo sacerdócio de Cristo (8,1). Sacerdote significa mediador, ou seja, alguém por meio do qual se efetiva a relação entre Deus e a humanidade, entre Criador e criatura. A mediação realizada por Jesus Cristo somente é possível porque ele é totalmente divino e totalmente humano, ou seja, faz parte da esfera do Criador (é Filho) e da criatura (é homem).
Na relação de Cristo com Deus, temos o aspecto da autoridade, pois foi glorificado à direita do Pai. Já na relação com a humanidade, temos o da misericórdia, visto que, por experiência própria, participou de nossa fraqueza, sendo em tudo semelhante a nós, exceto no pecado (Hb 4,15).
Cristo é sumo sacerdote tanto por sua intimidade com o Pai quanto por sua solidariedade com a humanidade. Ambas as relações foram levadas ao extremo. A credibilidade e a solidariedade de Cristo fazem dele o fundamento da nossa fé. O ser humano pode lançar toda a sua existência sobre esse fundamento, por duas razões: porque Cristo é o Filho de Deus constituído em dignidade; porque amou a humanidade a ponto de morrer na cruz para libertá-la do poder da morte e associá-la à oferta de sua própria vida ao Pai.
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Cristo é semelhante a nós e tornou-se solidário conosco, participando de nossas fraquezas, exceto do pecado; da mesma forma, estamos unidos a ele, sendo associados à sua oferta ao Pai. A apresentação/consagração do menino Jesus no templo é também a nossa consagração a Deus, por causa da nossa união com o Filho humanado.
A morte significa separação. Mas, como estamos unidos a Cristo e ele está junto do Pai, nada poderá nos separar de Deus; portanto, estamos livres do poder da morte.
Por tudo que foi mostrado pelas leituras de hoje, o presidente da celebração deve enfatizar a centralidade do mistério da salvação, evitando separar a infância de Jesus do restante de sua vida, principalmente do momento da cruz, ressurreição e ascensão.
Para enfocar a totalidade do mistério salvífico, pode haver, durante a celebração, o acendimento de velas no círio pascal ou uma procissão com velas, destacando a unidade entre a Apresentação de Jesus e a Páscoa, quando de fato o Cristo se tornou “luz para as nações”.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.


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C1404apr Apresentação do Senhor

Há aproximadamente 40 dias do Natal, a Liturgia de hoje nos convida a celebrar um acontecimento da vida do menino Jesus: a Apresentação ao Senhor
(Antigamente a purificação de Nossa Senhora).

Na Bíblia, o número 40 é um número sagrado...
(Dilúvio, Moisés, Elias, deserto de Jesus).

A Lei mosaica prescrevia que todo filho primogênito do sexo masculino, 40 dias depois do seu nascimento, devia ser levado ao templo, para ser oferecido a Deus. E a mãe devia nesse dia apresentar-se para receber a purificação legal, conforme a mentalidade da época…

Na 1ª Leitura, Malaquias apresenta o mensageiro da Aliança, que entra no templo para estabelecer um pacto renovador e oferecer a oferenda devida. (Ml 3,1-4)

A 2ª Leitura afirma que Jesus é o Pontífice, que tem estende sua mão salvífica aos homens e expia com sua morte seus pecados. (Hb 2,14-18)

No Evangelho Jesus entra pela primeira vez no templo para ser apresentado a Deus. (Lc 2,22-40)

O texto salienta 4 aspectos que vamos aprofundar:

+ Os pais Maria e José, com o filho Jesus, vão ao templo de Jerusalém
para cumprir a dupla prescrição da lei mosaica: apresentação do menino e a purificação da mãe aos 40 dias depois do parto.
Assim Jesus desde os primeiros dias de sua vida cumpre a vontade do Pai.

* Esse episódio tem um ensinamento muito importante para nós e nossas família os pais, geralmente, se preocupam em proporcionar educação, instrução, trabalho e boa posição social para os seus filhos, mas isso não é suficiente.
Devem consagrar seus filhos ao Senhor desde o início de suas vidas. Devem educá-los para uma vida cristã fiel e coerente com tudo aquilo que está escrito no evangelho.
Muitos pais se satisfazem em mandar os filhos à igreja ou à catequese.
Essa imposição externa não basta se não for sustentada por uma convicção mais profunda. Educar na fé é muito mais que ensinar práticas religiosas.

Sabemos que as crianças aprendem muito mais com os olhos do que com os ouvidos.
A vida cristã dos pais é o melhor método de ensinar catequese aos filhos.
- Se os pais rezam em casa, os filhos aprendem a rezar com eles;
- Se os pais lêem a Bíblia, os filhos aprendem a procurar a luz de sua vida na Palavra de Deus;
- Se os pais participam fielmente na comunidade cristã, os filhos seguem-nos e tornam-se cristãos empenhados.
- Se os pais praticam o amor, o perdão, a generosidade para com os irmãos, os filhos imitam.
É assim que os pais cristãos da atualidade são chamados a "consagrar" seus filhos ao Senhor.

+ Simeão toma o menino nos braços e o oferece a todos os homens...
Num mundo em que o número dos idosos aumenta (...) , Simeão nos é apresentado como um idoso exemplar:
"Justo e piedoso", que compreendeu o sentido de sua existência.
Seus dias estão chegando ao fim, mas está feliz e pede ao Senhor que o acolha na sua paz.
Não chora os anos da juventude, não vive se queixando da vida; conversa com Deus e olha para frente.

* Os nossos idosos comunicam aos jovens a mesma alegria, o mesmo otimismo, a mesma esperança num futuro melhor?
   Cultivam o mesmo diálogo constante com Deus?

+ A Profetisa Ana: outra pessoa idosa, de 84 anos...
Ela não se afasta do templo do Senhor.
Não anda à procura de amantes, não tem tempo para perder, não vai de casa em casa para conversas inúteis, para falar mal dos outros.
Ela sabe que os dias de sua vida são preciosos e devem ser vividos na intimidade com o Senhor e a serviço da comunidade.
Apesar de seus 84 anos, com renovado ardor missionário, ela fala do menino a todas as pessoas com quem se encontra...

* As pessoas idosas não se sentem inúteis quando vivem na expectativa da vinda do Senhor, a serviço dos irmãos e falando de Jesus a todos aqueles que estão à procura de sentido para própria vida.

+ A Família voltou a Nazaré: "E o menino crescia em idade, sabedoria e graça...diante de Deus e dos homens..."

* Oxalá a Família de Nazaré possa ser um modelo para todas as famílias... onde os filhos encontram um apoio para realmente crescer, em idade, em sabedoria, em graça, diante de Deus e dos homens...E assim ser aquela família que Deus quer...

+ "Luz das Nações"
 A profecia de Simeão transformou hoje uma grande festa da Luz:
 Daí a bênção das velas… as procissões… e o compromisso de ser no mundo de hoje um reflexo da luz de Cristo, para que ninguém caminhe nas trevas…
                                                                     AGeDaC - 02.02.2014
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1º de janeiro – SANTA MARIA, MÃE DE DEUS
“NASCIDO DE MULHER” PARA NOS TORNAR FILHOS DE DEUS
I. INTRODUÇÃO GERAL
“Deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo” (Lc 2,21). Essa afirmação do Evangelho de Lucas harmoniza-se com a primeira leitura: “assim invocarão o meu nome… e eu os abençoarei” (Nm 6,27). Essa bênção, reservada outrora ao povo de Israel, estende-se agora a todos os povos por intermédio de Jesus, o Filho de Deus “nascido de mulher” (Gl 4,4). Em Jesus, a face de Deus (Nm 6,25-26) está voltada para o ser humano. Porque é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Jesus viveu integralmente a humanidade e a elevou à mais alta dignidade de filiação divina. Por sua encarnação, participou em tudo da condição humana, para que o ser humano participasse em tudo da condição divina por sua ressurreição.
 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 2,16-21): Foi-lhe dado o nome de Jesus
As promessas de Deus haviam sido feitas a pastores, tais como Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Davi e outros. Por isso os anjos anunciam o cumprimento dessas promessas aos pastores, nos arredores de Belém. O evangelho destaca o sinal da salvação: o recém-nascido está na manjedoura, lugar onde é posto o alimento. Jesus, desde o início, vem ao mundo como alimento, e o lugar do reconhecimento do Salvador dá-se na eucaristia, fonte e ápice da vida cristã.
Com a circuncisão, Jesus é inserido na comunidade judaica e na primeira aliança. Isso significa que Jesus não é um mito, mas participa em tudo da realidade histórica, é alguém inserido no mundo e sujeito às suas leis.
“Deram-lhe o nome de JESUS, como lhe chamara o anjo” (v. 21). É o próprio Deus, e não os seres humanos, quem dá o nome Jesus (Salvador), e com isso o evangelho assegura que todas as promessas feitas a Israel agora foram realizadas, o tempo da espera pelo Messias terminou.
 2. I leitura (Nm 6,22-27): “Porão o meu nome sobre os filhos de Israel”
O livro dos Números certifica aos sacerdotes levitas que, ao pronunciarem essa bênção, o nome de Deus estará sobre os filhos de Israel (6,27). Era nessa ocasião que os sacerdotes tinham a permissão de pronunciar o nome de Deus dentro do templo de Jerusalém. Com a destruição do templo, o nome de Deus deixou de ser pronunciado e foi substituído pelo termo “Senhor”.
“O SENHOR te abençoe e te guarde” (v. 24). “Abençoar”, na cultura de Israel, inclui almejar todo tipo de coisas boas, sejam materiais, sentimentais, sociais, espirituais. “Guardar” se refere à proteção de Deus. “Fazer resplandecer a face” (v. 25) significa lançar um olhar favorável. “Mostrar a face” (v. 26) quer dizer fixar a atenção em alguém com um propósito benevolente, em contraste com a angústia experimentada quando Deus esconde o rosto.
O último pedido, para que Deus conceda a paz (shalom), é o mais importante de todos. Em hebraico, shalom significa muito mais que a ausência de conflitos, mas inclui todo tipo de bem-estar, entre os quais a salvação.
Então, a bênção de Nm 6,22-27 nos apresenta Deus como um Pai bondoso que deseja dar tudo o que é bom ao ser humano, também a salvação, que é seu próprio Filho, Jesus.
 3. II leitura (Gl 4,4-7): O Espírito clama em nós: Abba, Pai!
Paulo utiliza uma alegoria para falar sobre nossa participação na filiação divina. Na Antiguidade, ainda que potencialmente um menino fosse o herdeiro da família, não poderia exercer a plena liberdade e autonomia de um adulto enquanto não adquirisse a idade previamente estabelecida pelo pai.
Em se tratando de um órfão, era comum o recurso a um curador (v. 2) ou tutor que representasse legalmente o menor até que este alcançasse a maioridade. Durante o período da menoridade, o herdeiro não usufruía totalmente da herança.
Na alegoria de Paulo, algo semelhante se verificou com a humanidade antes da encarnação, morte e ressurreição de Jesus. Quando se completou o tempo previamente estabelecido pelo Pai, o Filho de Deus nasceu de uma mulher (tornou-se humano) para elevar a humanidade inteira à maioridade e pleno usufruto da herança eterna que é a filiação divina.
Jesus nasceu submisso à lei para redimir os que estavam sob a lei da menoridade e assim elevá-los a uma relação superior, a adoção de filhos com plenos direitos de cidadania no Reino de Deus.
Paulo afirma que o Espírito foi enviado após o Cristo. Isso significa que a Trindade está envolvida na realização da filiação divina do ser humano. É pelo Espírito do Ressuscitado que o cristão clama Abba. No idioma aramaico, a palavra Abba significa “Pai”. Jesus usava esse termo quando se referia a Deus, e agora também nós o podemos usar porque, pelo Espírito de Cristo, somos herdeiros de todas as bênçãos recapituladas na salvação integral do ser humano.
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO
A homilia deve ter um viés cristológico e soteriológico, ou seja, a ênfase deve estar no mistério da encarnação em vista da salvação do ser humano. Uma homilia exageradamente devocional a Maria tira a liturgia de seu eixo principal. O objetivo do Filho de Deus ao tornar-se humano foi nos tornar filhos de Deus. Maria colabora nesse mistério da salvação como modelo do perfeito discípulo que penetra o mistério de maneira mais íntima, associando-se a seu Filho, servindo-o no mistério da redenção (LG 56). A filiação divina resulta na exigência de que se viva o cotidiano de acordo com a vontade do Pai, a exemplo de Maria, que obedecia a Deus mesmo quando não compreendia totalmente a vontade dele.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.
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29 de dezembro – SAGRADA FAMÍLIA, JESUS, MARIA E JOSÉ
FELIZ QUEM AMA O SENHOR E ANDA EM SEUS CAMINHOS!
I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia de hoje põe em relevo o fato de que o Filho inseriu-se na humanidade, numa família, ele não é um mito. Ele fez o mesmo caminho de cada ser humano, pertenceu a um lar, a uma pátria e a uma cultura. Os percalços vividos pela família de Jesus não são muito diferentes dos que são experimentados por muitas pessoas ainda hoje. A família é a base dos valores, as atitudes de José e de Maria se tornam modelo de vida para os pais e mães hoje, animando-os a percorrer sua trajetória em atenção à vontade de Deus. Os demais textos são um desdobramento do quarto mandamento da Lei de Deus.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 2,13-15.19-23): Quem ama o Senhor lhe obedece
O evangelho de hoje narra a fuga de José, Maria e o menino Jesus para o Egito. Revela-nos a importância da obediência e da colaboração humana para que se realizem os desígnios de Deus para a salvação humana. Em Jesus, a figura do povo de Israel é recapitulada e levada à plenitude. O que acontece a ele refere-se ao seu povo.
O Egito, em muitos textos bíblicos, é visto de forma negativa por remeter às nações que oprimiram Israel. No entanto, durante séculos o Egito havia sido um lugar de refúgio para os judeus que fugiam de risco de morte (cf. 1Rs 11,40; Jr 43,7). Daí se entende o porquê da fuga da sagrada família para lá.
Existe uma relação notável entre a ida e a saída do Egito da parte de Israel e da parte de Jesus. Quando Mateus cita de Oseias 11,1 a frase “Do Egito chamei o meu filho”, o faz indicando a nação de Israel que era conhecida como “filho de Deus” (cf. Ex 4,22; Jr 31,9). O texto refere-se a Israel, agora representado por Jesus que repete o êxodo. A vida de Jesus é a vida do povo, portanto Jesus realiza a vocação de Israel ao repetir-lhes os passos: Israel desceu ao Egito para evitar a ameaça da fome, e Jesus foi levado por seus pais para evitar a ameaça de Herodes. O Egito foi refúgio provisório para Israel e o foi também para Jesus; Moisés fugiu do Egito para escapar da ira do faraó e regressou só quando morreu esse faraó que o conhecia (Ex 4,19). Jesus fugiu da Palestina e regressou depois da morte do rei que tinha ameaçado sua vida.
Em ambos os casos, Deus deu ordens para sair do Egito e para voltar à terra prometida. Israel desceu ao Egito quando era uma nação muito jovem, e Jesus desceu quando era um menino. Deus escolheu Moisés para libertar Israel da escravidão do Egito e assim salvar o povo, levando-o à terra prometida. Da mesma forma, aconteceu com Jesus, Deus o chamou do Egito para salvar os homens de seus pecados e conduzi-los ao reino de Deus.
Em todos esses passos, Deus guiou Israel e a família de Jesus pelos caminhos que o próprio Deus escolheu. Tanto os hebreus, no tempo de Moisés, quanto a família de Jesus permitiram que Deus os conduzisse pelo caminho. É um testemunho concreto de que a salvação se torna eficaz na medida de quem colabora com a ação de Deus mediante a obediência aos seus desígnios.
2. I Leitura (Eclo 3,3-7.14-17a): Quem ama o Senhor honra pai e mãe
A fidelidade para com o Deus da aliança exige o amor ao próximo. Isso implica numerosas exigências éticas. Entre elas, o livro do Eclesiástico dá referência ao amor que deve ser dispensado ao pai e à mãe.
O texto que foi proclamado hoje é um comentário ao mandamento de Ex 20,12. Não há desculpa alguma para o não cumprimento dessa norma. Na época em que o livro do Eclesiástico foi escrito, as motivações para se seguir uma norma se davam através de um elenco de recompensas e de castigos decorrentes do cumprimento ou não do mandamento. Por isso, o texto exorta que Deus não atenderá as orações de quem não cuidar dos próprios pais. Da mesma forma, enumera as vantagens para aqueles que dão especial atenção ao pai e à mãe.
A recompensa para quem honrasse pai e mãe seria uma vida longa e próspera, porque naquela época as pessoas ainda não tinham clareza sobre a ressurreição dos mortos, portanto, a longevidade e a prosperidade eram o que de melhor poderia acontecer com uma pessoa.
Para o cristão, esse elenco de bênçãos e castigos não é necessário. Cristo nos deu o exemplo quando decidiu nascer numa família, e nós nos sentimos motivados pela ação do Espírito Santo a configurar nossa vida à vida de Cristo.
3. II Leitura (Cl 3,12-21): O amor é o vínculo da perfeição
O texto da segunda leitura faz uma descrição da vida na comunidade cristã dos primórdios.
O emprego dos termos “eleito, santo, amado”, que antigamente se referiam a Israel, sublinha o fato de que os cristãos estavam conscientes de formar uma nova comunidade como povo de Deus, e isso devia se refletir em suas mútuas relações.
Segue-se uma lista de virtudes que destacam a transformação interna necessária para se adquirir um novo comportamento, uma vida nova configurada à de Cristo, com humildade, mansidão, paciência etc.
A expressão “uns aos outros”, repetida duas vezes (v. 13.16), sublinha que as responsabilidades são mútuas. A obediência ao Senhor será demonstrada através do modo como as responsabilidades comunitárias e familiares são assumidas por todos como testemunho para o mundo. O elenco das regras familiares acentua muito mais as responsabilidades que os direitos de cada um. Isso é um testemunho para nossa época, na qual as pessoas geralmente colocam a exigência dos direitos em primeiro lugar, seja no ambiente eclesial ou familiar.
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O presidente da celebração deverá destacar alguns problemas da família na atualidade sem, contudo, cair no sermão moralista e ofensivo. Não se trata de mencionar assuntos polêmicos, mas de orientar as famílias nas luzes do Espírito Santo. Destacar que Jesus está empenhado em resgatar o valor da família, pois ele mesmo quis pertencer a uma.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.
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Natal1302: Com Jesus, Maria e José
 Ainda no clima do Natal, a Igreja celebra a FAMÍLIA SAGRADA de Nazaré.
Queremos também louvar e agradecer a Deus por todas as famílias que são sagradas, pois geram e cuidam da vida.
 As leituras bíblicas fornecem indicações práticas para nos ajudar a construir famílias felizes, que sejam espaços de encontro, de partilha, de fraternidade, de amor verdadeiro.
A 1ª Leitura desenvolve e explica o 4o Mandamento.
Apresenta indicações práticas dos filhos para com os pais.
Essa observância é desejada e abençoada por Deus. (Sr 5,2-6.12-14)
 A 2ª Leitura mostra o espírito que deve reinar numa família:
  "Revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, mansidão e paciência,
   suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente..."  (Cl 3,12-21)
E aplica isso às Esposas... aos Maridos... aos Filhos... e aos Pais...
 O Evangelho nos apresenta a FAMÍLIA SAGRADA, em três momentos da Infância de Jesus:
Belém... Egito... Nazaré... (Mt 2,13-15.19-23) Nessas migrações, JESUS é conduzido por Deus e protegido por seus pais...
 + A FAMÍLIA DE NAZARÉ:
   É uma família como qualquer família de ontem, de hoje ou de amanhã, que se defronta com crises, dificuldades e contrariedade, no entanto...
 - É uma família é unida e solidária.
  Nela existe verdadeiro Amor e solidariedade.
  Não hesita  enfrentar os perigos do  deserto e o desconforto do exílio, quando um de seus membros corre riscos.
  Os problemas de um são problemas de todos.
 - É uma família onde se escuta a Palavra de Deus
  e onde se aprende a ler os sinais de Deus.
  Nessa escuta, consegue soluções para vencer as contrariedades e descobrir caminhos a percorrer, para assegurar a vida e o futuro a seus membros.
   José aparece como o homem "justo", atento às indicações de Deus, que sabe discernir e acolher a vontade de Deus, que tudo sacrifica em defesa da vida daquele menino, que Deus lhe confiou.
- É uma família que obedece a Deus
  Diante das indicações de Deus, não discute nem argumenta.
  No cumprimento obediente aos projetos de Deus, esta família assegura um futuro de vida, de tranqüilidade e de paz.
+ A Sagrada Família, modelo da família cristã?
Costuma-se dizer que a Sagrada Família é modelo da família cristã, não tanto em seu contexto sociocultural e histórico, tão distante do nosso, mas quanto em seus valores fundamentais, especialmente o Amor, que lhe deram coesão, significado e missão de salvação nos planos de Deus.
+ A Família é uma instituição em mudança ou já superada?
A família é a célula base da Igreja e da sociedade, mas está passando por uma transformação profunda...
É uma instituição divina, por isso permanente...
Mas o modo de viver em família pode mudar através dos tempos.
 - Na Família do Passado, primava a relação vertical:
  uma instituição fechada, de cunho patriarcal.
  O Pai detinha a autoridade e era responsável pela parte econômica;
  A Mãe atendia aos afazeres domésticos e cuidava dos filhos (numerosos);
  Os filhos submetidos à autoridade paterna.
  = Dava-se muito valor à AUTORIDADE...
 - Na Família Atual, primam as relações horizontais dentro da família.
  Dá-se preferência ao DIÁLOGO, à co-responsabilidade, à igualdade, ao companheirismo e à amizade entre marido e esposa, entre pais e filhos.
  = Contudo a família sofre hoje muitas influências negativas e muitos fatores de desagregação...
 + Quais os valores básicos e permanentes na família?
 - Comunhão inter-pessoal de Amor e de Vida...
  O Amor fiel, único, exclusivo, totalizante e para sempre...
  Os Filhos não são vistos como propriedade ou bens adquiridos para o egoísmo possessivo de seus pais, mas como vida e prolongamento vital de um amor pessoal, que educa e orienta para a liberdade responsável.
  "A família é a fonte da vida e o berço da fé." (João Paulo II)
 - Comunidade aberta aos valores do mundo de hoje:
  A solidariedade, a responsabilidade, a fraternidade, e o compromisso com os direitos humanos...
 - Igreja doméstica: Só assim a família cristã testemunhará a fé, a esperança e   a caridade.
  Uma igreja doméstica que contribui para a santificação do mundo, a partir de dentro, à maneira de fermento.
  E a Nossa família, como vai?
 (À moda antiga ou atual?)
  Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 29.12.2013
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25 de dezembro – NATAL DO SENHOR – MISSA DO DIA
O VERBO SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS
I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia de hoje realça não apenas o nascimento de Jesus, mas sua origem divina. Aquele que estava presente na criação do mundo veio até nós para nos tornar filhos de Deus. Essa vinda já tinha sido anunciada pelos servos de Deus durante a primeira aliança. Agora, por meio do Verbo eterno feito existência humana, Deus nos fala definitivamente e efetiva sua presença soberana na humanidade. Jesus não é apenas mais um mensageiro de boas notícias, ele mesmo é o evangelho de Deus, ele é a salvação prometida.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Jo 1,1-18): A luz resplandeceu nas trevas
João está descrevendo um novo começo. Se o livro do Gênesis registra a primeira criação, este primeiro versículo do Evangelho de João descreve a nova criação. Em ambas as ocasiões, o agente da obra criadora é o mesmo Verbo (ou Palavra) de Deus. “Palavra” e “luz” são duas formas de falar da mesma realidade, a saber, que Deus entrou na história humana para reconduzi-la à plenitude.
A Palavra (ou o Verbo) se fez carne (v. 14). Na mentalidade hebraica a palavra é o meio através do qual alguém se revela ou expressa seus pensamentos e vontade. No Antigo Testamento o termo “carne” certamente não tem conotação pejorativa, não é a antítese de Deus; porém, representa tudo o que é transitório, mortal e imperfeito e, à primeira vista, incompatível com Deus (cf. Is 40,6-8). Dessa forma, a Palavra de Deus se opõe à carne.
Conforme o evangelista João, a melhor forma pela qual Deus se expressou foi na existência humana de Jesus. Nele, o que Deus é e o que ele espera da humanidade foram revelados. Jesus é o Verbo, o ser de Deus narrado em uma vida humana.
Em vez de uma força impessoal, ou um princípio abstrato e distante da situação humana, João utiliza o termo “Verbo” em um sentido muito pessoal, de um Deus que ama, se compadece e se identifica com os seres humanos, tomando sobre si sua natureza, e sofrendo uma morte vergonhosa com o fim de prover um meio para a reconciliação do homem com seu Criador.
A luz veio ao mundo (v. 9). O Antigo Testamento se refere a Deus como a fonte da luz e da vida em várias passagens. O salmista indica que Deus é a fonte da vida e da luz (Sl 36,9). João, seguindo o conceito do salmista, afirma que o Verbo é a vida e a luz dos homens.
O termo “mundo” nesse texto significa o mundo dos homens e seus assuntos, o qual, concretamente, está submetido ao pecado e às trevas. A função da luz é basicamente combater ou vencer a obscuridade. “Trevas” é um termo metafórico que, no quarto evangelho se refere a tudo o que se opõe à mensagem de Jesus, é a obscuridade moral e espiritual. Por isso, o tema da primeira parte do quarto evangelho é a fé e seu contrário, a incredulidade (como resultado da influência das trevas).
A totalidade da missão de Jesus foi uma espécie de conflito entre a luz e as trevas, culminando no Getsêmani e na cruz. Por isso, o verbo “vencer” cabe bem neste contexto. A luz brilha nas trevas e as trevas não tinham o poder para detê-la (v.5), muito menos para vencê-la.
2. I Leitura (Is 52,7-10): A verdadeira luz veio ao mundo
O profeta elogia a atividade de alguém que traz uma mensagem de salvação, o mensageiro vem correndo e gritando enquanto atravessa os picos das montanhas: “teu Deus reina!”.
As sentinelas que estão de guarda nas muralhas de Jerusalém começam a vislumbrar o mensageiro. Ele se antecipa à caravana dos exilados que voltam à terra natal. Metaforicamente Deus é descrito como um rei vencedor com seu exército voltando da guerra para a terra da promessa. O grito do mensageiro alerta para o fato de que Deus saiu vitorioso.
As sentinelas em uníssono repetem o grito do mensageiro e exortam às ruínas da cidade para unirem-se ao coro com gritos de júbilo porque o Senhor resgatou o seu povo que estava sob o poder do dominador estrangeiro. Aos poucos, a notícia da restauração de Sião (Jerusalém) vai se espalhando pelo reino inteiro e por todas as nações.
3. II Leitura (Hb 1,1-6): O resplendor da glória de Deus
Fundamental para a Carta aos Hebreus é o fato de que Deus se revelou constantemente ao longo da história, dando-se a conhecer, para que o ser humano o amasse. Mas agora, por meio de seu Filho, Deus fez sua revelação final, definitiva e superior a tudo que foi revelado anteriormente.
Os primeiros versículos mencionam alguns contrastes entre o que foi revelado no passado e o que está sendo mostrado agora através do Filho. Primeiramente, aquelas revelações eram parciais, “em muitos fragmentos”, literalmente falando. A revelação efetivada pelo Filho é completa.
Também há uma oposição entre o outrora e o hoje, ou seja, aquilo que é revelado pelo Filho será sempre atual, nunca estará ultrapassado, jamais dará lugar a nenhuma outra revelação, porque não há um mensageiro superior ao Filho, o qual é a “expressão do ser” do Pai. Com essa afirmação, Hebreus enfatiza a correspondência exata entre a natureza do Filho e do Pai, porque o termo grego ali empregado significa algo semelhante a um carimbo que deixa impresso no papel a figura que traz em alto relevo.
As revelações nos tempos antigos vieram de muitas maneiras, a atual veio de um único modo, por meio de Jesus Cristo. Aquelas foram muitas, a última é única.
Com o vocábulo “profetas” o autor de Hebreus se refere a todas as pessoas da antiga aliança que transmitiram às gerações seguintes a fé de Israel. Nenhuma dessas pessoas realizou a obra de Jesus Cristo, a saber, possibilitar nosso acesso à presença de Deus. Ao oferecer sua própria vida a Deus, Jesus realizou a purificação dos pecados de toda a humanidade, tornando possível nossa aproximação ao trono da graça.
A inclusão da obra de redenção na descrição de Cristo como agente de Deus na criação e na revelação definitiva indica a unidade básica entre esses dois eventos. Aquele que estava presente na criação é o mesmo a nos purificar dos pecados no momento da ascensão, quando penetra o santo dos santos no céu.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O Natal e a Páscoa são as duas grandes solenidades do calendário litúrgico. Uma remete à outra. Não se pode falar do Natal sem mencionar a Páscoa, pois na cruz a encarnação de Jesus aparece de forma mais concreta. A “prova” de que Jesus encarnou-se é sua morte. E uma morte infligida por aquilo que ele viveu.
Isso nos remete a uma nova reflexão sobre o seu nascimento. Jesus veio ao mundo para plenificar a criação de Deus. Para resgatar o ser humano do poder das trevas e reconduzi-los à luz, mediante uma vida nova, ressuscitada. A Páscoa é a celebração dessa vitória da luz sobre as trevas. Por isso, já no Natal celebramos a ressurreição.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.
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22 de dezembro – 4º DOMINGO DO ADVENTO
EM JESUS DEUS REALIZA SUAS PROMESSAS
I. INTRODUÇÃO GERAL
As leituras de hoje estão todas orientadas para o nascimento de Jesus, o Filho de Deus, e para seu papel fundamental na história da salvação que é o poder de ressuscitar os seres humanos, dando-lhes a vida plena.
Além de ser Filho de Deus, Jesus também é verdadeiramente humano, descendente de Davi e em continuidade com os grandes vultos do Antigo Testamento. A fragilidade com que entrou neste mundo foi protegida pela docilidade de José e de Maria, justos e herdeiros das promessas feitas ao povo de Israel.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 1,18-24): Deus conosco, Emanuel
Mateus descreve o processo do nascimento de Jesus Cristo com ênfase em sua origem divina. Ao empregar a palavra “gênesis”, termo grego que aqui se traduz por nascimento (1,18), o evangelista se refere ao começo de algo radicalmente novo, nunca acontecido antes na história.
Em seu relato do nascimento de Jesus, Mateus estabelece dois fatos de suma importância: “nasceu da virgem Maria” e “foi concebido pelo poder do Espírito Santo”. Tudo isso em cumprimento da profecia das Escrituras (1,22).
A origem divina se estabelece principalmente por duas expressões: concebido do Espírito Santo (1,18. 20b) e Emanuel (1,23). A primeira expressão fala da intervenção e participação direta de Deus na concepção. É uma intervenção única da parte de Deus na história da humanidade. Nenhum outro ser nascido de mulher teve tal relação com Deus.
Esse menino que nasceria de Maria seria chamado Emanuel (v. 23), um termo composto que quer dizer “Deus conosco” (v. 24). Em hebraico, esse título significava que a pessoa era representante do Senhor, ou seja, que através do Emanuel, Deus estava com o povo. Jesus Cristo é a revelação suprema de Deus, que agora se apresenta no meio de seu povo como ser visível, palpável.
O nome de Jesus é o mesmo que o de Josué em hebraico e significa “salvador”. Esse menino será um agente de salvação, como o foi Josué no passado. Porém, a salvação trazida por Jesus não se limita a vencer os inimigos externos, como no caso de Josué. Em Jesus, o povo será salvo de seus pecados e reconduzido a Deus de forma definitiva.
Com o nascimento de Jesus se inicia a era messiânica de salvação na qual se concentrava a expectativa de todo o Antigo Testamento. A era messiânica começa com o nascimento de um menino, e nisso consiste a menção ao texto de Isaías. Jesus realiza a presença de Deus no meio de seu povo de maneira completamente nova.
O dilema de José, para o qual o texto chama a atenção, significa que é difícil compreender a ação de Deus, mas o justo permanece fiel mesmo quando não entende os propósitos divinos por trás dos acontecimentos. A presença de Deus no mundo também depende da colaboração humana. Por meio do sim de José e de Maria, realiza-se a promessa de Deus feita a Davi e aos seus descendentes através do profeta Natan (2Sm 7,12-16).
2. I Leitura (Is 7,10-14): o sinal do Emanuel
A união de dois países, Haram e Israel do Norte, contra o reino de Judá havia colocado Acaz, o rei judaíta, numa situação difícil, pois os adversários pretendiam depô-lo do trono e substituí-lo por um príncipe inimigo. Semelhante acontecimento significaria o cancelamento de uma promessa feita a Davi, antepassado de Acaz, por intermédio do profeta Natan (2Sm 7,12-16).
Isaías foi ao encontro do rei para lhe assegurar que a promessa estava em vigor e, portanto, Acaz não perderia o trono. Um sinal foi oferecido ao rei para assegurá-lo de que a coroa permaneceria com um descendente dele. Um sinal de Deus, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, é um acontecimento que dá ao ser humano a certeza de uma intervenção divina. Nesse caso, o sinal confirmaria a mensagem de Deus a Acaz por intermédio do profeta.
As esperanças de bem-estar para o reino de Judá dependiam de um sucessor davídico no trono. Por isso o sinal dado por Deus é o nascimento de um menino, filho do rei, que herdará o trono. O herdeiro de Acaz foi Ezequias, cujo nascimento foi um sinal da presença de Deus no meio do povo e da renovação das promessas feitas a Davi.
Contudo, a solenidade do título Emanuel, dado ao menino pela profecia de Isaías, despertou a fé de que no futuro surgiria outro descendente de Davi em cuja vida se poderia manifestar completa e definitivamente a presença de Deus entre o povo. Isaías expressou uma esperança que chegou à sua plena realização em Cristo. A Igreja primitiva viu no nascimento de Jesus o pleno cumprimento da profecia sobre o Emanuel.
3. II Leitura (Rm 1,1-7): descendente de Davi e Filho de Deus
Paulo intitula-se como servo de Cristo, assinalando que está a serviço do evangelho. O Antigo Testamento emprega a expressão “servo do Senhor” para descrever as grandes figuras da história da salvação como Abraão (Sl 105,42), Moisés (2Rs 18,12), Josué (Js 2,8) etc. Paulo se situa na mesma linha desses personagens, sublinhando a origem divina de seu apostolado.
Paulo entende seu chamado em continuidade com a vocação daquelas figuras do Antigo Testamento. Conforme a teologia do Apóstolo, profetas seriam todos os personagens do Antigo Testamento cujas palavras ele julgava serem aplicáveis a Cristo.
O evangelho proclamado por Paulo faz parte do propósito eterno de Deus no qual também o Antigo Testamento está incluído. As promessas divinas no passado se referem a Jesus, filho de Davi na ordem da descendência natural, mas que possui uma qualidade muito maior a de ser Filho de Deus.
Ao empregar a expressão “Filho de Deus com poder”, Paulo evoca a relação singular de Jesus com o Pai na história da salvação. Cristo foi investido no poder de vivificar o ser humano, ou seja, de dar à humanidade a vida plena, a ressurreição.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
A liturgia celebra o mistério de Jesus distribuindo-o ao longo do ano litúrgico para que a Igreja possa celebrar esses momentos fortes de sua fé em consonância com a própria dinâmica da vida. Mas não podemos esquecer que a encarnação, morte e ressurreição de Jesus são partes de um mesmo mistério. Natal e Páscoa mutuamente se iluminam. O Filho de Deus entrou no mundo, tocou o ser humano naquilo que tem de mais íntimo: sua orientação fundamental para Aquele que o criou.
Como homem, viveu sua humanidade na radicalidade do amor a Deus, o Pai. Na vivência desse amor, foi perseguido e entregou sua vida por amor. Tal entrega total da vida que culminou na morte, teve uma resposta definitiva de Deus: a ressurreição. Dessa forma, Cristo abriu o caminho da salvação, da vida plena. Com sua ressurreição, cada ser humano é vivificado por Cristo. Então, somente o Natal não basta, é necessário compreender e valorizar a Páscoa.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.
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Advento1404: Maria e José
 Em nossa preparação para o Natal, a Liturgia desse 4º Domingo do Advento nos apresenta duas figuras importantes, que colaboraram com Deus, na realização do Plano de Salvação:
MARIA E JOSÉ.
 Na 1aLeitura, ISAÍAS anuncia uma Virgem, que conceberá o "Deus conosco". Is 7,10-14)
 O Rei Acaz confia mais no poder do exército dos assírios, do que na força e na proteção de Deus e sofre um estrondoso fracasso.
Apesar da infidelidade de Acaz, Isaías confirma a fidelidade de Deus e revela um sinal de esperança:
 "Uma Virgem conceberá e dará à luz um filho (Ezequias), e lhe porá o nome de EMANUEL, que quer dizer Deus-Conosco".
- O filho de Acaz, concebido de uma virgem, foi um bom rei, consolidou a dinastia de Davi e
  se tornou sinal da presença de Deus no meio do povo.
  Mas criou-se a expectativa de um outro rei, um filho de Davi,
  que cumprisse plenamente a profecia e fosse realmente "Deus conosco".
- Desde o início da era cristã, os cristãos viram na figura dessa "virgem" a imagem de Maria, mãe de Jesus;
  e no "Emanuel" o próprio Jesus, o verdadeiro "Deus-conosco".
 A 2ª Leitura, Paulo lembra que Jesus é a boa-nova de Deus há tempos anunciada pelos profetas, nas Sagradas Escrituras, mas judeu de nascimento, da família de Davi. (Rm 1,1-7)
 No Evangelho, vemos a plena realização da promessa:
Jesus é a "Deus-conosco" que vem ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de Salvação.
Ele nascerá de MARIA, esposa de um homem bom, justo e honrado chamado JOSÉ, descendente de Davi. (Mt 1,18-24)
 A narrativa da situação de Maria e José não deve ser vista como uma descrição de fatos históricos, mas uma CATEQUESE sobre Jesus
- Jesus vem de Deus: sua origem é divina.
   Maria encontra-se grávida por obra do Espírito Santo.
 - Missão de Jesus: o nome  "Jesus" significa "Javé salva".
  Ele mostra que vem de Deus com uma proposta de salvação.
 - O seu Nascimento de uma "Virgem" afirma
  que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas, enviado por Deus para restaurar o reino de Davi.
 - José desempenha um papel importante:
  Pela sua obediência silenciosa, realizam-se os Planos de Deus.
  Confiando na palavra de Deus, penetra na obscuridade do Mistério divino, e se incorpora, com plena disponibilidade, no plano salvador de Deus.
 - A Virgem Maria nos convida a admirar o que o Senhor operou nela e a acreditar na vitória da vida onde nós só enxergamos sinais de morte.
 * No Natal, Deus vem ao encontro dos homens para oferecer a Salvação.
   Esse encontro só será possível se tivermos o coração disponível para o acolher e para abraçar a sua proposta.
 + O Evangelho nos apresenta DOIS MODELOS de disponibilidade:
duas pessoas que tiveram dúvidas sérias sobre o Plano de Deus, mas plenamente disponíveis na realização desse Plano.
 - MARIA está sempre atenta aos apelos de Deus e responde com um "sim" generoso de total disponibilidade...
  Esse "sim" torna possível a presença salvadora de Deus no mundo.
 * Sou capaz de dizer "sim" todos os dias, de forma que, através de mim, Deus possa nascer no mundo e salvar os homens?
 - JOSÉ é um homem a quem Deus envolve nos seus planos misteriosos, mas que tudo aceita, numa obediência total a Deus.
 * Sou capaz de acolher os projetos às vezes misteriosos de Deus, com a mesma disponibilidade de José, em obediência total a Deus?
 + Somos convidados a preparar o Natal desse ano,
   com MARIA e JOSÉ...
 - Se, como Maria e José, acolhermos a mensagem de Deus, acreditando nela, superando o medo e a dúvida...
 - Se, como Maria e José, nos deixarmos engravidar pelo Espírito do Senhor, emprestando nosso ser, nosso corpo e nossa mente, nosso espírito e nosso tempo, nossa fragilidade e nossa força, para que Deus atue em nós...
 à toda nossa vida será um NATAL PERENE, um contínuo DEUS-CONOSCO...
  Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa- 22.12.2013
www.buscancdonovasaguas.com
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O sonho de José e a chegada do Messias (Mt 1,18-25)
Quarta-feira, 18 de dezembro de 2013 - 18h14min
por Marcelo Barros
http://migre.me/h4xqE
O evangelho a ser refletido o próximo final de semana fala de um sonho: o sonho no qual José é avisado que sua companheira seria a mãe do Messias esperado. Se antes, lá no Egito, José, o filho de Jacó, interpretava os sonhos do Faraó, agora um novo José é convidado a interpretar os novos desígnios divinos. O texto é extraído do livroConversando com Mateus.
Convidamos você a apreciar a reflexão de Marcelo Barros. Ele conversa com a comunidade de Mateus de forma leve e profunda. Aprecie. 
Para aprofundar esse texto conheça também: O Sonho de José e o sonho de novas masculinidades - http://www.cebi.org.br/publicacoes-produto.php?produtoId=336

Enquanto Lucas conta que o anjo anunciou a Maria, a comunidade de Mateus conta que o anjo apareceu em sonhos a José. O fato de ser “em sonhos” se liga à tradição dos patriarcas: o próprio José, filho de Jacó. Quem aparece não é um anjo como em Lucas. É o próprio “Anjo do Senhor”, expressão para dizer “a Palavra do Senhor”, “a Glória do Senhor”, uma visibilidade do próprio Deus. José é apresentado como um justo que percebe na mulher a obra de Deus e quer se retirar para não atrapalhar uma obra de Deus que ele não pode compreender.
O sonho não é apenas o momento no qual as frustrações do inconsciente se soltam. Através do sono, a pessoa convive com uma dimensão interior mais profunda de si mesma e pode ouvir de modo mais puro a sua vocação.
Na sociedade do tempo de Jesus, havia uma prática cultural chamada do desposório.Através dela, se dava inicio ao contrato de casamento no qual as famílias ingressavam. O casal era considerado marido mulher. Mas, durante um tempo, ela permanecia na casa de sua família e eles não tinham ainda relações sexuais. Quando o texto diz: “antes de coabitarem, ela engravidou”, está dizendo que eles ainda não moravam juntos e nem tinham tido relações sexuais. Seria, então, compreensível que José concluísse que ela teve relações com outro homem. Na época, isso seria um adultério, porque eles dois (Maria e José) já estavam comprometido em casamento. Assim, segundo padrões culturais convencionais, Maria está exposta à marginalização social, econômica e religiosa. (Existe na Bíblia maldições para mulheres em situações como esta e para seus filhos. Ver Eclo 23, 22- 26 e Sb 3, 16- 19 e 4, 3- 6)
“Ao dizer que ela concebeu “através do Espírito Santo” (ou do sopro divino”, o evangelho fala de uma forma estranha para a sua geração e para todos os tempos. Seja qual for a interpretação que se dê a esta tradição, o fato é que, ao falar assim, o evangelho mostra: Deus rompe com a genealogia patriarcal. (A geração se dá sem ser por um homem macho. Isso naquela cultura era considerado ainda pior do que seria hoje em dia. Jesus e a comunidade dele começam rompendo com o patriarcalismo.
José ouve do anjo em seu sonho que tem um papel próprio nesta obra da salvação. O Senhor lhe pede que assuma essa função. José deve dar a Jesus o seu nome para que Jesus possa ser reconhecido como “Filho de Davi”. É José que ligará Jesus à tradição messiânica davídica.
O filho que nascerá de Maria será a realização das mais profundas promessas de Deus ao seu povo. Será a visibilidade da presença do Senhor que virá morar com o seu povo (Emanuel). Que forma bonita de falar da ressurreição de Jesus, o que já lemos no capítulo final do Evangelho. 
Seria bom nós cristãos ouvirmos a interpretação que as comunidades judaicas fazem dessa promessa de Deus em Isaías 7. Historicamente, referia-se a que o rei Acaz, sem descendente e ameaçado pela Síria e pela Samaria teria como sinal de Deus o fato de que uma moça engravidou e lhe daria um filho. Seria Ezequias: um rei justo e bom, sinal da presença de Deus junto ao seu povo. É claro que, mais tarde, as comunidades judaicas releram esse texto, dando-lhe sentido messiânico. Mas, o fato de interpretar que essa palavra se referia ao Messias que virá não nega que ela tenha tido um primeiro cumprimento no nascimento de Ezequias. Ele não foi o Messias, mas foi uma figura do Cristo.

Cristãos e Judeus esperamos juntos a plenitude dos tempos

Nós, cristãos, cremos que Jesus é o Messias que devia vir. Mas, como ele mesmo deixou claro: aquela não era ainda a sua vinda na glória. Nesse sentido, os cristãos também esperam com Israel a vinda do Messias.
No tempo de Jesus, havia muitas correntes messiânicas em Israel. Jesus sempre se ligou à tradição profética. Ele se revelou como “Servo do Senhor”. Ao menos, é assim que vocês, comunidade de Mateus, o mostram no batismo, como no capítulo 12 e no relato da Paixão. Por que, então, nesse primeiro capítulo, frisar esse título de “Filho de Davi”? 
De qualquer maneira, vocês deixam uma luz sobre isso quando encerram o capítulo dizendo: “José, despertando do sono, fez como o anjo lhe ordenara e recebeu a sua mulher. E o evangelho salienta que José não a conheceu até que deu à luz a seu filho, o primogênito, ao qual lhe deu o nome de Jesus” (1, 25).
Uma leitura deste texto a partir da tradição simbólica da Cabala veria José como aquele que trabalha a madeira ou a obra de suas mãos. Isto significa: trabalha para desenvolver o mais profundo do seu ser. E essa dimensão mais profunda de si é fazer aparecer ao Senhor como único esposo. Ele é o único verdadeiro esposo de Maria, símbolo da comunidade nova. É pela força do Espírito que ela concebe e dá a luz ao seu filho Jesus.
Como nos livros antigos, o prólogo resume todo o livro. Aqui, vocês deixam claro: Jesus é o herdeiro verdadeiro das promessas de Deus a Davi, mas veio ao mundo por obra direta de Deus. Assim ele recebeu o nome que resume sua missão. É o mesmo nome de Josué, o patriarca que introduz o povo hebreu na terra prometida. Jesus (ou Ioshuá) é a expressão humana de que Deus é Salvador. O menino que nasce assim é o verdadeiro Messias de Israel. Vocês não sublinham o que outros textos cristãos dizem:  Que Ele ainda virá como Messias. De fato, cremos que desde que ressuscitou, Ele está conosco todos os dias até a consumação dos séculos. Mas, tanto nós, cristãos, como também, de outra forma, nossos irmãos judeus, esperamos unidos essa “plenitude dos tempos prometida por Deus”. 
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15 de dezembro – 3º DOMINGO DO ADVENTO
A VINDA DO SENHOR SE APROXIMA
I. INTRODUÇÃO GERAL
As leituras de hoje têm um tom festivo. O destaque vai para os que se escandalizam com as ações de Jesus porque esperavam um messias rigoroso. A práxis de Jesus, ao contrário do que se esperava, está alicerçada na misericórdia, portanto sua mensagem é uma boa notícia que alegra e anima aqueles que estavam sobrecarregados com o peso do sofrimento.
Na primeira leitura, o profeta nos encoraja a confiar no Deus fiel que está empenhado em redimir o seu povo. E a carta de Tiago nos pede paciência para suportar as demoras de Deus.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 11,2-11): És tu aquele que deveria vir?
Nesse terceiro domingo do advento, o evangelho destaca as ações de Jesus como testemunho de que ele é o Messias. A pergunta: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos espera outro?” (v. 3), revela uma dúvida sincera e profunda. João havia anunciado a vinda do reino de Deus como um julgamento, simbolizado pelo machado e pelo fogo, ou seja, a pregação de João sobre o Messias enfatizava o juízo final (cf. 3,1-10). A pregação de Jesus era diferente, e isso causou espanto em João, talvez Jesus não fosse o Messias, cogitava ele.
A maneira como Jesus contestou a pergunta de João é muito mais convincente do que uma resposta direta. Em vez de dizer que sim, fez algo melhor. Ofereceu aos discípulos de João evidências irrefutáveis de sua identidade. Em sua resposta, Jesus faz referência aos sinais que realizou (cf. Mt 8-9). Esses sinais, à luz dos oráculos proféticos (Is 35,5-6; 42,18; 61,1), revelam melhor que qualquer outra resposta que Jesus é o Messias, o esperado por Israel.
No entanto, a resposta de Jesus não é uma afirmação formal de messianidade. Alude a alguns fenômenos que, no AT e no judaísmo, eram característicos da era messiânica.
A resposta de Jesus também expressa que sua mensagem é uma boa notícia. O messianismo e a compreensão de João sobre o fim dos tempos necessitavam ser corrigidos pela proclamação de Jesus. Sua messianidade não consiste em um juízo escatológico de ira, nem na instauração de um império sobre todos dos reinos da terra, nem numa guerra de extermínio contra todos os inimigos do povo eleito. A messianidade que aqui se sugere consiste em distribuir bênçãos. Por isso, Jesus convida João a olhar os sinais e perceber, neles, a ação salvífica de Deus em prol do seu povo.
2. I Leitura (Is 35,1-6a.10): Ele vem para salvar
O texto de Isaías é um hino de alegria pela redenção de Sião (Jerusalém) que simboliza o povo da aliança exilado na Babilônia (587-538 a.C.). Esse hino é marcado por vários temas do êxodo, a saída do Egito. Isso significa que o profeta quer inculcar nos leitores a ideia de que o retorno do exílio é um novo êxodo. O texto começa com o anúncio de uma festa que chega até o deserto mediante a travessia dos exilados, numa peregrinação santa de volta à terra de Israel.
No grupo que sai em viagem há pessoas frágeis, vacilantes, medrosas (v. 3-4), mas também há quem esteja mais seguro e, por isso, deve animar os mais fracos. O fundamento desse ânimo é a certeza da proximidade do Senhor. Essa certeza de que o Senhor está próximo é o que os põe a caminho. Até mesmo os coxos se deixam contagiar pelo entusiasmo e conseguem manter-se no ritmo da marcha.
Poder andar, ver e ouvir (situações contrárias às de coxos, cegos e surdos) era extremamente necessário para fazer parte de uma caravana. O caravaneiro (guia) gritava e gesticulava sinais para conduzir a caravana na qual a maioria andava a pé. Somente quando os fracos, vacilantes e medrosos são fortalecidos é que se podem perceber os sinais do Senhor que está com eles a caminho. É por isso que os sinais dados por Jesus a João mencionam a cura das pessoas com essas limitações para participar da caravana.
A alegria vai vivificando o caminho, o motivo do júbilo é a redenção trazida pela proximidade do Senhor. A transformação do deserto unida à mudança no ânimo das pessoas também é sinal de que Deus está agindo, pois a descrição desses fatos é o oposto do que foi afirmado em Is 33,9 quando a trajetória era inversa, ou seja, quando saíram de Jerusalém para a Babilônia e as terras férteis se transformavam em deserto.
3. II Leitura (Tg 5,7-10): Ele está às portas
A segunda leitura nos pede paciência para suportar a demora da parusia (a vinda do Senhor). Mas paciência não deve ser entendida simplesmente como resignação diante daquilo que não podemos fazer. Tampouco significa apenas submissão ou tolerância diante das fraquezas do próximo. A paciência que o texto descreve é a capacidade de “ampliar o ânimo” (macrotimia) para suportar a demora. A paciência, nesse texto, se refere à constância, à perseverança e integridade na vida cristã enquanto o Senhor não vem.
O agricultor é o grande exemplo de paciência, pois é quem amplia o próprio ânimo enquanto o fruto cresce vagarosamente e aguarda as chuvas que possibilitam fazer boa colheita. A menção das chuvas temporãs e tardias, frequentemente citadas no Antigo Testamento para elencar os benefícios de Deus (Dt 11,14; Os 6,3), mostra como eram extremamente importantes para o agricultor na Terra Santa. Se Deus não as enviasse não haveria colheita.
A atitude do cristão durante o tempo da espera pelo Senhor deve ser análoga à do agricultor. Os cristãos devem manter a grandeza de ânimo fortalecendo seus corações no evangelho de Jesus Cristo. Fortalecer o coração é unificar todas as dimensões da existência sob uma meta que é o reino de Deus e sua justiça.
A amplitude de ânimo mencionada por Tiago evita, nos cristãos, atitudes de murmuração e julgamentos contra o próximo e os mantém em continuidade com a vocação dos antigos profetas.
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO
A homilia deve manter o tom da alegria dentro do tempo penitencial do Advento. As leituras apontam para essa temática, sem deixar de enfocar a perspectiva da vinda de Cristo, que deve ser alimentada pela certeza da ação de Deus em prol dos fracos e vacilantes.
Muitas pessoas ainda hoje esperam que Deus seja rigoroso com os pecadores. Creem mais num Deus juiz do que misericordioso. Por isso acabam afastando as pessoas da Igreja com seus discursos moralistas. É importante ressaltar que a pregação de Jesus não vai por esse caminho. Suas ações dizem por si mesmo qual é a postura de Deus em relação aos pecadores.
O advento é tempo propício para a tomada de consciência do papel do cristão no mundo, que não consiste em julgar as pessoas, mas animar os que sofrem e exigir dos acomodados que saiam do seu conforto para ajudar os sofredores, e não esperar que as soluções dos problemas caiam automaticamente do céu.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.


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Advento1403: Alegrai-vos no Senhor
 O mundo vive carente de alegria.
 Na exortação apostólica "A ALEGRIA DO EVANGELHO", o Papa Francisco nos lembra que "a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.
Os que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento.
Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria". (Francisco)

 As Leituras bíblicas são um convite muito forte para a ALEGRIA, porque o Senhor, que esperamos, já está conosco e com ele preparamos o Advento do seu Reino.
Por isso, o 3º domingo do Advento é chamado "Domingo da alegria".
 A 1ª Leitura é um Hino à ALEGRIA. (Is 35,1-6a.10)
 O profeta deseja despertar e fortalecer a esperança dos exilados.
O povo atravessava um dos piores períodos de sua história:
Jerusalém e o templo destruídos, o povo deportado na Babilônia.
Mesmo assim, o profeta prevê a ALEGRIA dos tempos messiânicos:
fala do deserto que vai florir, da tristeza que vai dar lugar à alegria, Ele libertará os cegos, os coxos, os mudos de suas doenças...
* São SINAIS que indicam a chegada de um mundo novo, onde não haverá mais lugar para a doença, a dor e o pranto..
 Na 2ª Leitura, Tiago convida à espera com PACIÊNCIA. (Tg 5,7-10)
 No Evangelho, Jesus mostra que o mundo novo anunciado pelo Profeta já chegou. O texto tem 3 partes: (Mt 11,2-11)
 1. A PERGUNTA de João Batista:
João Batista estava preso... por Herodes... por reprovar o seu comportamento...
No cárcere, ouve falar das obras de Cristo, tão diferente do que se esperava:
Ele anunciara um juiz severo que castigaria os pecadores...
Ao invés, defronta-se com alguém que se aproxima dos pecadores.
Perplexo, envia a Jesus dois discípulos com uma pergunta bem concreta:
   "És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar por outro"?
 2. A RESPOSTA de Jesus:
Jesus responde apontando seis sinais concretos de libertação, já anunciados por Isaías há muito tempo:
   "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo:
    cegos... paralíticos... leprosos... surdos... mortos... pobres evangelizados..."
    E acrescenta:  "Feliz quem não se escandalizar de mim..."
* Jesus mostra a João que as suas obras comprovam a era messiânica, mas sob a forma de atos de salvação, não de violência e castigo.
3. O TESTEMUNHO de Jesus sobre João:
- João Batista não é um CANIÇO que verga conforme o vento:
  não é um pregador oportunista que se adapta conforme a situação.
- Não é um CORRUPTO que vive na fortuna e no luxo...
- É muito mais que um PROFETA... "É o maior dos nascidos de mulher".
= Mas, com surpresa, acrescenta:
   "No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele".
 * Os que já pertencem ao Reino transcendem àqueles que o precederam e prepararam.
   Declaração implícita da superioridade do Novo sobre o Antigo Testamento;
   da Igreja sobre a Sinagoga; da Lei de Cristo sobre a Lei de Moisés.
 + A Ação libertadora de Deus deve continuar na História
    através de gestos concretos dos seguidores de Cristo.
 A resposta de Jesus a João Batista foi clara:
"Ide contar a João o que estais OUVINDO e VENDO..."
Pelos "sinais", que podiam ver e ouvir, Jesus comprovava a presença salvadora e libertadora de Deus no meio dos homens.
Para perpetuar no mundo a ação salvadora e libertadora de Deus, os "Sinais", que Jesus realizava então, devem continuar acontecendo agora, através dos seus seguidores.
- Em nossa vida e nossas comunidades há gestos de salvação e libertação que são sinais que o Reino de Deus já chegou?
 - Os "surdos", fechados num mundo sem comunicação e sem diálogo, encontram em nós a Palavra viva de Deus que os desperta para a comunhão e para o amor?
- Os "cegos", encerrados nas trevas do egoísmo ou da violência, encontram em nós o desafio que Deus lhes apresenta de abrir os olhos à luz?
- Os "coxos", privados de movimento e de liberdade, escondidos atrás das grades em que a sociedade os encerra, encontram em nós a Boa Nova da liberdade?
- Os "pobres", sem voz nem dignidade, sentem em nós o amor de Deus?
   * O que significa hoje recuperar a vista aos cegos, a capacidade de andar aos coxos, a audição aos surdos, a ressurreição aos mortos?
 + A Liturgia de hoje é um convite forte à alegria:
   "Alegrai-vos sempre no Senhor, de novo vos digo:
    alegrai-vos: o Senhor está perto". (Ant de Entrada)
 A Boa Nova trazida no Natal é mensagem de alegria... Gabriel na anunciação... Isabel na visitação... Maria no Magnificat... os Anjos aos pastores...
 A ALEGRIA é uma característica de nossas Comunidades?
Somos semeadores de alegria ou motivo de dor e tristeza?
Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 15.12.2013
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Curar feridas. (Mt 11, 2-11)
Quinta-feira, 12 de dezembro de 2013 - 10h27min
por José A. Pagola
A atuação de Jesus deixou João Batista desconcertado. Ele esperava um Messias que eliminaria o pecado do mundo impondo o juízo rigoroso de Deus, ao invés de um Messias dedicado a curar feridas e aliviar sofrimentos. Da prisão de Maqueronte, envia uma mensagem a Jesus: “És tu o que viria ou devemos esperar por outro?”
Jesus responde com sua vida de profeta curador: “Digam a João o que estão vendo e ouvindo: os cegos veem e os paralíticos andam; os leprosos estão curados e os surdos ouvem; os mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa Notícia.”
Jesus se sente enviado por um Pai misericordioso que deseja para todos um mundo mais digno e feliz. Por isso, se entrega a curar feridas, sanar doenças e liberar a vida. E, por isso, pede a todos: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”.
Jesus não se sente enviado por um juiz rigoroso para julgar aos pecadores e condenar o mundo. Por isso, não amedronta a ninguém com ações justiceiras: oferece a pecadoras e pecadores sua amizade e seu perdão. E, por isso, pede a todas e todos: “Não julgue para não ser julgada/o”.
Jesus nunca cura de forma arbitraria ou por sensacionalismo. Cura movido pela compaixão, buscando restaurar a vida das pessoas abatidas, doentes e desanimadas. São estas as primeiras que tem a experiência de Deus amigo da vida digna e saudável.
Jesus não insistiu no caráter prodigioso de suas curas, nem pensou nelas como receita fácil para suprimir o sofrimento do mundo. Apresentou sua atividade curadora como símbolo para seus seguidores compreenderem em que direção atuar para abrir caminhos ao projeto humanizador do Pai que Ele chamava “Reino de Deus”.
O Papa Francisco afirma que “curar feridas” é uma tarefa urgente: “Vejo com clareza que o que a Igreja necessita, hoje, é uma capacidade de curar feridas e oferecer calor, intimidade e proximidade aos corações... Isto é a primeira coisa: curar feridas, curar feridas”. Depois fal em “cuidarmos das pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa e consola”. Fala, também, de “caminhar com as pessoas na noite, saber dialogar, descer à noite escura sem perder-se”.
Ao confiar sua missão aos discípulos, Jesús não os imaginava como doutores, hierarcas, liturgistas e teólogos, mas como curadores. A missão é dupla: proclamar a proximidade do Reino de Deus e curar as/os doentes.
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8 de dezembro – 2º DOMINGO DO ADVENTO – IMACULADA CONCEIÇÃO
O SENHOR ESTÁ CONTIGO!
I. INTRODUÇÃO GERAL
O pecado e a encarnação aparecem na bíblia como dois movimentos que têm por objetivo a eliminação do abismo entre o Criador e a criatura. O pecado significa que o ser humano quis superar a distância que existe entre ele e seu Criador, pretendendo fazer-se igual a Deus. A encarnação é o movimento inverso. Deus, de fato, superou a distância entre nós e ele, quando o Verbo eterno se fez homem.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 1,26-38): Faça-se em mim conforme a tua palavra
O evangelho de hoje nos apresenta um modelo de colaboração no propósito de Deus para a salvação humana. O texto enfatiza dois aspectos principais: a presença eficaz de Deus que realiza o seu propósito e a colaboração humana que diz “sim”. Em Maria, vemos esses dois aspectos se realizarem. A atitude dela se torna, para nós, um paradigma a ser seguido.
O texto é bem estruturado e nos apresenta a realização das promessas feitas ao povo de Israel no passado. Todo o discurso está permeado de alusões às profecias messiânicas do Antigo Testamento (cf. Is 7,14; 49,6; 2Sm 7,12-14). Com isso se quer conectar o cumprimento das promessas salvíficas a este menino cujo nascimento constitui o início de sua efetivação.
Alguns termos são de extrema importância e nos ajudam a compreender melhor o sentido profundo desse texto.
A saudação contém duas expressões importantes: “cheia de graça”, uma alusão à alegria messiânica que ora se inicia, e “o Senhor está contigo.” Esta última expressão não é dita a pessoas em circunstâncias normais, ainda que possa haver exceções (cf. Rt 2,4), mas se refere ao povo de Deus em sua totalidade ou a alguma pessoa que Deus tenha convocado para realizar um trabalho árduo. A presença eficaz de Deus dirige a pessoa à finalidade proposta por ele.
A expressão “cobrir com sua sombra” faz alusão à nuvem que cobria o tabernáculo no deserto, representando a glória de Deus que ali habitava (cf. Ex 40,34). A mesma expressão é utilizada no texto da transfiguração (cf. Lc 9,34), porque era símbolo da presença de Deus. O tabernáculo no deserto era chamado de Tenda do Encontro (cf. Ex 27,21), pois ali Deus se encontrava com o ser humano através da representação da nuvem. Dessa forma, quando o texto, ao se referir a Maria, utiliza a expressão “cobrir com sua sombra” a identifica com a Tenda do Encontro, e significa que no útero dela Deus e o ser humano se encontram no Menino que vai nascer.
Ante a vontade de Deus, Maria deu a resposta: aceitou. Ela proclama-se “serva do Senhor”, frase usual no ambiente oriental quando um subalterno se dirige ao seu superior com o propósito de aceitar seus desígnios. Essa disposição para a obediência é uma manifestação de confiança (fé) na Palavra de Deus.
2. I Leitura (Gn 3,9-15.20): Onde estás?
O texto de Gn 3,10-11 alerta sobre a inviabilidade atual do propósito divino de habitar com a criação, pois o casal humano, em decorrência do pecado, se esconde de Deus. E como o ser humano é o responsável pela criação, então, esta, em sua totalidade, fica afastada de Deus. Por isso, para a fé de Israel a presença divina na criação somente poderá ser eficaz quando o ser humano parar de se esconder de Deus, isto é, quando a humanidade ouvir a voz daquele que a interpela: “Onde estás?” (Gn 3,9). A escuta da voz de Deus possibilitará ao ser humano o arrependimento que, no sentido bíblico, significa “retorno” à aliança ou à “colaboração” (trabalhar junto) com Deus.
O pecado, muito mais que uma revolta contra Deus, é um aviltamento da natureza do ser humano. O chamado de Deus procura reconduzir a humanidade — e, com esta, a criação inteira — à sua própria dignidade. Assim, o arrependimento (ou a colaboração) do ser humano significa a criação retornando ao seu verdadeiro propósito.
Quando cada ser humano se arrepender, então, manifestar-se-á toda a beneficência da criação. E, quanto mais se retarda o arrependimento do ser humano, mais demora a presença divina na criação. Assim sendo, a plena manifestação da criação em sua beneficência depende da decisão humana. O mundo vindouro não significa apenas a vinda de Jesus, mas é também o retorno do ser humano para Deus. É o retorno do Criador (cf. Is 52,8) e da criatura.
3. II Leitura (Ef 1,3-6.11-12): Santos e imaculados diante de Deus
A segunda leitura consiste num hino cristológico (a Cristo) com forte teor batismal. Seu tema principal é a obra de Deus através de Cristo. As consequências dessa obra no ser humano são a filiação divina, o perdão dos pecados, o tornar-se membro do Corpo de Cristo e a ação santificadora do Espírito Santo. Todos esses temas fazem parte de uma catequese batismal. Portanto, o hino também esclarece o sentido do batismo para nós.
A partir desse texto, fica esclarecido que, antes de tudo, a eleição (vocação à filiação divina) não é algo acidental. A encarnação não aconteceu para resolver o problema do pecado humano. Quer dizer, a encarnação não foi determinada pelo ser humano, não é consequência de suas ações. A eleição que recebemos para nos tornar filhos de Deus faz parte do propósito divino desde toda a eternidade. A eleição do ser humano em Cristo é anterior à criação. Deus tomou a iniciativa de nos tornar filhos no Filho.
Por isso, desde toda a eternidade, cada ser humano é chamado a ser “sem mancha” (imaculado, v. 4). Esse termo (ámomos), no Antigo Testamento, designava o cordeiro do sacrifício (cf. Lv 1,3.10) e muitas vezes é traduzido em português por “sem defeito” ou “irrepreensível”, mas literalmente significa “sem mancha” ou “imaculado”. No Novo Testamento, o mesmo termo se refere à vida daquele que se une a Cristo.
É fato que o ser humano sempre pecou, apesar de ter recebido um chamado, desde toda a eternidade, para ser santo e imaculado. E já que “todos pecaram” (Rm 3,23; 5,12) a graça da encarnação (a vida inteira de Jesus) se tornou redenção, libertação da tirania do pecado que escraviza o ser humano.
Como a graça é anterior ao pecado, pois é anterior à criação (v.4), a eleição significa que somos atingidos pela graça desde o primeiro momento de nossa existência. Disso decorre que a vivência do batismo é a adesão consciente e livre à graça da eleição eterna que se opõe ao pecado e realiza em nós aquilo a que fomos chamados: ser santos e imaculados diante de Deus.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Maria, dotada de “uma santidade inteiramente singular” (LG 56), representa a humanidade nova redimida por Cristo, ou seja, a Igreja.
A homilia deve mostrar que esta festa mariana harmoniza-se com o espírito do Advento. Enquanto a Igreja se prepara para a vinda do Senhor, é adequado celebrar Maria como figura da Igreja, ou seja, da nova humanidade redimida por Cristo e chamada a ser santa e sem mancha, conformando-se à vontade do Criador.
Uma exaltação exagerada a Maria pode quebrar o dinamismo litúrgico do Advento que enfatiza a espera pelo Senhor. Uma ênfase exagerada nos privilégios de Maria, pode também favorecer uma devoção desraigada de Cristo. Pode, além disso, ofuscar o papel da graça da eleição à filiação divina, vocação de todo ser humano, a qual foi decidida desde toda a eternidade, age desde a criação e vai se consumar na segunda vinda de Cristo. Maria teve papel singular na história da salvação e não deve ofuscar a obra redentora de Cristo. A homilia deve remeter-se a Cristo, o protagonista, e deixar a Maria o papel de coadjuvante, a saber, a de representante da humanidade renovada pela redenção realizada por Jesus.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.

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Imaculada13: Cheia de Graça
 Nesse tempo de Advento, a caminho do Natal de Jesus, somos convidados a olhar para Maria, a IMACULADA, e reconhecer nela o modelo de como acolher Jesus, que está chegando.
 As leituras nos falam de duas Mulheres: Eva e Maria
e do Plano de Deus, no qual Maria foi inserida:
 A 1a Leitura nos apresenta o episódio do Pecado Original:
A vitória da Mulher e de sua descendência contra a serpente (Gn 3, 9-15)
 Esse texto não devemos tomá-lo ao pé da letra.
Com ele o autor sagrado quer explicar a origem do mal no mundo.
Ele vê ao redor de si a opressão, as injustiças e violências.
Será que foi esse o mundo criado por Deus?
 A resposta é dada por imagens que devem ser interpretadas:
- Foi comido um fruto proibido: 
O homem não aceitou sua condição de criatura e tomou o lugar de Deus.
- Essa auto-suficiência é comparada a uma serpente que nos dá uma idéia falsa de Deus e nos leva a escolher o mal.
- A "nudez" (a condição de criatura) maravilhosa no corpo e na mente, depois do pecado, começa a causar vergonha.
- O homem não está no seu lugar:
não considera mais Deus um amigo com o qual passeia no jardim e passa a vê-lo como adversário e o evita (se esconde).
- O pecado rompe a confiança entre as pessoas:
Adão acusa Eva; Eva culpa a serpente...
- A Luta entre a "serpente" e o homem continuará até o fim do mundo, mas a descendência da mulher prevalecerá e esmagará a cabeça da serpente.
 A 2ª Leitura é um Hino de louvor a Deus pelas maravilhas por ele realizadas em favor dos homens. (Ef 1,3-6;11-12)
 No Evangelho, a saudação do anjo a Maria nos faz entender quem é o Filho de Maria (Lc 1,26-38)
 O texto não um relato histórico, mas uma CATEQUESE, destinada a proclamar certas realidades salvíficas:
- O Anúncio do nascimento de um menino é freqüente na Bíblia e revela que ele é um dom de Deus...
- O Messias é pobre entre os pobres: Num povoado desconhecido da Galiléia...
A uma mulher virgem (para uma mulher judia não ter filhos era uma vergonha)
- O Diálogo do anjo a Maria:
   > "Ave Cheia de Graça": A Voz dos profetas na boca do anjo:
       Realizam-se todas as promessas: "Uma Virgem conceberá..."
   > Troca o nome: "Cheia de Graça":
      Quando Deus troca o nome, destina a uma missão.
   > Anúncio do nascimento confirma a profecia feita a Davi:
      Jesus é o Messias esperado, cujo reino será eterno.
   > Sobre Maria pousou a "sombra" do Altíssimo:
      O próprio Deus se tornou presente nela.
      É uma profissão de fé na divindade do filho de Maria.
   > "Eis aqui a serva...": Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta sua disposição de cumprir,com fidelidade o Plano de Deus;.
 + O que esta festa nos diz?
 - Deus ama os homens e tem um projeto de vida plena para lhes oferecer.
 - Como Deus intervém na história e concretiza essa oferta de salvação?
  A história de Maria responde:
  Através de pessoas atentas aos seus projetos e de coração disponível para o serviço dos irmãos, Deus atua no mundo, manifesta aos homens o seu amor e convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena.  
   - Os instrumentos de Deus na realização de seus planos?
  Deus age através de pessoas, independentemente de suas qualidades humanas.
  O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que acolhem e testemunham as propostas de Deus.
 - Como responder aos apelos de Deus?
  Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um "Sim" total e incondicional, renunciando seu programa de vida e os seus projetos pessoais.
 - Como Maria chegou a esta confiança incondicional em Deus?
. Com uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus.
. Deus ocupava o primeiro lugar e era a sua prioridade fundamental.
. Era uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente nele.
 * No meio da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em comunhão com ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que ele me dá dia a dia?
 Como você está se preparando para o Natal?
 Imitar Maria na sua fidelidade à Vontade de Deus, é o melhor caminho para um Natal mais cristão..
                                      Pe. Antônio G. Dalla Costa - 08.12.2013 
www.buscandonovasaguas.com
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A visita do anjo a Maria: Surpresas de Deus - Mesters e Lopes
Terça-feira, 3 de dezembro de 2013 - 15h18min
por CEBI Publicações
A VISITA DO ANJO A MARIA
SURPRESAS DE DEUS
Lucas 1,26-38

Texto extraído do livro "O AVESSO É O LADO CERTO" - Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas. Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes. Saiba mais emvendas@cebi.org.br

O texto que meditaremos no próximo final de semana fala da visita do anjo a Maria. É um texto muito conhecido. Quando as coisas são muito conhecidas a gente já não presta tanta atenção. Assim acontece com a visita de Deus em nossas vidas. Ela é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já não a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.
 SITUANDO
O anúncio do anjo a Maria (Lc 1,26-38) vem depois do anúncio do anjo a Zacarias (Lc 1,5-25). Nos dois casos anuncia-se um nascimento. Vale a pena comparar os dois anúncios para perceber as semelhanças e diferenças. Descrevendo a visita do anjo a Maria e a Isabel, Lucas evoca as visitas de Deus a várias mulheres estéreis do AT: Sara, mãe de Isaque (Gn 18,9-25), Ana, mãe de Samuel (1SAm 1,9-18), a mãe de Sansão (Jz 13,2-5). A todos elas o anjo tinha anunciado o nascimento de um filho com missão importante na realização do plano de Deus. E agora, ele faz o mesmo anunciando a Isabel, esposa de Zacarias, e a Maria. Maria não é estéril. Ela é virgem. No AT, o anjo de Deus, muitas vezes, é o próprio Deus.
A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo. Foi graças à ruminação da Palavra de Deus da Bíblia que ela foi capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do anjo.
 COMENTANDO
Lucas 1,26-27: A Palavra faz a sua entrada na vida
Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galileia. Galileia era periferia. O centro eram a Judeia e Jurusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome Maria significa Amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de Deus a Maria começa com a expressão "No sexto mês". Trata-se do "sexto mês" de gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade, precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e o fim (Lc 1,36.39).
Lucas 1,28-29: A reação de Maria
Foi no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia. O anjo diz: "Alegra-te! Cheia de Graça! O Senhor está contigo!" Palavras semelhantes já tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12), a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros. Eles abrem o horizonte para a missão que estas pessoas do AT deviam realizar a serviço do povo de Deus. Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista, usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.
Lucas 1,30-33: A explicação do anjo
"Não tenha medo, Maria!" Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano: não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer de  Maria. Este filho deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não ficar assustada.
Lucas 1,34: Nova pergunta de Maria
Maria tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição: "Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?" Ela analisa a oferta a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois, humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se realizasse naquele momento.
Lucas 1,35-37: Nova explicação do anjo
O Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo o mundo dizia que ela não podia ter neném! E o anjo acrescenta: "E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!"
Lucas 1,38: A entrega de Maria
A resposta do anjo clareia tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus está pedindo: "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra". Maria usa para si o título de serva, empregada do Senhor. O título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos. Mais tarde, Jesus, o filho que estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão como um serviço: "Não vim para ser servido, mas para servir" (Mt 20,28). Aprendeu da mãe!
 ALARGANDO
Maria, modelo de comunidade
Lucas não fala muito sobre Maria, mas aquilo que fala tem grande profundidade. Quando fala de Maria, ele pensa nas comunidades. Apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades. É na maneira de ela relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Esta é a visão que está por trás dos textos dos capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas, que falam de Maria, a mãe de Jesus.
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1 de dezembro – 1º DOMINGO DO ADVENTO
A SALVAÇÃO ESTÁ PRÓXIMA
I. INTRODUÇÃO GERAL
O tema principal do Tempo do Advento é a espera por Jesus. Anunciada pelo Antigo Testamento, a vinda do Messias instauraria um novo modo de viver com consequências mundiais. A rotina das pessoas, seus afazeres mais corriqueiros, seria motivada pela paz e pela concórdia. Os instrumentos da discórdia, simbolizados pelas armas, não teriam mais nenhuma utilidade.
Na segunda leitura, Paulo chama a atenção para a espera da parusia (segunda vinda de Cristo) como uma luta contra as forças das trevas, a começar em cada um de nós mesmos, depois no mundo. A espera pelo Senhor é um tempo de graça no qual todas as pessoas são chamadas a demonstrar em seus atos cotidianos que configuram a própria vida à de Cristo.
E o evangelho nos exorta que a espera pela vinda do Senhor deve ser marcada pela vigilância. O Senhor vem à semelhança de um ladrão. As pessoas estarão em suas ocupações diárias e serão tomadas de surpresa. A motivação interna com a qual realiza sua práxis é que determinará se a pessoa é cristã ou não.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 24,37-44): Ficai preparados
O texto do evangelho de hoje vem nos dar orientações sobre como esperar a segunda vinda de Cristo. A parusia é um tema frequente nos discursos de pregadores sensacionalistas com o intuito de comover as multidões. O Senhor ensinou o que necessitamos para esperar esse tempo. Tudo o demais é especulação inútil.
A vinda de Cristo será inesperada (vv. 37–39). E, para esclarecer isso, o texto faz duas comparações:
1) Noé – nenhum sinal especial (vv. 37–41). Para ilustrar o fato de que ninguém pode saber o dia e a hora (v. 36), Jesus cita o caso de Noé, quando, de repente, o dilúvio caiu inesperadamente sobre as pessoas enquanto cumpriam as rotinas diárias (vv. 37–39). A seguir descreve dois casos – um masculino e outro feminino – como exemplos de como será a parusia de forma totalmente inesperada (vv. 40, 41). As pessoas estarão em suas ocupações habituais. Quando Cristo vier, o tipo de ocupação da pessoa não determina ser escolhido ou não (vv. 40, 41; dos dois ocupados na mesma coisa um será escolhido e o outro não). Significa que os cristãos não são diferentes dos demais em suas ocupações, a diferença está na vivência dos valores do reino que motiva suas opções.
2) O ladrão – vigilância (v.43). A vinda de Cristo está anunciada e é certa, porém apenas Deus sabe quando será. O importante é estar preparado. E aquele que vive uma autêntica práxis cristã espera com constância a vinda de Cristo para instaurar o seu reino definitivo.
2. I Leitura (Is 2,1-5): Caminhai à luz do Senhor
Na primeira leitura de hoje, o profeta Isaías nos esclarece sobre a importância de Jerusalém nos tempos messiânicos. Por causa do Messias, o monte Sião, sobre o qual aquela cidade foi construída, se tornará o centro espiritual para todas as nações. O profeta pensa no Messias como um rei de um império mundial cuja capital seria Jerusalém. As nações do mundo inteiro, governadas pelo Messias, abandonarão seus ídolos e adorarão o verdadeiro Deus de Israel.
A Cidade Santa será o centro mundial de instrução e de irradiação da Palavra de Deus. As nações se encaminharão para Jerusalém porque reconhecerão que a Palavra de Deus (a Lei) é a fonte da verdade. Elas têm desejo de se aproximar do Senhor. Elas decidirão andar nos caminhos de Deus fazendo a vontade divina. Isso significa que as nações governadas pelo Messias não serão obrigadas a servir ao Deus de Israel, elas decidirão livremente adorá-lo.
Não haverá mais disputas, o rei da paz conciliará os povos e o monte Sião, ou seja, Jerusalém, capital do reino messiânico, será o local a partir do qual a paz e a justiça vão se propagar. As armas não terão mais nenhuma utilidade, por isso serão transformadas em ferramentas de trabalho. Isso mostra que a esperança messiânica do Antigo Testamento consistia principalmente na espera por um novo modo de viver. As atividades cotidianas permaneceriam, mas não teriam como motivação a discórdia e sim a paz. Numa interpretação cristã desse texto podemos afirmar que o profeta vislumbra o cristianismo, e se não constatamos esse estilo de vida nesses dois milênios de fé cristã talvez seja porque não vivemos verdadeiramente como cristãos, por não termos consciência do que seriam os tempos messiânicos instaurados por Jesus Cristo.
A vida nova que o profeta vislumbra para a era messiânica deve ser o mais profundo desejo dos seguidores do Cristo que aguardam a plenificação de sua obra salvífica, quando se manifestar a Jerusalém celeste onde todos viverão como irmãos na família de Deus. Ele será o sol da nova criação e todos os povos andarão à sua luz.
3. II Leitura (Rm 13,11-14a): Revistamo-nos das armas da luz
Paulo exorta os cristãos a tomarem consciência de que já estão vivendo na escatologia, ou seja, nos tempos finais, embora essa realidade ainda não seja plena. Portanto, a existência cristã, nesse tempo da graça (kairós) deve estar em conformidade com a vida de Cristo. Os cristãos são chamados a demonstrar através de seu estilo de vida que são seguidores de Cristo.
Os cristãos não devem ficar inertes, à semelhança de quem está dormindo, quando as circunstâncias exigem que lutem contra as trevas, a começar em si mesmo.
Paulo elenca uma lista de vícios (bebedeiras, contendas, ciúmes etc.) como exemplos do que seriam as obras das trevas (noite) em contraste com as obras do dia (vida nova em Cristo ressuscitado).
O cristão já está revestido de Cristo pelo batismo, mas essa identificação com Cristo deve dar frutos na vida cotidiana até que ele venha.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O esclarecimento sobre a identidade do cristianismo foi sempre uma preocupação desde os mais remotos tempos da era cristã. A Carta a Diogneto, escrita no século II d.C. por um autor desconhecido, assim descreve a vida cristã:
Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal (Carta a Diogneto 5,1-4).
A homilia deve dar um enfoque especial ao testemunho de vida como elemento essencial da identidade cristã e esclarecer sobre grupos que se apegam a aspectos superficiais distraindo as consciências da verdadeira vocação do cristão.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.

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Advento1401: "Vigiai!"
 Nesse domingo, inicia mais um Ano Litúrgico, no qual relembramos e revivemos os Mistérios da História da Salvação.
 NATAL e PÁSCOA centralizam as celebrações, que são vividas em três momentos: antes, durante e depois...
 Nesse Ano A, o Evangelho de Mateus terá uma atenção especial.
Com o Advento, entramos no tempo que nos prepara para o Natal do Senhor.
 A palavra ADVENTO significa "Vinda", chegada:
nos faz relembrar e reviver as primeiras etapas da História da Salvação, quando os homens se prepararam para a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em nossa vida a vinda de Cristo por ocasião do Natal.
 Nas duas primeiras semanas do Advento, vigilantes e alertas, esperamos a vinda definitiva e gloriosa do Cristo Salvador, e nas duas últimas semanas, lembrando a espera dos profetas e de Maria, preparamos mais especialmente o seu nascimento em Belém.
 A Liturgia de hoje é um veemente apelo à VIGILÂNCIA,
para acolher os Sinais de Deus.
 Na 1a Leitura, ISAÍAS profetiza a vinda de um descendente de Davi, que trará justiça e paz para o seu povo. (Is 2,1-5).
 É um dos oráculos mais bonitos de todo do Antigo Testamento.
Encarna a espera do Antigo Testamento e o Advento pré-cristão.
A um povo que vivia uma situação dramática de perigo de guerra, anuncia um futuro maravilhoso: fala de uma era messiânica, na qual todos os povos acorrerão a Jerusalém para adorar o único Deus.
As armas se transformarão em instrumentos pacíficos de trabalho e de vida.
   * O sonho do profeta começa a realizar-se em Jesus, mas estamos ainda muito longe dessa terra de justiça e de paz...
- O que podemos fazer para que o sonho de Isaías se concretize?
 Na 2a Leitura, Paulo nos convida a "acordar"
para descobrir os sinais do novo dia que já raiou e caminhar ao encontro da Salvação,
deixando as obras das trevas e vestindo as armas da LUZ. (Rm 13,11-14)
 O Evangelho é um apelo a uma VIGILÂNCIA permanente, para reconhecer o Senhor na sua chegada.
Será então a realização do sonho do Profeta. (Mt 24,37-44).
Para transmitir essa mensagem, Jesus usa três quadros:
 - O 1º Quadro é da humanidade na época de Noé:
  Os homens viviam numa alegre inconsciência, preocupados apenas em gozar a sua "vidinha" descomprometida.
  Quando o dilúvio chegou, os apanhou de surpresa e despreparados.
- O 2º Quadro fala dos trabalhos da vida cotidiana:
  podem nos absorver e prejudicar a preparação da Vinda do Senhor.
- O 3º Quadro coloca o exemplo do dono de uma casa, que adormece e deixa a sua casa ser roubada pelo ladrão.
 + O que significa "estar vigilante"?
- Será apenas estar sem pecado... para não ir para o inferno?
- Ou acolher as oportunidades de salvação, que Deus nos oferece?
 Jesus continua vindo, para nos salvar e nos trazer a felicidade.
E nós temos que estar sempre atentos para perceber cada vinda sua.
Ele está presente nas palavras de quem nos orienta para o bem, nos gestos de amor dos irmãos, no esforço de quem se sacrifica para construir um mundo mais justo e fraterno.
 Hoje, devido ao medo provocado pelo desemprego, fome e violência, assistimos ao fenômeno da busca de refúgio no sagrado.
Mas o excesso de alegria de certas práticas religiosas sem compromisso pode nos tirar a possibilidade de perceber a chegada do Senhor.
 - As celebrações festivas nos fazem mais vigilantes, mais acordados para a realidade que temos a obrigação de transformar ou funcionam como sonífero, que nos impedem de ver a chegada daquele que vem sem aviso prévio?     
+ Motivos que impedem a acolhida do Senhor que vem:
- Prazeres da vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada...
  No domingo, dorme... passeia... pratica esportes...
  mas não sobra tempo para celebrar a sua fé na Comunidade...
- Trabalho excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto:
   Deus, a família, os amigos, a própria saúde...
- Desatenção: o Distraído não vê o Cristo, presente na pessoa sofredora...  
  Acha que não é problema seu... é do governo... da Igreja...
 + Em minha vida, o que mais me distrai do essencial e me impede tantas vezes de estar atento ao Senhor que vem?
 + Como desejo me preparar para o Natal desse ano?
   - Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?
   - Ou numa atitude humilde e vigilante, a esse Cristo que vem?   
   - Participo da Novena do Natal em Família?
   - Que PAZ desejo construir?
                                                    Pe. Antônio G. Dalla Costa -02.12.2013
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Atenção! Deus chega a cada momento! Mateus 24,37-44 [Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino]
Terça-feira, 26 de novembro de 2013 - 15h43min
ATENÇÃO! DEUS CHEGA A CADA MOMENTO!
Mateus 24,37-44

Texto extraído do livro "Travessia: Quero misericórdia e não sacrifício". Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Mateus. Coleção A Palavra na Vida 135/136. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. Uma publicação do Centro de Estudos Bíblicos. Saiba mais em vendas@cebi.org.br.

SITUANDO
Chegamos ao quinto Sermão da Nova Lei. Cada um dos quatro Sermões anteriores iluminou um determinado aspecto do Reino. O primeiro: a justiça do Reino e as condições de entrada (Mt 5 a 7). O segundo: a missão dos cidadãos do Reino (Mt 10). O terceiro: a presença misteriosa do Reino na vida do povo (Mt 13). O quarto: viver o Reino em comunidade (Mt 18). O quinto Sermão trata da vigilância em vista da chegada definitiva do Reino. Mateus segue o esquema de Marcos, mas acrescenta algumas parábolas que falam da necessidade da vigilância e do serviço, da solidariedade e do julgamento.
No fim do século I, as comunidades viviam na expectativa da vinda imediata de Jesus. Elas diziam: "Quando Jesus passar eu quero estar no meu lugar!" E se perguntavam: "Quando Jesus vier, será que vou ser tomada ou vou ser deixada?"  Havia um clima semelhante ao de hoje, em que muitos dizem: "O fim do mundo vai chegar logo!" E se perguntam: "O que fazer para não ser pego de surpresa?" A resposta a estas indagações e preocupações encontramos no Sermão da Vigilância.

COMENTANDO
Mateus 24,37-41: Como nos dias de Noé - um será tomado, outro será deixado
Quem determina a hora da chegada do fim é Deus. Mas o tempo de Deus não se  mede pelo nosso relógio ou calendário. Para Deus, um dia pode ser igual a mil anos, e mil anos igual a um dia (Sl 90,4; 2Pd 3,8). O tempo de  Deus corre independentemente de nós. Nós não podemos interferir nele, mas devemos estar preparados para o momento em que a hora de Deus se fizer presente dentro do nosso tempo. Pode ser hoje, pode ser daqui a mil anos. O que dá segurança não é saber a hora do fim do mundo, mas sim a Palavra de Jesus presente na vida. O mundo passará, mas a palavra dele jamais passará (cf. Is 40,7-8).
Mateus 24,42-44: Vigilância - Jesus vem numa hora em que a gente menos espera
Deus vem quando a gente menos espera. Pode até acontecer que Ele vem e a gente não percebe a hora da sua chegada. Jesus pede duas coisas: uma vigilância sempre atenta e, ao mesmo tempo, uma entrega tranquila de quem está em paz. Tal atitude é sinal de muita maturidade, em que se misturam preocupação vigilante e tranquilidade serena e em que se consegue combinar a seriedade do momento com a consciência da relatividade de tudo.

ALARGANDO
Quando será o fim do mundo?
Quando dizemos "FIM DO MUNDO", de que mundo estamos falando? O fim do mundo de que Jesus fala é o fim deste mundo, onde reina o poder do mal que esmaga e oprime a vida. Este mundo de injustiça terá um fim. Ninguém sabe quando nem como será o fim deste mundo (Mt 24,36), pois ninguém pode imaginar o que Deus preparou para aqueles que o amam (1Cor 2,9). O novo mundo da vida sem morte ultrapassa tudo, como a árvore ultrapassa a sua semente (1Cor 15,35-38). Os primeiros cristãos estavam ansiosos para que este fim chegasse logo (2Ts 2,2). Ficavam olhando para o céu, esperando a chegada de Cristo (At 1,11). Alguns nem trabalhavam mais (2Ts 3,11). Mas "não compete a vocês conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com a sua própria autoridade" (At 1,7). A única maneira de contribuir para que chegue o fim e "venham da face de Deus os tempos do refrigério" (At 3,20) é dar testemunho do evangelho em todo canto, até os confins da terra (At 1,8).
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24 de novembro – 34º DOMINGO DO TEMPO COMUM – CRISTO REI
UM REINO PREPARADO PARA NÓS
I. INTRODUÇÃO GERAL
Ao longo do ano litúrgico, fizemos a experiência com Jesus que veio “para servir e não para ser servido”. Hoje celebramos a sua elevação à condição de rei. Todos os espectadores da crucifixão esperam que Jesus se livre da cruz, pois é isso que faria qualquer um dos poderosos desse mundo. A prova da realeza ou do poder de Jesus seria o fato de safar-se da cruz. Mas o reino do qual Jesus é rei não é deste mundo, isso significa que a autoridade dele não vem da terra. É um reino diferente, não estabelecido pelas forças das armas, mas com outro tipo de poder, a saber, a doação da própria vida na cruz para nos libertar do pecado e da morte. Nós já participamos do reinado de Jesus Cristo. E enquanto esperamos sua plenitude no fim dos tempos, devemos nos comprometer com seus valores, vivendo o “já” e o “ainda não” desse reino que irrompeu na história.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 23,35-43): Lembra-te de mim no teu reino
O trecho do evangelho de hoje nos mostra Jesus sendo crucificado entre dois malfeitores. Lucas o apresenta com traços típicos de um mártir que, com sua fidelidade e força de oração, obtém a salvação para seus perseguidores.
No Evangelho de Lucas, os que se encontravam com Jesus eram compelidos a fazer uma escolha: aderir ou rejeitar Jesus. Na hora de sua morte, ponto crucial do evangelho, o leitor é convidado a fazer sua escolha. Também aparecem aqui duas mentalidades que perpassaram todo o evangelho, duas maneiras de compreender o messianismo de Jesus. Entender a missão de Jesus é essencial para poder aderir ao seu projeto salvífico. São dois ladrões que representam duas compreensões messiânicas.
O primeiro ladrão representa aqueles que concebem um messias dotado de poderes prodigiosos, que deveria descer da cruz e libertá-los consigo. Assim, seria mais espetacular seu triunfo.
O outro ladrão é o oposto, pois reconhece em Jesus o enviado de Deus, um justo que não merecia estar ali. Este pede que Jesus se recorde dele quando estabelecer seu reino no momento “escatológico” (fim dos tempos).
A resposta de Jesus, suas últimas palavras, acentua o “hoje” de Deus: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Quem acolhe Jesus participa de forma definitiva da vida em Deus, não em um futuro distante, mas no hoje. Ou seja, o futuro escatológico da salvação plena já está presente. O paraíso não é um lugar, mas participação na felicidade com Cristo (cf. Fl 1,23). Lucas prefere não identificar o reino geograficamente, pois este se faz “dentro” de cada um (17,21). O reino começa a acontecer na vida daquele que acolhe Jesus e se deixa conduzir por ele. Estar com Jesus não significa simplesmente estar em sua companhia, mas participar de sua realeza.
Na cruz, Cristo aparece dispondo, ele mesmo, da sorte eterna de um homem. E isto é poder de Deus. Em Jesus se manifesta todo o amor de Deus, que desce ao nível mais baixo para elevar a si a criatura humana. Esse é o poder do amor.
2. I Leitura (2Sm 5,1-3): Rei e pastor
Os anciãos, ou seja, os líderes das tribos de Israel reconhecem Davi como escolhido de Deus para “apascentar” e “chefiar” o povo. São esses os critérios para a escolha de Davi como “rei” de todo o Israel: (1) parentesco entre o rei e o povo (são uma só carne e ossos), isto é, o monarca vai agir com a mesma preocupação que um pai de família tem para com seus filhos; (2) experiência para defender as tribos contra os inimigos; (3) e principalmente, reconhecimento dos sinais divinos de que Davi fora escolhido por Deus para essa função de líder.
Em vez do verbo “reinar”, o texto de 2Sm 5,2b usa o termo “apascentar” ou “pastorear”, da mesma raiz (hebraica) de “acompanhar” e de “ser amigo”. A tarefa principal do “rei” é proteger, além de conduzir e de cuidar. Conforme Ez 34,23, o vocábulo “pastor” era aplicado aos reis. O texto litúrgico também destaca que Davi será “chefe”, no sentido hebraico isso significa que ele terá autoridade limitada e estará subordinado a outro poder, pois somente Deus é rei sobre Israel. A liderança era carismática, ou seja, escolhida por Deus, e o poder era exercido como representatividade.
O líder de Israel jamais seria um rei no sentido próprio do termo, mas um mediador entre Deus e o povo. E sua principal função era assegurar a realeza de Deus sobre as pessoas. Em relação ao povo, a mediação consistia em promover o bem-estar de todos por meio do exercício da justiça e da defesa militar. Em relação a Deus tratava-se, principalmente, de promover a obediência ao propósito divino expresso na aliança.
A verdadeira realeza, de Deus, tornava condicional a função do chefe do povo. O líder de Israel recebia a missão de governar, através de uma eleição popular unida à unção divina (um oráculo profético). Dessa forma o líder de Israel era escolhido por Deus e pelo povo.
Considerando-se que o único rei de Israel era Deus, a liderança tornava-se, também temporária. O rei poderia ser deposto a qualquer momento caso não exercesse adequadamente as funções para as quais tinha sido escolhido.
3. II Leitura (Cl 1,12-20): O reino de seu Filho bem amado
Esse hino da Carta aos Colossenses é um dos mais antigos cânticos de ação de graças do Novo Testamento. Muito anterior à própria epístola na qual hoje se encontra, era cantado durante a celebração da fração do pão, modo como a Eucaristia era chamada antigamente.
Como um dos hinos mais importantes do Novo Testamento, exalta a ação de Cristo como mediador da redenção e da nova criação e sua atuação no mundo em todos os tempos. A ressurreição de Cristo ocupa papel central, ela faz a conexão entre o senhorio de Cristo sobre a história, sobre o cosmos e sobre a igreja.
A afirmação inicial é que Deus fez um ato de libertação, quer dizer, resgatou a humanidade de uma situação de opressão, identificada com a expressão “império das trevas” ou “tirania das trevas”. Esse resgate implica num traslado que foi feito de uma tirania para o reino de seu Filho bem amado. Essa metáfora era repleta de sentido naquela época, já que uma situação oposta era muito corriqueira: ver uma multidão de pessoas sendo levadas cativas de um reino a outro.
O reino é descrito como pertencendo ao seu Filho bem amado, ou numa tradução literal, “Filho do seu amor”, ou seja, em quem Deus depositou todo o seu amor. Esse reino, assim descrito, é poder de Deus em ação a favor da humanidade por meio da vida de Cristo.
Esse traslado significa que o reino irrompeu na história, então não devemos esperar o final dos tempos para participarmos dele. Mas essa participação exige do ser humano um compromisso radical que poderá trazer conflitos com os antivalores do mundo.
Estamos esperando o pleno desabrochar do reino no fim dos tempos, mas a celebração de hoje nos exorta que já estamos no reino de Deus. Temos que viver o “já” e o “ainda não” de sua plenitude.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.

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Comum1334: Nosso Rei

Com a solenidade de Cristo, REI DO UNIVERSO,
encerramos hoje o Ano Litúrgico (Ciclo C).
 Os reinos estão, hoje, muito desacreditados.
No entanto, na Bíblia, o tema é muito usado, no Antigo e no Novo Testamento.
 Nesta celebração em honra de Cristo Rei do universo, participamos da sua realeza, confirmada na cruz.
 Na 1ª Leitura Davi é ungido REI de todas as tribos de Israel. (2Sm 5,1-3)
 O seu reino tornou-se símbolo do Reino de paz e de justiça, que um dia Deus teria instaurado na terra.
Os Profetas prometeram a chegada de um descendente de Davi, que iria realizar esse sonho.
Israel esperou durante muitos séculos essa Vinda.
 O Evangelho apresenta a realização dessa promessa:
o NOSSO REI preside esse Reino no Trono da CRUZ.
O Bom Ladrão reconhece sua realeza. (Lc 23,35-43)
 A Cena é surpreendente e decepcionante para os homens.
Cristo não aparece sentado num trono de ouro, mas pregado numa cruz, com uma horrível coroa de espinhos na cabeça, com uma irônica inscrição pregada na cruz:
"Jesus Nazareno REI dos Judeus".
 Ele não está rodeado de súditos fiéis, que o louvam, mas dos chefes dos judeus que o insultam, e dos soldados que o escarnecem.
Nada o identifica com poder, com autoridade, com realeza terrena.
 - Contudo, a inscrição, irônica aos olhos dos homens, descreve com precisão a situação de Jesus, na perspectiva de Deus:
Ele é "rei", que preside, da cruz, a um "Reino" de serviço, de amor, de entrega, de dom da vida.
 - O quadro é completado por uma cena bem significativa...
Ao lado de Jesus estão dois malfeitores, crucificados com ele.
Enquanto um o insulta, representando os que recusam a proposta do "Reino", o outro, no suplício da cruz, reconhece a realeza de Jesus e pede um lugar nele. Jesus lhe garante: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso".
 * A cruz é o Trono, em que se manifesta plenamente a realeza de Jesus, que é perdão e vida plena para todos.
   A Cruz é a expressão máxima de uma vida feita Amor e Entrega;
 A 2ª leitura é um Hino Cristológico da Liturgia da Igreja primitiva, que acentua a Soberania absoluta de Cristo na Criação e na Redenção.  
Cristo é o CENTRO da vida e da história. (Cl 1,12-20)
 O Salmo expressa a alegria dos peregrinos que sobem a Jerusalém e encontram o Senhor (Sl 122)
 + A liturgia define esse Reino:
"Seu Reino, Eterno e Universal, é o Reino da Verdade e da Vida, Reino da Santidade e da Graça, Reino da Justiça, do Amor e da Paz". (Prefácio)
 + Lendo o Evangelho, vemos que:
- A Missão de Cristo nessa terra foi precisamente inaugurar o Reino de Deus...
- A Missão da Igreja consiste em continuar na História.
  o anúncio do Reino de Deus e convocar os homens para construí-lo na terra.
- Jesus nos convida a fazer parte desse Reino e a trabalhar para que esse Reino chegue ao coração de todos.
   É justamente essa a missão do LEIGO, cuja festa hoje celebramos:
   Ser "Protagonista da Evangelização". (Santo Domingo)
 É também o que ele nos convida a rezar no Pai Nosso:
"Venha a nós o vosso Reino!"
 + Celebrar a festa de Cristo Rei
- Não é celebrar um Deus forte, dominador, que se impõe aos homens do alto de sua onipotência e que os assusta com gestos espetaculares;
- é celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor.
  A CRUZ é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida.
 + Por isso, a festa de Cristo Rei nos convida a repensar
   a nossa existência e os nossos valores.
 - Diante deste "rei" despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem completamente ridículas as nossas pretensões de honras, de glórias, de títulos, de aplausos, de reconhecimento?
- Diante deste "rei" que dá a vida por amor, não nos parecem completamente sem sentido
  as nossas manias de grandeza, as lutas para conseguirmos mais poder, as invejas mesquinhas, as rivalidades que nos magoam e separam dos irmãos?
- Diante deste "rei" que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?
Certamente nos sentimos felizes em sermos cidadãos desse Reino.

Por isso, alegremo-nos dessa dignidade e façamos com que ele tenha um lugar sempre maior dentro de nosso coração...

                                                          Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa -24.11.2013

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Cristo, um rei servidor - Raymond Gravel
Sexta-feira, 22 de novembro de 2013 - 7h50min
por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
Eis o texto.
Festejar Cristo, Rei do Universo, é uma outra maneira de celebrar a Páscoa. Essa festa termina bem o ano litúrgico. Sem morte-ressurreição, a festa de hoje não teria nenhum sentido. De que realeza estamos falando? Que tipo de rei reconhecemos? Como dizia o biblista Jean-Pierre Prévost: "Para ser honesto com vocês, devo dizer francamente que não tenho nenhuma prelileção particular pela realeza e que, em si, o título de rei aplicado a Jesus não é aquele que mais me inspira". Por essa razão, devemos redefinir a realeza, caso quisermos aplicá-la ao Cristo ressuscitado na Igreja de hoje; caso contrário, corremos o risco de associar Cristo a um monarca igual a todos os outros e que nos faria perder de vista o que Cristo foi e ainda é na Igreja de hoje. Infelizmente, alguns dirigentes da Igreja com frequência confundiram a realeza de Cristo com aquela dos homens, a ponto de deformar o rosto de Jesus. Felizmente, em cada época, houve discípulos, homens e mulheres, que souberam devolver ao Cristo a sua verdadeira realeza, que consiste em servir e não em ser servido.
1. A problemática da realeza
Jean-Pierre Prévost escreve: "A história da realeza em Israel começou mal. Foi a contragosto que o profeta Samuelacabou por consagrar Saul primeiro rei de Israel, para responder à demanda do povo que queria ser como todas as outras nações" (1 Sm 8,5). Podemos acrescentar que esse não teve um sucesso real. E por quê? Simplesmente porque o poder corrompe e o prestígio sobe à cabeça daqueles que exercem o poder. É evidente que na história deIsrael houve reis melhores que outros; pensemos em Davi ou em Salomão. Mas esses dois reis, que a tradição bíblica soube embelezar, tornando-os símbolos idílicos, a história mostra que também eram muito humanos, portanto, limitados e pecadores.
No fundo, a Bíblia nos ensina que Deus não queria reis, porque a experiência da realeza era bastante negativa e a história de Israel é a prova disso, uma vez que a realeza não durou mais do que 400 anos e terminou de maneira trágica com o exílio de Sedecias para a Babilônia. O que Deus queria era um rei servidor e não um príncipe que dirige e que explora o seu povo. Esta má experiência da realeza permitiu ao povo de Israel purificar sua fé e imaginar um rei ideal, que seria um verdadeiro pastor e que viria estabelecer um reino de justiça e de paz a serviço dos pobres e dos desafortunados. Esse rei nós o reconhecemos no Cristo Pascal.
2. Cristo, Rei do Universo
Foi somente em 1925 que nasceu esta festa e não é pelas mesmas razões que nós continuamos a celebrá-la hoje. Jesus nunca se declarou rei; pelo contrário, o evangelho nos ensina que esse título foi dado a ele de maneira irônica e sarcástica por um rei, Herodes, e por um representante de César, Pôncio Pilatos... Jesus se defendeu: "Pilatosdisse a Jesus: ‘Então tu és rei?' Jesus respondeu: ‘Você está dizendo que eu sou rei'" (Jo 18,37a). Por outro lado, se dizemos que Cristo é rei, é porque reconhecemos nele o servidor que quis estabelecer o reino de justiça e de paz, tão desejado pelos homens e pelas mulheres do seu tempo. Mas ele não tem nada de outro rei: seu trono é a cruz; sua coroa é de espinhos e seu cetro é seu bastão de pastor. O evangelho de Lucas o apresenta, ao mesmo tempo, como um rei sem poder - "Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo" (Lc 23,37) - e como um rei muito humano, de sorte que o ladrão crucificado com ele que o interpela, não lhe diz: Majestade ou Senhor, ou Mestre ou ainda Sua Santidade ou Monsenhor... Não! Ele o chama de Jesus: "Jesus, lembra-te de mim quando vieres em teu Reino" (Lc 23,42). Esse bandido torna-se o primeiro sujeito do Reino: "Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará comigo no Paraíso" (Lc 23,43). É o que fez São João Crisóstomo dizer: "Fiel à sua profissão de ladrão, ele rouba por sua confissão o reino dos céus".
3. Atualização
Atualmente, temos necessidade de reler este evangelho para celebrar Cristo, Rei do Universo. É preciso nos perguntar: como sociedade e como Igreja, que tipo de rei apresentamos? Que rosto de Cristo mostramos às mulheres e aos homens do nosso tempo? Quantos políticos e lideranças da Igreja exercem o seu poder como monarcas déspotas e cruéis que têm coração muito mais para enriquecer do que servir a coletividade, a comunidade? Na Igreja, quantas dores foram infligidas aos cristãos(as) por lideranças principescas que acreditaram ser os únicos detentores da verdade?
Há alguns anos, o Papa João Paulo II pediu perdão pela Igreja do Renascimento; o cardeal Marc Ouellet fez o mesmo pela Igreja de Quebec antes de 1960, por todos os sofrimentos infligidos às mulheres, aos autóctones, aos judeus, às crianças, aos homossexuais... A reação das pessoas foi muito negativa. Homens, mulheres, membros do clero criticaram duramente tanto o Papa como o cardeal. Diziam que seu perdão era incompleto e condicional; não acreditavam em sua sinceridade. De sorte que o jornalista do jornal Presse, Alain Dubuc, resumiu bem o pensamento de muitos quebequenses sobre o cardeal Marc Ouellet, durante sua passagem pela Comissão Bouchard-Taylor, em 2007. Ele escreve: "Com seu ardor e sua carta de perdão, o cardeal Ouellet conseguiu nos lembrar porque os quebequenses rejeitaram em massa e tão brutalmente a sua Igreja durante os anos 1960. As reações foram muito vivas, porque Ouellet, com sua rigidez e sua arrogância, nos mergulha novamente neste período que os mais velhos dentre nós querem esquecer. Ouellet, eu o digo pesando minhas palavras, após uma leitura atenta das suas intervenções públicas, é um reacionário no sentido mais forte da palavra, alguém que se insurge contra a evolução da sociedade que o cerca, que quer resistir às mudanças e que defende as práticas e os valores que pertencem ao passado".
Pessoalmente, acredito sinceramente que algumas lideranças eclesiais de hoje fazem muito mais mal à Igreja do que a ajudam; eles encarnam esta Igreja que os quebequenses não querem mais: uma Igreja dogmática e doutrinal que sempre exclui as mulheres, uma Igreja homofóbica que condena os homossexuais, uma Igreja obcecada pela sexualidade, uma Igreja que rejeita aquelas e aqueles que vivem um fracasso em seu casamento e que querem continuar a amar, uma Igreja que acredita ser a única detentora da verdade sobre Deus e sobre o mundo, uma Igreja que recusa qualquer evolução e qualquer mudança na sociedade, uma Igreja que não está a serviço do povo de Deus, mas que se serve dos cristãos para aumentar seu prestígio e seu poder. Com uma Igreja assim, estamos longe do Evangelho e, como durante muito tempo encontramos nela esses príncipes, não deveríamos nos surpreender ao ver mulheres e homens se afastarem desta instituição que lhes parece completamente ultrapassada. Felizmente, há o Papa Francisco que nos faz ter esperança e que se junta a todos os bispos, padres religiosos(as), cristãos que continuam a acreditar e que tanto gostariam de viver o evangelho hoje, apresentando um rosto de Cristo amável, misericordioso, tolerante, aberto, livre, justo, respeitoso do outro, dos outros, compassivo: um rosto de Cristo que faz o homem e a mulher na Quebec de hoje ter esperança.
Concluindo, eu gostaria de citar novamente o Alain Dubuc em sua reflexão sobre a Igreja e sua aproximação negativa ao cardeal Marc Ouellet: "De acordo com o cardeal Ouellet, um povo não pode se esvaziar tão rapidamente da sua essência sem consequências graves. De onde a confusão da juventude, a queda vertiginosa dos casamentos, a taxa ínfima de natalidade e o número espantoso de abortos e de suicídios para elencar apenas algumas das consequência que se somam às condições precárias dos idosos e da saúde pública. Esse retrato apocalíptico apaga convenientemente as misérias desta época passada, os efeitos da pobreza e da ignorância. Ele atribui à revolução silenciosa um fenômeno que encontramos em todas as partes do Ocidente. E o mais importante, ele se esquece de perguntar se este abandono brutal da religião não se deve às falhas da Igreja mais do que aos complôs dos artistas da revolução silenciosa.
A Igreja, em vez de acompanhar seus fiéis em um período de mudanças difíceis, os abandona, orgulhosa de sua rigidez, e dessa maneira falha em sua missão. Outras Igrejas, portadoras dos mesmos valores, escolheram um outro caminho, especialmente os anglicanos,  nossa Igreja irmã, onde os padres são casados, onde se ordena mulheres e onde o casamento gay começa, com dificuldades, a ser aceito.
De fato, o que é mais prejudicial é que a alternativa de Ouellet, uma iniciativa individual, compromete o verdadeiro diálogo no qual se engajaram muitos de seus colegas. Mas seria assombroso se tivesse um grande impacto, eleitoral ou qualquer outro, porque o cardeal está se tornando num personagem marginal para os menores de 70 anos. Exceto para nos lembrar porque a separação entre a Igreja e o Estado é tão boa".

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17 de novembro – 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM
LEVANTAR-SE-Á O SOL DA JUSTIÇA
I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia de hoje aborda o tema do julgamento, mostrando que Deus não pode ser manipulado nem comprado. O “tribunal” de Deus não favorece uns em detrimento de outros. Por isso, quem clama por justiça verá que ela acontecerá. No entanto, em Deus justiça e misericórdia andam juntas e não são contrárias uma à outra. Deus é justo sendo misericordioso, e é misericordioso sendo justo.
O tema do julgamento está vinculado ao do último dia. Muitas pessoas temem falar sobre esse assunto, mas a liturgia nos adverte que é necessário estar sempre preparados enquanto o Senhor não vem. A ênfase dada pelos textos não se concentra no medo do inferno nem em eventos históricos desastrosos nem em cataclismos da natureza. Os textos focalizam a ação de Deus na destruição do mal, na implantação da justiça sobre a terra e na ação dos cristãos, a saber, dar o testemunho de fé.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 21,5-19): Não tenhais medo
O texto de hoje utiliza-se de um recurso literário muito usado na apocalíptica judaica, o testamento de herói. É uma das formas de mostrar a continuidade da história, do plano divino da salvação em tempos difíceis. Consiste, principalmente, em discursos do pseudoautor antes da própria morte/ascensão, nos quais desvela o futuro dos destinatários e faz exortações a que permaneçam na fidelidade a Deus. Por meio desse recurso literário, o verdadeiro autor interpreta para os seus contemporâneos os acontecimentos desastrosos, e assegura-lhes que Deus fará os fiéis vitoriosos sobre o mal.
O texto começa com a observação sobre o templo de Jerusalém, e prossegue com a afirmação de Jesus de que tudo será destruído. As palavras de Jesus querem responder a duas perguntas: quando vai acontecer e quais os sinais indicativos da proximidade do fim dos tempos. Essas perguntas são fundamentais para as comunidades do final do século I d.C.
Jesus diz aos discípulos quais são os sinais; estes não são uma indicação da proximidade do fim dos tempos, mas uma garantia de que certamente a parusia virá. Por isso, os discípulos não devem ter medo diante dos rumores sobre o fim, pois o dia e a hora não são conhecidos. Enquanto a parusia (a vinda de Cristo) não acontece, os discípulos são exortados à fidelidade, principalmente em tempos de perseguição, como é desenvolvido nos vv. 12-17. Contudo, o mais importante é saber que quando chegar o fim será pelo testemunho de fé que os discípulos serão salvos.
2. I Leitura (Ml 3,19-20a): Sereis livres
O texto de Malaquias enfrenta o problema do malvado que prospera enquanto o justo sofre. É compreensível se fazer certas perguntas: que vantagem há em ser bom? De que vale praticar os mandamentos?
A resposta encontrada pelo profeta é que Deus cuida de nós, isto é, não estamos sozinhos quando sofremos e no “Dia do Senhor” a justiça triunfará.
O autor do texto usa a imagem do fogo reduzindo uma árvore a cinzas, para afirmar que o mal será completamente eliminado do mundo, não restará mais nenhuma maldade, nem seus ramos nem suas raízes (3,19).
A Bíblia também se serve do simbolismo do sol para enfatizar a mesma ideia. No contexto em que o profeta vivia, o sol era tido como dispensador de calor e de vida, de luz e de justiça porque sempre brilha para todos. Quando amanhecer o “Dia do Senhor”, a justiça vai brilhar e o último rastro de maldade será varrido da terra.
3. II Leitura (2Ts 3,7-12): Permaneçais firmes
Para a mentalidade dos tessalonicenses, o ser humano se realiza essencialmente na sua dimensão espiritual alienada das realidades terrenas. O trabalho manual era visto como algo degradante. Partindo da mentalidade judaica, o autor afirma que a condição corporal do ser humano não é algo negativo como se fosse um castigo, portanto, o trabalho manual dignifica o ser humano.
Os espiritualistas, que apregoavam o final dos tempos para breve, estavam criando um clima de ansiedade e de tanto frenesi que não havia mais lugar para as tarefas cotidianas. O autor convoca os tessalonicenses para permanecer firmes tendo o Apóstolo como exemplo.
O autor da carta não é um fanático, ainda que espere ardentemente pela volta de Jesus ele exorta os cristãos a viver na fidelidade a Deus e a comprometer-se plenamente com suas tarefas e obrigações terrenas.
Quando essa carta foi escrita, não somente o ensinamento de Paulo, mas a própria vida do apóstolo exercia uma influência muito grande dentro da comunidade, a ponto de ele ser citado como exemplo a ser imitado.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Os textos de hoje têm o objetivo de animar os cristãos em sua caminhada de fé mediante os desafios enfrentados em circunstâncias de perseguição. Quer incentivá-los a permanecer fiéis e a dar testemunho de sua fé, enquanto esperam a vinda gloriosa de Jesus Cristo.
A imagem que o evangelho apresenta sobre catástrofes não deve ser tomada ao pé da letra. São imagens próprias do gênero literário apocalíptico. Querem ressaltar a mudança radical que acontecerá com a chegada do reino de Deus. Esse simbolismo apenas enfatiza que o “mundo” presente, dominado pelo mal, será destruído para que surja então um mundo novo, onde o mal não existe.
É importante deixar claro que a justiça divina não se assemelha a dos homens (facilmente manipulada pela vingança, por leis excludentes e distorcidas). Deus não se deixa manipular por ninguém. Sua justiça é temperada com misericórdia.
Também se deve dar um destaque para o v. 8: “Tomai cuidado para não serdes enganados”. O que se quer ressaltar com isso é que os cristãos não devem se deixar enganar por discursos sensacionalistas que pregam o fim do mundo, fruto de uma leitura literal desse texto bíblico. Nem tampouco se deixar seduzir por doutrinas que semeiam o medo de um juízo implacável de Deus. Esse tipo de doutrina gera fanatismo e uma vida alienada da realidade, na qual se busca uma via de “santidade” fora do mundo, sem nenhum comprometimento com a transformação da realidade pelo testemunho de uma vida em Deus.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.

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Comum 1333: "Levantai a cabeça"
 Estamos no penúltimo domingo do Ano litúrgico.
 As Leituras bíblicas são um prelúdio desse encerramento, convidando-nos a refletir sobre o fim dos tempos.
A meta final, para onde Deus nos conduz, faz nascer em nós a esperança e a coragem para enfrentar as adversidades e lutar pelo Advento do Reino.
 Na 1a leitura: Malaquias descreve o "Dia do Senhor". (Mal 4,1-2)
 - O Povo de Israel tinha voltado do exílio com muitas promessas de um futuro maravilhoso, um reino de paz, de bem estar e de justiça.
Mas, o que ele vê é o contrário. Por isso, começa a manifestar a desilusão.
- Malaquias, numa linguagem profética, dirige palavras de conforto e esperança.
Deus não abandona o seu povo. Vai intervir na história, destruindo o mal e fazendo triunfar o Bem, a Justiça e a Verdade.
 * O texto não pretende incutir medo, falando do "fim do mundo", mas fortalecer a ESPERANÇA no Deus libertador para enfrentar os dramas da Vida e da História, Esperança que devemos ter ainda hoje, apesar do que vemos...
 A 2a Leitura fala da comunidade de Tessalônica, perturbada por fanáticos que pregavam estar próximo o fim do mundo. Por isso, não valia mais a pena continuar trabalhando.
Paulo apresenta o exemplo de trabalho de sua vida e acrescenta:
"Quem não quer trabalhar, também não deve comer..." (2Ts 3,7-12)
 *  O TRABALHO é o melhor jeito de se preparar para a vinda do Senhor.
 No Evangelho, temos o Discurso Escatológico, em que aparecem três momentos da História da Salvação:
A destruição de Jerusalém, o tempo da Missão da Igreja e a Vinda do Filho do Homem. (Lc 21,5-19)
 - Lucas escreveu o evangelho uns 50 anos depois da morte de Cristo.
  Durante esse tempo, aconteceram fatos terríveis:
  guerras, revoluções, a destruição do Templo de Jerusalém, a perseguição dos cristãos por parte dos judeus e dos romanos.
 - Para muitos eram sinais do fim do mundo...
  Lucas, com palavras do próprio Mestre, indica duas atitudes:
     . Não se deixar enganar por falsos profetas.
     . Não perder a esperança, Deus está conosco.
 - Os Discípulos mostram a Jesus com orgulho a grandiosidade do TEMPLO...
- Jesus não se entusiasma com essa estrutura, para ele já superada, e anuncia o fim desse modelo de sociedade e o surgimento de outra:
   "Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra... Tudo será destruído."
  - Diante disso, curiosos, querem saber mais informações:
    "Quando acontecerá isso? Qual vai ser o sinal?"
  - Jesus responde numa linguagem apocalíptica, misturando referências à queda de Jerusalém e ao fim do mundo:
    "Haverá grandes terremotos... fome e peste... aparecerão fenômenos espantosos no céu...
 + Jesus alerta sobre os falsos profetas: Não se deixar enganar:
   "Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome... Não sigais essa gente".
 * Ainda hoje muitas pessoas falam em nome de Jesus, dando respostas fantasiosas produzidas por motivações pessoais.
   Não é prudente acreditar em tudo o que se diz em nome de Jesus. 
 + Jesus exorta à esperança: Não ter medo...
   Esses sinais de desagregação do mundo velho não devem assustar, pelo contrário são anúncio de alegria e esperança, de que um mundo novo está para surgir.
  "Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se, ERGAM A CABEÇA, porque a Libertação está próxima". (Lc 21,28)
 * Jerusalém deixa de ser o lugar exclusivo e definitivo da salvação;
   começa o tempo da Igreja, em que a Comunidade dos discípulos   testemunharão a Salvação a todos os povos da terra.
 + As catástrofes continuam ainda hoje...
   Guerras, revoluções, terrorismo infernizam por toda parte...
   Muita gente morre de fome, o aquecimento global é ameaçador;
   ciclones, terremotos e maremotos se multiplicam.
   Parece mesmo o fim de tudo.
   Os discípulos não devem temer: Haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.
   No Discurso escatológico, Jesus define a missão da Igreja na História:
   Dar testemunho da Boa nova e construir o Reino.
 Qual é a nossa atitude diante do mundo catastrófico em vivemos?
 * Desperdiçamos o nosso tempo, ouvindo histórias de visionários, acreditando mais em revelações privadas, do que na Palavra do evangelho?
 * Temos a certeza de que não obstante todas as contrariedades, o mundo novo, o Reino de Deus, um dia certamente triunfará?
 * Diante de tantas dificuldades, nos deixamos levar pelo desânimo ou acreditamos de fato na vitória final do Reino de Cristo?
  à Cristo nos garante:
     "Coragem, LEVANTAI A CABEÇA, porque se aproxima a libertação".

          Pe.  Antônio Geraldo Dalla Costa – 17.11.2013


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É pela perseverança que mantereis vossas vidas (Lc 21,5-19) Ildo Bohn Gass

Terça-feira, 12 de novembro de 2013 - 10h02min
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                     Ildo Bohn Gass é biblista do CEBI. É autor de "Satanás e os demônios na Bíblia".

O pano de fundo
Hoje, sabemos que o evangelho segundo Lucas foi escrito na última década do primeiro século. Nessa época, a guerra de luta pela liberdade por parte da nação judaica diante da ocupação romana já havia acontecido fazia mais de 30 anos (66-70 d.C.): "Quando ouvirdes falar de guerras e subversões, não vos atemorizeis, pois é preciso que primeiro aconteça isso. Mas não será logo o fim. Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino" (21,9-10).
Também o templo já se encontrava em ruínas, uma vez que fora destruído sob o comando do general romano Tito em 70 d.C.: "Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida" (21,6).
Igualmente, já era uma realidade a perseguição a Jesus e às lideranças das comunidades por parte dos romanos, através de seus poderes dependentes na Palestina ou diretamente pelos imperadores Nero em Roma (54-68 d.C.) e Domiciano em todo o império (81-96 d.C.).
Da mesma forma, autoridades de sinagogas perseguiam e expulsavam judeus que haviam aderido a Jesus: "Hão de vos prender, de vos perseguir, de vos entregar às sinagogas e às prisões, de vos conduzir a reis e governadores por causa do meu nome" (21,12).
Além disso, o evangelista recorda a crise que a boa-nova de Jesus gerou nas famílias especialmente judaicas. As pessoas que aderiam às comunidades eram "traídas pelo próprio pai e pela mãe, irmãos, parentes e amigos", gerando mortes e ódio (21,16-17).
A isso ainda se pode acrescentar que, no início dos anos 60, houve dois fortes terremotos no império romano. Um foi em 61 d.C. em Laodiceia, no oeste da atual Turquia. O outro foi em 62 d.C. na região de Pompeia, na Itália. O texto de Lucas também se refere a esses acontecimentos trágicos: "E haverá grandes terremotos" (21,10).
Todos esses fatos servem de pano de fundo para nossa narrativa. Eles são relidos fundamentalmente em duas perspectivas. Uma é a partir da experiência com Jesus de Nazaré, inserindo em sua profecia o anúncio desses acontecimentos. Dessa forma, os autores do evangelho retroagem esses fatos até a época de Jesus. A outra é a não realização da expectativa da parousia (presença, chegada) iminente de Jesus, como se esperava. Esta narrativa é uma advertência às comunidades para não se deixarem enganar, pois muitos viriam anunciando a proximidade da chegada de Jesus ou, até mesmo, se apresentando como a presença dele (21,8-9).

Jesus denuncia o sistema injusto do templo e anuncia o seu fim (21,5-6)
Nosso texto para reflexão na liturgia deste final de semana situa Jesus em Jerusalém nos dias que precedem a sua violenta morte imposta a ele por ser fiel ao Pai no anúncio de uma boa-nova aos pobres (4,18-19). E, no templo, Jesus presencia o gesto mais divino que há sobre a face da terra, isto é, a partilha protagonizada pela viúva pobre. Sua atitude é a única coisa boa que Jesus encontrou no templo de Jerusalém. E se encanta com esse gesto de uma mulher tão vulnerável e empobrecida (21,1-4).
Outro é o motivo de admiração dos discípulos. Maravilhavam-se pelas valorosas ofertas para pagar promessas e pelas impressionantes pedras com que estava construído o templo (21,5-6). Para a surpresa deles, Jesus denuncia a injustiça desse centro religioso, político e econômico da Judeia.  É o que ele deixou bem claro ao, "entrando no templo, expulsar os vendedores, dizendo-lhes: está escrito: minha casa será uma casa de oração. Vós, porém, fizestes dela um covil de ladrões" (19,45-46; cf. Isaías 56,7; Jeremias 7,11). Ao mesmo tempo, Jesus anuncia o fim dessa instituição, pois "dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida" (21,6).
Nesse sentido, ao inserir-se na linha profética, Jesus se antecipa a Marx na crítica à religião quando esta serve como fonte de injustiça, de alienação e de ópio para povo. O papel do templo é promover vida, é ser lugar de encontro com Deus como casa do Pai (2,49). Jesus mesmo é esse lugar em que o divino se humaniza e o humano é divinizado. Para as comunidades cristãs, partindo do fato histórico da destruição do templo, referem-se ao Antigo Israel como quem abandonou a Aliança, dando lugar à boa-nova do reinado de Deus vivido pelas comunidades, e que são o Novo Israel. Agora, a referência fundamental não é mais o templo, mas a pessoa de Jesus.

Discernir, ter coragem, testemunhar com sabedoria e perseverar (21,7-19)
Depois que Jesus apresenta seu projeto em relação ao templo, os discípulos perguntam a respeito da época em que isso deveria acontecer e do sinal que viria antes. Mais do que responder às perguntas, Jesus convida ao discernimento, ao testemunho e à perseverança.
Diante da insegurança dos conflitos acima lembrados, o evangelho quer animar e confortar, orientar e advertir as comunidades, dizendo que a destruição de Jerusalém e do templo ainda não é o fim deste mundo injusto (21,9).
Desse modo, ainda é preciso discernimento: "Atenção para não serdes enganados" (21,8). E mais, é preciso ter coragem, superar o medo: "Não vos atemorizeis!" (21,9). Além das guerras (21,9-10), o evangelista lembra também, em linguagem apocalíptica, os abalos cósmicos. Embora os terremotos, as pestes e a fome fossem realidades históricas, aqui também são citados junto com "fenômenos pavorosos e grandes sinais vindos do céu" (21,11). Essa linguagem apocalíptica é comum para se referir a uma realidade nova que está por vir, totalmente diferente da violência das guerras e da ocupação das colônias pelo império colonialista de Roma. E essa nova realidade já está sendo gestada nas relações de justiça vividas nas comunidades.
Em meio às perseguições, é preciso continuar dando testemunho e reafirmando a fé, mesmo que isso leve ao martírio. Em grego, a palavra que traduzimos por testemunho é martiría (21,13). Nesse testemunho, as comunidades não estão sós, pois o Espírito de Jesus ressuscitado está com elas, de modo que possam resistir com sabedoria e eloquência (21,14-15).
Discípulas e discípulos de Jesus não devem deixar-se enganar, mas perseverar, pois "é pela perseverança que mantereis vossas vidas" (21,19). As comunidades esperam, confiam e perseveram com fé na vitória de Deus. Perseverar não é aguardar de braços cruzados, mas engajar-se na superação de todas as forças do mal, resistindo com sabedoria e já vivendo hoje as relações que esperamos para todo o mundo amanhã.
Senhor, ajuda-nos no discernimento dos teus sinais em nossos tempos, para não sermos enganados por tantas mentiras e ilusões. Dá-nos coragem, ó Deus, para testemunharmos teu amor diante de tanta violência, muitas vezes legitimada em teu nome. Concede-nos sabedoria para seguirmos com perseverança no cuidado da vida. Amém!

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10 de novembro – 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM
O DEUS DOS VIVOS E NÃO DOS MORTOS
I. INTRODUÇÃO GERAL
A fé na ressurreição é algo recente para o mundo antigo e não foi aceita por todos. Acreditar na ressurreição era um escândalo no mundo pagão. Jesus explica o fato da ressurreição a partir do próprio Deus. Os patriarcas devem estar vivos de alguma maneira, pois com eles sempre esteve o Deus da vida. Contra quaisquer objeções grosseiras por parte dos descrentes, a fé na ressurreição dá ânimo para o enfrentamento do martírio, pois ressuscitar é chegar ao pleno desenvolvimento da vocação humana. A ressurreição significa que todas as dimensões da vida serão transfiguradas à maneira do Cristo ressuscitado. O fundamento da fé na ressurreição é a fidelidade divina. Porque Deus é fiel ele não permitirá que a morte tenha a última palavra. Dessa forma, a fé na ressurreição é a motivação para a fidelidade humana diante das piores torturas ou da morte. Deus nos guardará e confirmará nossa fé na vinda de Cristo.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 20,27-38): Não mais poderão morrer
O texto de hoje nos oferece uma rica reflexão sobre a ressurreição dos mortos, tema ainda pouco compreendido também nos dias de hoje. Muitos cristãos hodiernos pensam como os saduceus, pois não entendem o que seja ressurreição. Por isso, a pergunta feita a Jesus retrata não apenas a descrença dos saduceus daquela época, mas faz eco ao que muitos cristãos pensam hoje.
Os saduceus aceitavam apenas os livros da Torah (Pentateuco) como Palavra de Deus. E a fé em uma ressurreição pessoal não surgiu até quando foi escrito o livro de Daniel (cf. Dn 12,2), portanto, não se encontra na Torah. A pergunta que fizeram a Jesus tomou por base uma norma da Torah, a lei do levirato (Gn 38,8; Dt 25,5-10). Segundo essa lei, um homem teria que casar com a cunhada viúva (caso o irmão falecido não tivesse deixado um filho homem para herdar seus bens), dessa forma se garantia que o falecido teria uma descendência e que suas propriedades permaneceriam na família. Nesse caso, se sete irmãos sucessivamente tivessem se casado com a mesma mulher, qual deles seria o marido legítimo quando todos ressuscitassem?
A intenção dessa pergunta é ridicularizar a fé na ressurreição, mostrando que é algo incompatível com o mandamento do levirato e, portanto, contra a Torah. Então, a fé na ressurreição seria um absurdo. A resposta de Jesus rejeita o princípio sobre o qual se fundamenta a narrativa proposta pelos saduceus, segundo o qual a ressurreição seria apenas uma projeção e um prolongamento da vida terrestre. Jesus mostra que a lei do levirato tinha por objetivo apenas garantir a conservação da vida terrena, mas em nada se referia à vida após a morte.
Jesus responde aos saduceus a partir do texto de Ex 3,6, esclarecendo que a ressurreição está implícita na Torah. Jesus faz uma distinção entre o mundo presente e o mundo vindouro, para sublinhar a diferença radical do futuro que Deus prepara para os justos. Estes participam da vida de Deus, estão em profunda comunhão com ele, não mais submetidos à ameaça da morte. São semelhantes aos anjos, ou seja, na ressurreição a procriação não é mais necessária para a preservação da vida. Portanto, o corpo ressuscitado deve ser diferente do corpo terreno.
Ao referir-se à autoridade de Moisés, Jesus afirma de maneira inequívoca o fundamento da fé no Deus vivo e verdadeiro, o qual mantém uma relação de comunhão com os fiéis no pós-morte.
A Escritura não pretende explicar como será a vida eterna, mas reafirmar o aspecto fundamental da fé cristã de que a vida não acaba com a morte, ela permanece de outra forma, plenificada, transformada. Na ressurreição se realiza a finalidade do ser humano, viver junto a Deus, numa vida sem fim, numa comunhão incondicional e infinita.
2. I Leitura (2Mc 7,1-2.9-14): O Rei do Universo nos ressuscitará
O texto mostra, primeiramente, que os justos preferem morrer a pecar (7,2), perder a vida a negar a fé. No tempo da grande perseguição religiosa retratada pelo texto do segundo livro dos Macabeus, as pessoas que, naquela época, eram consideradas as mais fracas foram as primeiras a oferecer a resistência da fé contra a intolerância religiosa.
Esse trecho de 2Mc expõe os elementos principais de uma teologia do martírio e da ressurreição dos justos: (1) é necessário, antes, estar disposto a morrer que pecar (v.2); (2) Deus tem misericórdia de quem é fiel a ele (v.6); (3) Deus nos deu a vida e, por amor a ele, devemos estar dispostos a perdê-la (v.11); (4) se morremos por causa da fé, seremos ressuscitados para uma vida eterna (v.7.9).
Isso significa que sem uma fé na ressurreição não há como enfrentar o martírio. A confiança daqueles jovens estava depositada unicamente na fidelidade do Deus da vida (7,7-9) o qual não abandonará na morte aqueles que preferiram morrer a negar a fé.
 3. II Leitura (2Ts 2,16 – 3,5): O Senhor é fiel
O autor da carta ora a Jesus Cristo e a Deus Pai, pedindo-lhes que os destinatários tenham uma fé firme enquanto vivem em um mundo descrente. A hostilidade dos adversários (3,2) aponta para o fato de que muitas pessoas não apenas rejeitam a fé, mas também tentam impedir a propagação do evangelho.
Apesar disso, os tessalonicenses devem seguir adiante sem se deixar intimidar pelas dificuldades (v. 3-5), pois o Senhor sempre estará com eles e guiará seus corações para o amor de Deus e para a esperança perseverante de Cristo (v. 5). Isso significa que os tessalonicenses devem imitar a perseverança que Cristo demonstrou durante os sofrimentos pelos quais passou. Apesar dos ambientes hostis, os tessalonicenses devem ser pacientes e perseverantes até a vinda de Cristo.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Os textos de hoje refletem sobre o tema central da fé cristã, a ressurreição. Contudo, é importante deixar claro que ressurreição não é a mesma coisa que reanimação de um cadáver, como pensavam os saduceus. Ressurreição é transformação da vida humana em outra realidade para além do tempo e da história. Por ser uma realidade meta-histórica, não há categorias históricas que possam explicitar essa experiência, a não ser metaforicamente. Uma imagem boa para se pensar a ressurreição é a metáfora da borboleta. Uma lagarta entra no casulo e, depois de um tempo, transforma-se em borboleta. A antiga lagarta passará a viver uma vida nova numa nova roupagem, já não estará mais presa ao chão.
A ressurreição é vida plena em Deus. É a realização da intenção divina ao criar o ser humano para estar com ele no Éden. Durante a caminhada histórica, o ser humano aprende a cultivar o jardim de sua existência em meio a dificuldades, perseguições e aridez. Mas o desejo de estar no jardim de Deus e a certeza de que ele está empenhado para realizar esse anseio fundamental da humanidade confortam o ser humano nessa busca de comunhão, fazendo-o perseverar mesmo em tempos de perseguição, pois sabe que a morte é a passagem deste mundo para uma realidade nova, onde Deus será tudo em todos.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.

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Comum 1332: Deus dos vivos
 Aproxima-se o final do ano litúrgico.
A Liturgia nos oferece a oportunidade de aprofundar uma verdade importante de nossa fé:
"Eu creio na Ressurreição dos mortos".
 Os primeiros livros da Bíblia não falam claramente da Ressurreição dos mortos.
Só mais tarde, começou-se a falar em Israel de um despertar daqueles que estão dormindo no pó da terra.
 Na 1a Leitura, temos a 1ª profissão de fé na Ressurreição. (2Mac 7,1-2.9-14)
 No tempo da perseguição do rei Antíoco (± 170 aC), a experiência da morte de muitos justos fez nascer a esperança da Ressurreição.
Nessa época, temos o belo testemunho da Mãe e os sete filhos Macabeus.
Eles são obrigados a violar a prática religiosa dos antepassados.
Fortalecidos pela esperança da ressurreição,eles preferem enfrentar as torturas e a própria morte, a transgredir a Lei...
Vejamos as respostas corajosas dos primeiros quatro irmãos:
 - Um deles, tomando a palavra em nome de todos, falou assim:
  "Estamos prontos a morrer, antes de violar as leis de nossos pais".
- O Segundo, prestes a dar o último suspiro, disse:
  "Tu, ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis"
- Depois começaram a torturar o terceiro. Apresentando a língua e as mãos, diz: "Do céu recebi estes membros... no céu espero recebê-los de novo..."
- E o quarto quase a expirar: "Prefiro ser morto pelos homens,tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará.
  Para ti, porém, ó Rei, não haverá ressurreição para a vida".  
 * São as afirmações mais claras do A.T. sobre a vida além da morte.
Assim mesmo tinham uma idéia ainda muito imperfeita.
Era apenas a idéia de uma "revivificação dos justos", um readquirir no outro mundo uma vida semelhante a de antes.
A idéia foi se desenvolvendo, até ser completamente iluminada por Cristo.
 No Evangelho, Jesus fala claramente da Ressurreição, afirmando que "Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos". (Lc 20,27-38)
 - Essa idéia imperfeita de Ressurreição existia ainda no tempo de Jesus.
Alguns Saduceus, que não acreditavam na Ressurreição, inventaram uma história e fizeram uma pergunta capciosa que visava ridicularizar a doutrina da ressurreição e da vida futura:
Uma mulher viúva sem filhos... casou com 7 maridos sucessivamente ... 
Com quem ficará na vida futura?
 - Jesus responde:
 1. Aos Fariseus (que acreditavam numa ressurreição imperfeita):
A Ressurreição não é apenas um despertar do sepulcro para retomar a vida de antes. A vida com Deus é uma realidade completamente nova e distinta. 
É um dom maravilhoso que o Pai reservou para todos os seus filhos.
Seremos imortais, glorificados, não mais sujeitos às leis da carne.
Por isso, será desnecessário o matrimônio para a conservação da espécie.
 2. Aos Saduceus: Afirma a existência da vida futura:
Deus se manifestou a Moisés como o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, muitos anos depois de terem desaparecido deste mundo.
Isso quer dizer que eles não estão mortos, mas vivem atualmente em Deus. 
Portanto, se Abraão, Isaac e Jacó estão vivos, podemos falar de Ressurreição.
 A RESSURREIÇÃO:
 - A Ressurreição é a esperança que dá sentido a toda a caminhada do cristão.
A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza absoluta, pois Cristo ressuscitou e quem se identifica com Cristo nascerá com ele para a vida nova e definitiva.
A nossa vida presente deve ser uma caminhada tranqüila, confiante, alegre, em direção a essa nova realidade.
 - A Ressurreição não é a continuação da vida que vivemos neste mundo; mas é a passagem para uma vida nova onde, sem deixarmos de ser nós próprios, seremos totalmente outros... É a realização da vida plena.
 - A certeza da Ressurreição não deve ser, apenas, uma realidade que esperamos; mas deve ser uma realidade que influencia, desde já, a nossa existência terrena. É o horizonte da Ressurreição que deve influenciar as nossas atitudes; é a certeza da ressurreição que nos dá a coragem de enfrentar as forças da morte que dominam o mundo, de forma a que o novo céu e a nova terra que nos esperam comecem a desenhar-se desde já.
 A Liturgia nos apresenta uma verdade consoladora:
Viemos de Deus e, com a morte, voltamos para ele.
A Morte não nos deve assustar: É o encontro maravilhoso com os amigos e parentes, que foram na nossa frente.
E, sobretudo, vai ser o encontro com o melhor dos amigos: DEUS.
Nossa vida não termina aqui: ressuscitaremos...
"Nosso Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos..."
 - Cristo nos garante: "Eu sou a Ressurreição e a Vida.
  Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá". (Jo 11,25)
 - "A esperança cristã é a ressurreição dos mortos:
Tudo o que nós somos, o somos na medida em que acreditamos na Ressurreição." (Tertuliano)

      Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 10.11.2013

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A vida depois da morte (Lucas 20,27-38)
Quinta-feira, 7 de novembro de 2013 - 17h36min
por IHU

 O evangelho deste domingo traz à luz o antigo e sempre atual questionamento sobre o que acontece depois morte. Existe vida, ressurreição?
Jesus responde a esta pergunta. Mas, para entender sua resposta, precisamos conhecer um pouco sobre a fé na ressurreição no Primeiro Testamento.
Porque é dessa tradição veterotestamentária que bebe Jesus e os/as primeiros/as cristãos/ãs.
O texto explica claramente que os saduceus não acreditam na ressurreição. Eles se opõem ao pensamento inovador dos fariseus que afirmam a ressurreição, a existência de anjos e acreditam no juízo de Deus.
Quando lemos o Primeiro Testamento, descobrimos um Deus da vida e dos vivos. O livro do Deuteronômio O apresenta como "o Senhor da vida e da morte" (Deuteronômio 32,39).
O segundo livro dos Macabeus, em que se narra o martírio dos sete irmãos e sua mãe, expressa a esperança deles na ressurreição: "É o Criador do mundo que formou o homem em seu nascimento e deu origem a todas as coisas, que vos retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida..." (2 Macabeus 7,23).
Dessa maneira, este texto, assim como outros (Salmo 73,23; Isaías 26,19; Oseias 6,1-3), nos revelam um Deus que é fiel à aliança que fez com seu povo, e essa fidelidade é salvadora. Por isso, os justos, aqueles/as que vivem conforme a sua lei, não conheceram a corrupção, senão a vida em plenitude que Deus lhes dará em recompensa.
Jesus se situa em continuidade a esta fé. Tomando as palavras de Moisés, afirma sua crença num Deus que "não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele".
Ele conhece o amor de seu Pai a cada uma de suas criaturas e sabe também que esse amor criador, incondicional, é mais forte que a morte, a ponto de ele mesmo chegar a proclamar: "Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá" (João 11,22).
O texto de hoje quer também esclarecer o conceito de ressurreição. Podemos fazer uma parada e nos perguntarmos qual é nossa ideia sobre a ressurreição dos mortos.
A pergunta dos saduceus a Jesus se baseia na lei judaica do levirato, que buscava proteger a viúva (Deuteronômio 25,5-10). Quando o homem morre sem deixar filhos, seu irmão deve tomar sua mulher para cuidar e também gerar prole. Então, "na ressurreição, de quem a mulher vai ser esposa?".
Esta pergunta desenha um imaginário errôneo de ressurreição como repetição desta vida, anulando a novidade que a ressurreição cria, gera, não regida mais pelas leis físicas ou biológicas, senão pelo amor de Deus no qual a criatura ressuscitada participa. Isso não quer dizer que a pessoa, ao ressuscitar, perde sua identidade, diluindo-se na presença de Deus.
Ao contrário! Assim como Jesus, ao ressuscitar, alcança sua plenitude humana, seus irmãos e irmãs que morrem, ao ressuscitar, não perdem sua identidade, continuam sendo eles/as e seu mundo de relações que os/as definem, mas de uma maneira mais plena, total, que transcende as barreiras do tempo e do espaço.
O teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, refletindo sobre a afirmação de Jesus de que na ressurreição os homens e as mulheres "não se casarão mais, porque não podem mais morrer, pois serão como os anjos", considera que estas palavras não anunciam uma vida abstrata ou despersonalizada.
Antes, elas aludem à plenitude do novo modo de existência, em que o amor, porque estará livre do egoísmo, não se submeterá à rivalidade e à exclusão. Os vínculos e o amor se conservarão, mas já não se limitarão à vida e às relações, mas se expandirão para alegria de todos.
Assim sendo, o evangelho de hoje é um convite a renovar nossa fé no Deus da vida, que fez de seu filho Jesus o primogênito dos que ressuscitam dos mortos, criando para nós o caminho da vida eterna.
Crer na ressurreição de Jesus nos leva a crer na nossa própria ressurreição, a celebrar a vida nova de nossos mortos e a esperar ativamente nos encontrarmos todos e todas no banquete eterno, onde todos, sem exceção, nos sentaremos na mesma mesa dos filhos e filhas de Deus.

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3 de novembro – 31º DOMINGO DO T. COMUM – TODOS OS SANTOS

QUEM MORARÁ NO SANTUÁRIO DO SENHOR?

I. INTRODUÇÃO GERAL
Cristo é a fonte da santidade dos cristãos. As situações mencionadas nas bem-aventuranças foram vivenciadas primeiramente por Jesus e, por isso, ele se tornou o critério pelo qual discernimos se estamos vivendo ou não de acordo com a vontade de Deus.
As situações concretas da vida são, às vezes, carregadas de sofrimento. Feliz é quem permanece fiel em momentos de angústia e crise. Em linguagem apocalíptica, feliz é quem alveja suas vestes no sangue do Cordeiro. Essa expressão significa assumir a veste nova do batismo em situação de grande perseguição, a ponto de se identificar com o Cristo crucificado. Os santos são aqueles cuja consciência de pertença a Cristo é tão forte que estão dispostos a tudo por amor a Deus. O que move as ações deles é o amor ágape, o mesmo que moveu Cristo na oferta da própria vida na cruz.
 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 5,1-12a): Perseguidos por causa da justiça
As bem-aventuranças, em seu conjunto, constituem um estilo de vida, uma mensagem de esperança e uma ordem de batalha para aqueles que lutam pela implantação do reino dos céus e anseiam por sua chegada definitiva. O ponto de partida das bem-aventuranças são as condições concretas da vida humana. Há pessoas que choram, são injustiçadas, perseguidas, injuriadas e caluniadas por causa do reino dos céus, e ainda assim permanecem mansas, pacificadoras misericordiosas e puras.
No idioma de Jesus, o termo geralmente traduzido por “bem-aventurados” ou “felizes” é o imperativo dos verbos “avançar” e “prosseguir” (cf. Pr 4,14). Em um contexto de perseguição, as palavras de Jesus também podem ser assim traduzidas:
“Que avancem os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus!” Os “pobres em espírito” são aqueles cujas vidas estão apoiadas em Deus, não nos bens materiais e, por isso, sua luta não será em vão, mas alcançarão aquilo que esperam, a saber, o reino dos céus.
Que avancem os “mansos”, pois, embora atribulados, não agem com violência nem duvidam do amor de Deus por eles. Estes herdarão a terra, e a usufruirão sem violência, como o desejam.
Que avancem os que têm “fome e sede de justiça”, a saber, os decepcionados com a justiça terrena, a qual não defende os inocentes e favorece os culpados. E, porque esperam unicamente na justiça divina, não serão decepcionados, mas alcançarão a vitória, viverão numa terra renovada, alicerçada na justiça.
Que avancem os misericordiosos, pois como agiram à semelhança do agir divino, serão tratados por Deus com misericórdia; e viverão num novo mundo, onde a misericórdia e o amor superam todas as coisas.
Que avancem os “puros de coração”, os que são transparentes, não enganam e nem são falsos. Eles verão a Deus.
Que avencem todos aqueles que “promovem a paz”, ou que produzem o shalom(prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança, integridade, harmonia e realização). Serão chamados filhos de Deus, o verdadeiro doador da paz.
Finalmente, que avancem os “perseguidos por causa da justiça”, os que sofrem perseguição por causa da fé, por causa do evangelho. Quem sofre por causa de uma participação ativa na construção do reino não será decepcionado, mas verá o reino acontecer. Os que se ajustam à vontade de Deus terão lugar no reino dos céus onde a vontade de Deus é soberana.
Finalmente, que avancem as pessoas de boa vontade, verdadeiras promotoras dos valores do reino dos céus na história.
Quando as pessoas viverem essas situações, devem se lembrar de que foi isso que aconteceu aos profetas e mártires. É o preço que se paga pela fidelidade ao evangelho. Essas pessoas não estão sendo castigadas, como poderia afirmar a teologia da retribuição, mas estão sendo convidadas a ter a mesma atitude de Jesus diante do “mundo hostil” ao valores do reino dos céus. Estão sendo convocadas a viver sua fidelidade ao Pai, assumindo todas as consequências dessa decisão até que brote a vida em plenitude.
 2. I Leitura (Ap 7, 2-4. 9-14): Os que vieram da grande tribulação
O texto apresenta o destino reservado à Igreja colocada sob a eficaz proteção de Deus durante um período de perseguição. Isso não significa que os cristãos fiquem isentos do sofrimento, ao contrário, devem preparar-se para fazer frente a graves perseguições e, inclusive, a aceitar o martírio. A visão tem, portanto, o objetivo de animá-los a perseverar até a morte.
O primeiro quadro se desenrola com base no conceito antigo que considerava a terra como sendo quadrada, com ventos nocivos originados de seus ângulos (cf. Jr 49,36). Os anjos recebem a ordem de não permitir que os ventos iniciem sua obra de destruição até que os fiéis tenham recebido o selo de Deus, que equivaleria a uma declaração de propriedade (cf. Ez 9,lss). Isso significa que, em meio à prova, Deus dará aos seus servos fiéis as energias necessárias para que perseverem até a morte. Em resumo, os que foram associados à cruz de Jesus, ou seja, os que passaram pela grande tribulação, igualmente compartilham de sua glória no céu.
Os cento quarenta e quatro mil (12 x 12.000) assinalados representam os fiéis provenientes das doze tribos de Israel dispersas sobre a terra. Em novo quadro, João viu uma multidão incontável, de todas as etnias, diante do trono do Cordeiro. As palmas que traziam nas mãos evocam as que eram usadas na liturgia judaica da festa das Tendas (Lv 23,40) para louvar o Deus de Israel.
As vestes brancas, alvejadas no sangue do Cordeiro (v. 14), significam que os mártires permaneceram puros, não se deixaram contaminar, seja pela idolatria, seja pela apostasia, e por isso sofreram a morte. Por causa de sua fidelidade, agora estão diante do trono do Cordeiro vitorioso, realizando uma liturgia celeste.
 3. II Leitura (1Jo 3,1-3): Os que esperam no Senhor
Deus nos amou a tal ponto que não se contentou apenas em nos dar seu Filho único, mas tornou a nós mesmos seus filhos adotivos. Esse tipo de amor (ágape) é extraordinário, prodigamente generoso e tem sua fonte em Deus mesmo, é uma realidade divina da qual nós participamos através da filiação que recebemos.
É de se esperar que o “mundo”, tomado aqui em sentido pejorativo, designando uma contraposição a Deus e ao seu propósito, não reconhecerá que somos filhos de Deus. Em resumo, se o amor (ágape) é o que move nossas ações, então seremos estranhos ao mundo que é movido por outros “valores”.
A dignidade de filhos de Deus é desconhecida do mundo e imperfeitamente conhecida pelos próprios cristãos, porque todos os efeitos dessa nova situação ainda não se manifestaram. A vida eterna já está em nós, mas se manifestará em plenitude somente quando o Cristo glorioso voltar na parusia final.
A esperança segura a respeito da manifestação plena da vocação humana à filiação divina é a motivação mais eficaz para o empenho em santificar-se. Essa esperança também é um dom gratuito de Deus a nos impulsionar na purificação. Do mesmo modo que os israelitas se purificavam com os ritos apropriados antes de entrarem no templo de Jerusalém, assim também os cristãos devem purificar-se espiritual e interiormente para entrar na realidade celeste do Cristo ressuscitado.
Dito de outra forma, o ser humano não pode ser salvo sem a graça e os méritos de Cristo, mas, ao mesmo tempo, o esforço pessoal também é necessário no processo de santificação. Não se trata de uma pureza meramente externa, mas sim de esforçar-se para configurar-se plenamente à vontade de Deus expressa na vida de Jesus.
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Os textos de hoje têm o objetivo de animar os cristãos e sustentá-los na perseverança e na fidelidade até a morte. As leituras nos mostram o quanto são felizes os que permaneceram fiéis até o fim.
A fidelidade à mensagem de Cristo é o grande desafio de nosso tempo. Muitas pessoas estão desencantadas com a Igreja por causa de várias razões, a maioria deles devido à falta de amor que deve ser a marca característica da comunidade de Jesus. A igreja local, frequentada pelas pessoas em seu cotidiano, pode atrair mais pela misericórdia, por ser mansa e pacificadora.
É bom destacar na homilia que nossa preocupação principal deve ser com o testemunho de vida e não com encher os templos com cristãos desencantados e pouco comprometidos. O testemunho da igreja local os reencantará para Cristo.
Muitas pessoas passam por grandes sofrimentos e se afastam da Igreja porque não encontram explicações, ou porque lhes foram dadas explicações desastrosas para suas angústias e sofrimentos. Se a igreja é solidária com o sofredor, ele se sentirá seguro para permanecer fiel, mesmo sem entender o sofrimento que o sufoca.
Muitas vezes as desistências ou o distanciamento das pessoas em relação à Igreja é porque lhes foi prometido um cristianismo fácil e confortável como retribuição pelas boas obras. Mas quando as dificuldades se anunciam, como é próprio da vida humana, as pessoas não têm a força interior para manter-se fiéis.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com






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Comum1331: Todos os Santos: A solenidade de Todos os Santos é a festa da vida e celebra a plenitude da Vida cristã e Santidade de Deus
manifestada em seus filhos, os santos da Igreja Celebramos, como uma antecipação e em comunhão com a liturgia celeste, a vitória daqueles irmãos nossos que superaram "a grande tribulação", e estão marcados com o selo do Deus vivo.
Recordamos aqueles que vivem para sempre diante de Deus, entre os quais, se encontram nossos entes queridos que já faleceram.
Nossa fé é culto à Vida, porque o nosso Deus é um Deus dos vivos e pelo Espírito nos dá a Vida em Cristo Jesus ressuscitado dentre os mortos.
Por isso a festa de hoje é um convite total à alegria esperançosa, que nasce das profundezas da Vida, da aspiração da felicidade sem ocaso.

A Fonte da santidade cristã é Deus:  
A santidade tem seu início, seu crescimento e consumação na graça de Deus, no amor gratuito do Senhor, que derrama seu Espírito em nossos corações para que possamos chamá-lo "Pai", pois nos faz seus filhos em seu Filho Jesus Cristo (LG 14,2).
Portanto, a santidade não é mero produto de nosso esforço somente, nem tão pouco resultado automático da graça, mas efeito da ação de Deus.

A santidade tem duas dimensões:
A Santidade não é fruto do esforço humano, que procura alcançar Deus com suas forças.
É ação de Deus em nós pelo dom do Espírito Santo e resposta do cristão a esse dom e presença de Deus.
A Santidade cristã manifesta-se como uma participação na vida de Deus, que se realiza com os meios que a Igreja nos oferece, especialmente com os Sacramentos.

A Morada dos Santos será o CÉU,
que não é um lugar, mas um estado de felicidade na presença e companhia de Deus, dos anjos e dos santos.
Em que consiste, supera a nossa imaginação e entendimento:
"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram nem o homem pode imaginar
o que Deus preparou para aqueles que o ama" (1 Cor2,9).
"Agora vemos como num espelho, mas depois veremos face a face" (13,12).
E a ETERNIDADE não um "eterno descanso", mas vida ativa e intensa com Deus.

Quem é santo?
SANTO significa que não tem nada de imperfeito, de fraco, de precário.
Neste sentido, só Deus é santo. No entanto, por graça de Deus, participamos da sua Santidade e nos unimos a todos os irmãos.
Essa doutrina era tão viva nos primeiros séculos, que os membros da Igreja não hesitavam em chamar-se: "Santos" e a própria Igreja era chamada de "Comunhão dos Santos".

O que é a Comunhão dos Santos?
- "Essa expressão indica em primeiro lugar a comum participação de todos os membros da Igreja nas COISAS SANTAS:
  a fé, os Sacramentos, os Carismas e outros dons espirituais". (CCIC 194)
- "Designa também a comunhão entre as PESSOAS SANTAS, ou seja, entre as que pela graça estão unidas a Cristo morto e ressuscitado. 
  Alguns são peregrinos na terra; outros, tendo deixado essa vida, estão se purificando ajudados também pelas nossas orações; outros enfim já gozam da glória de Deus e intercedem por nós.
  Todos juntos formamos em Cristo uma só família, a Igreja, para a glória da Trindade." (CCIC 195)

Quem são os santos?
- Não são apenas aqueles que estão nos altares, declarados santos pela Igreja.
  Não são apenas pessoas privilegiadas do passado, que já nasceram santas...
- São todas aquelas pessoas que vivem unidas a Deus, construindo o bem.
  São pessoas normais, que no passado e no presente dão testemunho de fidelidade a Cristo.

As Leituras de hoje revelam o projeto de Deus a respeito do homem:
quer torná-lo participante da sua Santidade.

A 1ª Leitura afirma que uma grande multidão de pessoas, de todos os povos, são os santos que participam da glória celeste, junto de Deus. (Ap 7,2-4.9-14)

O texto fala de 144 mil eleitos. O Número é simbólico e indica a totalidade da comunidade cristã. (12x12x mil:12 tribos do AT + 12 apóstolos do NT + mil)

A 2ª leitura recorda que a Vida divina, que se manifestará no final da vida,
já está presente em nós desde agora. (1Jo 3,1-3)

No Evangelho, Jesus apresenta uma proposta de Santidade, resumida nas BEM-AVENTURANÇAS: (Mt 5,1-12)

* O melhor CAMINHO para a Santidade é a vivência das Bem aventuranças.

+ A Festa de hoje pretende homenagear todos os santos, conhecidos ou não, e apresentar o ideal da santidade como possível hoje e desejado por Deus.
"Todos os fiéis são chamados à Santidade cristã.
Ela é a plenitude da vida cristã e perfeição da caridade, realiza-se
na união íntima ao Cristo e, nele, com a Santíssima Trindade". (CCIC 428)
Portanto, SANTOS podemos e devemos ser também nós...

Acolhamos o apelo de Deus à Santidade...
e que os Santos sejam modelos e intercessores nossos, nessa caminhada...
                                 
                                Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 03.11.2013

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Mateus 5,1-12: As bem-aventuranças como caminho de santidade - Ildo Bohn Gass

Terça-feira, 29 de outubro de 2013 - 11h15min
Felizes os que são pobres no espírito, porque deles é o reino dos céus (Mateus 5,3)
(sobre as Bem-aventuranças, não deixe de conhecer o Livro Jesus da Escuta Amorosa)
Jesus Mafa
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Todas as pessoas são chamadas à santidade, a fim de serem bem-aventuradas. Sede santos, porque eu, Javé vosso Deus, sou santo (Levítico 19,2). A comunidade de Mateus faria uma releitura desse chamado da seguinte forma: Sede perfeitos, como o Pai celeste é perfeito (Mateus 5,48). Coerente com sua experiência com o Deus da misericórdia, a comunidade de Lucas formula assim o mesmo chamado: Sede misericordiososcomo vosso Pai é misericordioso (Lucas 6,36).
Dia 02 de novembro é um dia especial em que milhões de pessoas refletem sobre todas as pessoas bem-aventuradas e que já se encontram na glória do Pai. Conforme a comunidade de Mateus, Jesus nos propõe oito bem-aventuranças como caminho de santidade e que já começa nesta vida.
Quando Mateus apresenta Jesus fazendo cinco grandes discursos (Mateus 5-7; 10; 13,1-52; 18; 24-25), sua intenção é apresentá-lo como o novo Moisés, a quem eram atribuídos os cinco livros da Lei, o Pentateuco. A Lei era considerada a expressão davontade de Deus. No tempo de Jesus, muitos fariseus estavam preocupados em viver a Lei ao pé da letra. Jesus, porém, vive e anuncia essa vontade de Deus indo além da letra da Lei. Diz que é o espírito da Lei que interessa e que ele consiste na vivência do amor a Deus e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22,34-40). Diz ainda que este espírito da Lei deve ser a orientação fundamental para o nosso agir (cf. Mateus 12,1-8; 23). Mateus chama essa vontade de Deus de justiça do Reino. Se Moisés era o antigo mestre da Lei, Jesus é o novo mestre da justiça a nos ensinar o caminho de Deus, o caminho da santidade.
O primeiro grande ensinamento do mestre da justiça, o Sermão da Montanha (Mateus 5-7), é um conjunto de orientações para a boa convivência na comunidade. Tal como Moisés escrevera as palavras da Lei estando sobre um monte, Jesus dá as novas orientações também numa montanha (Êxodo 34,28; Mateus 5,1).
As bem-aventuranças (Mateus 5,1-12) são a porta de entrada ao Sermão da Montanha Mateus (5-7). São um programa de vida para trazer felicidade plena a quem adere à Boa-Nova de Jesus.
A justiça do Reino dos Céus (= de Deus), isto é, a vontade de Deus, é o carro-chefe das bem-aventuranças. O Reino é o projeto na primeira e na oitava bem-aventurança. E, no centro, estão a busca da justiça e a busca da misericórdia (ter o coração voltado para quem está na miséria). Uma vez realizada a justiça de Deus, os empobrecidos deixarão de ser oprimidos, pois haverá partilha e solidariedade. Por isso, Jesus os declara felizes.
A primeira bem-aventurança é a mais importante. As demais são explicitações desta. Os pobres são aqueles que choram, são os mansos ou humildes (no Salmo 37,11, texto-base para esta bem-aventurança, são chamados de pobres-anawim), os que têm fome, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz e as pessoas perseguidas por causa da justiça. E as dádivas para os empobrecidos são: o Reino de Deus, o conforto, a terra partilhada, a fartura, a misericórdia, a contemplação de Deus e a filiação divina (agir à imagem e semelhança de Deus ou ter as mesmas atitudes de Deus).
Mas ser pobre não é suficiente. Está claro que os empobrecidos são os preferidos de Deus, justamente por que ele não pode ver nenhum de seus filhos e nenhuma de suas filhas passando por necessidades. Ainda mais, quando a pobreza é fruto da injustiça humana. É interessante notar que esta mesma bem-aventurança, no Evangelho segundo Lucas, reza assim: "Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!" (Lucas 6,20).
Quando a comunidade de Mateus acrescentou "no espírito" à primeira bem-aventurança de Jesus (Mateus 5,3), também estava preocupada com o fato de que há pobres com o espírito de rico incorporado em seu coração e sua mente, buscando, na riqueza e no poder, o sentido mais profundo para a vida. Por isso, quis deixar bem claro para seus destinatários que não basta ser pobre, mas que é preciso ser "pobre no espírito", isto é, viver de acordo com o espírito do próprio Deus; ser pobre também por opção pelo projeto da justiça e de misericórdia; viver na total confiança e dependência de Deus; confiar na partilha, na vida simples e na fraternidade.
Aliás, são justamente as pessoas que buscam a felicidade no consumismo e no individualismo que perseguem aos que lutam pela justiça do Reino, pela paz e pela partilha. Foi assim que, no passado, os poderosos perseguiram os profetas (Mateus 5,10-12).
E hoje, Jesus renova o convite para nós: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mateus 6,33). E o caminho da justiça do Reino, o caminho da santidade está na prática do espírito da Lei proposto nas orientações fundamentais para a vida contida, isto é, nas bem-aventuranças.  

Ildo Bohn Gass é bliblista, leigo católico. É autor do livro Satanás e os demônios na Bíblia. É também de sua autoria a série Uma introdução à Bíblia.

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30º DOMINGO DO TEMPO COMUM (27 de outubro)

DEUS JUSTIFICA OS HUMILDES E OS PECADORES

I. INTRODUÇÃO GERAL 
Neste domingo destacam-se, nas leituras, dois temas principais: a oração e a “justificação” do humilde e do pecador (1ª leitura e evangelho) e a entrega da vida de Paulo no fim de seu percurso (2ª leitura). Esse último texto é, antes de mais, um testemunho que contemplamos com admiração e gratidão. O primeiro tema tem um peso pastoral muito grande e merece reter nossa atenção especial.
 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 
1. I leitura (Eclo 35,15b-17.20-22a)
A 1ª leitura (que poderia ser estendida um pouco mais, para que melhor apareça seu sentido) fala que Deus não conhece acepção de pessoas e faz justiça aos pequenos (pobres, órfãos, viúvas, aflitos, necessitados). Deus toma partido pelos pobres e oprimidos, porque é o Deus da justiça: não conhece acepção de pessoas, escolhe o lado dos oprimidos. Em matéria de ofertas, não é a grandeza ou riqueza do dom que importa, mas a atitude de quem o oferece e a disposição em ajudar os necessitados (35,1-5).
Isso é dito em oposição à maneira dos poderosos, que querem agradar a Deus por meio de sacrifícios perversos (Eclo 35,14-15a[11]). Oferecer a Deus o fruto da exploração é tentativa de suborno (35,14)! Deus não se deixa comprar pelas coisas que lhe oferecemos, pois não necessita de tudo isso. Deus é reto, ele atende os oprimidos e necessitados. Ele nos considera justos, amigos dele, quando lhe oferecemos um coração contrito e humilde (Sl 51[50],18-19). Nesse sentido, o salmo responsorial acentua: Deus atende ao justo e ao oprimido (Sl 34[33],2-3.17-18.19+23).
 2. Evangelho (Lc 18,9-14)
Deus nos considera justos, ou seja, amigos dele, quando lhe oferecemos um coração contrito e humilde. Por isso, engana-se completamente o fariseu de quem Jesus fala no evangelho: acha que pode impressionar Deus com suas qualidades aparentes, seus sacrifícios e boas obras puramente formais, sem extirpar de seu coração o orgulho e o desprezo pelos outros.
No tempo de Jesus, os fariseus, e hoje, os “bons cristãos” usurpam a religião para se convencer a si mesmos e aos outros de sua justiça; desprezam os outros e querem negociar com Deus na base de suas “boas obras”. Porém, é a atitude contrária que encontra aceitação junto a Deus: a humilde confissão de ser pecador (cf. Sl 51[50],3). Quem já se declarou justo a si mesmo, como o fariseu, não mais pode ser justificado por Deus. O publicano, porém, que reza de coração contrito, se reconhece pecador e se confia à misericórdia de Deus, este é considerado justo e volta para casa “justificado”.
Lucas acrescenta uma lição moral: “Quem se enaltece, será humilhado; quem se humilha, será enaltecido” (Lc 18,14). Mais profunda ainda é a lição propriamente teológica, refrão da teologia de S. Paulo: quem se declara justo a si mesmo com base em suas obras rituais – como faziam os fariseus, convencidos de que a observância da Lei lhes dava “direitos” perante Deus – não é declarado justo por Deus, pois Deus é “inegociável” e declara alguém justo (reconciliado) com base na sua misericórdia e amor gratuitos. A justificação é de graça, para quem entra na órbita do amor de Deus, pondo-lhe em mãos a vida inteira, com pecados e fraquezas. Diante de Deus, todos ficamos devendo (cf. Sl 51[50],7). Os que se justificam a si mesmos, além de serem orgulhosos, são pouco lúcidos! Portanto, melhor é fazer como o publicano: apresentarmo-nos a Deus conscientes de lhe estar devendo, e pedir que nos perdoe e nos dê novas chances de viver diante de sua face, pois sabemos que Deus não quer a morte do pecador, mas sim que ele se converta e viva (Ez 18,23).
Esse pensamento deve extirpar a mania de se achar o tal e de condenar os outros: a autossuficiência. Mas, para afastar a autossuficiência é preciso, antes, outra coisa: a consciência de sermos pecadores. Ora, isso se torna cada vez mais difícil na atual civilização da sem-vergonhice. O ambiente em que vivemos trata de esconder a culpabilidade e, inclusive, condena-a como desvio psicológico. Que a culpabilidade neurótica passe do confessionário para o divã do psicanalista é coisa boa, mas não convém encobrir o pecado real. Tal encobrimento do pecado acontece tanto no nível do indivíduo quanto no da sociedade: oficialização de práticas opressoras e exploradoras nas próprias estruturas da sociedade, leis feitas em função de uns poucos etc.
Para sermos lúcidos quanto a isso, cabe observar que a auto justificação, entre nós, já não acontece ao modo do fariseu, que se gabava das obras da Lei de Moisés. Agora acontece ao modo do executivo eficiente, que tem justificativa para tudo: para as trapaças financeiras, a necessidade da indústria e do desenvolvimento nacional; e para as trapaças na vida pessoal, o estresse e a necessidade de variação… Hoje, já não são os fariseus que se auto justificam, mas os novos publicanos, que dizem: “Graças a Deus eu sou autêntico, eu não escondo o que faço, não sou um fariseu hipócrita como aquele catolicão ali na frente do altar”!
Seja como for, saber-se pecador é o início da salvação. Isso vale para todos, ricos e pobres, mas para os pobres é mais fácil, porque estão em dívida com tantas coisas que se dão mais facilmente conta de serem devedores. Ora, pecador não é apenas aquele que transgride expressamente a Lei, mas todo aquele que não realiza o bem que Deus lhe confia. Pensando nisso, reconheceremos mais facilmente que temos “dívidas”, como se rezava na versão antiga (e mais literal) do Pai-Nosso. Por isso, a liturgia começa com o ato penitencial. Antigamente, primeiro recitava-o o padre, depois os fiéis – não se sabe por que a nova liturgia suprimiu esse costume…
Em consonância com o evangelho, aconselha-se o prefácio IV dos domingos do tempo comum: Cristo nos justificou por sua morte.
 3. II leitura (2Tm 4,6-8.16-18)
Neste domingo, termina a lectio continua da Segunda Carta a Timóteo, que é o emocionante testamento espiritual de Paulo. No fim de seu percurso, Paulo abre seu coração: “Estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, guardei a fé” (4,6). O exemplo vale mais que as palavras. Paulo não só pregou; trabalhou com suas próprias mãos. No fim de sua vida, ele tem as mãos amarradas, e outros escrevem por ele. Mas ele não fica amargurado. Suas palavras revelam gratidão e esperança. Ele ficou fiel a seu Senhor e aguarda agora o encontro com ele (4,5).
Paulo sabia-se pecador, pecador salvo pela graça de Deus (1Tm 1,13; cf. Gl 1,11-16a; 1Cor 15,8-10). Na base dessa experiência, anela pelo momento de se encontrar com Aquele que, por mera graça, o tornou justo, o “Justo Juiz”, que o justificará para sempre, enquanto diante do tribunal dos homens ninguém tomou sua defesa (2Tm 4,16). O mistério desta vida de apóstolo era a caridade, mistério de toda vida fecunda. Ela não tem fim (1Cor 13,8) e completa-se no oferecimento da própria vida (cf. Rm 1,9; 12,1).
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO 
A oração do pecador: será preciso ser santo ou beato para rezar a Deus? Será que os simples pecadores precisam “delegar” as monjas ou algum padre muito santo para rezar por suas intenções?
O Antigo Testamento ensinava que “a prece do humilde atravessa as nuvens” (1ª leitura). Jesus, no evangelho, faz desse humilde um pecador. Enquanto, na frente de todos, um fariseu se gloria de suas boas obras, um publicano – coletor de taxas a serviço do imperialismo estrangeiro – reza, a distância, com humildade e compunção. Jesus conclui: este foi, por Deus, declarado justo e absolvido, mas o fariseu, não.
O mais importante na avaliação geral de nossa vida não é o número e o tamanho de nossos pecados, mas nossa amizade com Deus. Como no caso do fariseu e da pecadora (Lc 7,36-50), alguém pode ter pouco pecado e pouquíssimo amor, e outra pessoa pode ter grandes pecados e imenso amor. Quem nada faz não peca por infração. Só por desamor… e para essa falta não existe remédio. Quem só pensa em si mesmo – como o fariseu –, como Deus pode ser amigo dele?
É muito importante os pecadores manterem o costume de conversar com Deus, na oração. E que saibam que Deus os escuta. Isso faz parte integrante da Boa-nova de Cristo e da Igreja. A rejeição moralista dos pecadores é anticristã e contradiz o espírito da Igreja, que oferece o sacramento da penitência para marcar com sua garantia o pedido de reconciliação do pecador penitente. O sacramento da penitência é, jocosamente falando, um sinal de que se pode pecar… pois senão, nem deveria existir!
Importa anunciar isso a quantos estão “afastados” por diversas razões (situação matrimonial irregular, vida sexual não conforme as normas, pertença à maçonaria, rejeição de alguns dogmas ou posicionamentos da Igreja etc.). Em alguns casos, essas pessoas poderiam, mediante devida informação e diálogo, ser plenamente reintegradas (declaração de nulidade de um casamento que na realidade não existiu etc.). Em outros casos, a plena vida sacramental continuará impossível, mas, mesmo assim, essas pessoas devem saber que Deus é maior que os sacramentos e presta ouvido à oração de quem entrega sua vida quebrantada nas mãos dele.
Importa anunciar isso, sobretudo, ao povo simples, marcado por séculos de desprezo e discriminação, falta de instrução, missas ouvidas na porta do templo… Suas preces “a distância”, como a do publicano, serão certamente atendidas! Hoje, muitos deles já podem avançar até perto do altar; oxalá não se tornem fariseus!

Pe. Johan Konings, sj

Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje. E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br.

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Comum 1330: Fariseu ou Publicano?

No domingo passado, refletimos sobre a necessidade da Oração perseverante: Um apelo muito atual ao homem moderno, tão ocupado e preocupado com tantas coisas, que quase não sobra tempo para si mesmo. E o tempo que sobra gasta na TV ou outras diversões.

Mas não basta rezar, precisa rezar bem...
- E qual é o espírito que deve animar a nossa oração para que seja agradável a Deus e proveitosa para nós?

As leituras da Liturgia de hoje nos dão uma resposta.

Na 1ª Leitura, Deus afirma que escuta as sua súplicas os HUMILDES:
"A oração do humilde penetra as nuvens..." (Eclo 35,15a-17.20-22a)

* A nossa oração só tem valor e é acolhida por Deus, quando parte de um coração pobre, humilde e justo e é solidária com todos os oprimidos e empobrecidos.

Na 2ª Leitura, Paulo, velho, preso, condenado à morte, medita e reza sobre a sua VIDA... (1Tm 4,6-8.16-18)
"Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé..."

* É o testamento de alguém que está com a consciência do dever cumprido e aguarda com humildade e confiança  a recompensa de Deus.

No Evangelho, Jesus mostra a ORAÇÃO HUMILDE de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher o Dom de Deus. (Lc 18,9-14)

- Os destinatários da Parábola do Fariseu "santo" e do Publicano "pecador"     
  são: "alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros".
- Os dois rezam no Templo: um espera a recompensa e o outro a misericórdia...
  O modo de rezar dos dois é bem diferente:
  O Fariseu pelo caminho do orgulho, o Publicano pelo caminho da humildade.

+ O FARISEU: na frente... "de pé"... reza satisfeito pelo que é e pelo que faz:
- Sua oração é longa: é uma arrogante exaltação de si.
  Agradece a Deus por não ser como os demais, nos quais só vê erros e pecados.
- É auto-suficiente: não precisa de Deus e despreza os irmãos.
  A sua Salvação não é dom de Deus, mas conquista de suas "boas obras".

+ O PUBLICANO: no fundo... de cabeça baixa... batendo no peito...
   Reconhece com humildade a soberania de Deus e a própria pequenez...
   Ele precisa de Deus e aceita a salvação que Deus lhe oferece.
  
   - Sua oração é breve: resume-se em pedir perdão:
     "Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador..."

+ À primeira vista, daria a impressão que o fariseu era mau e o publicano bom. No entanto, o fariseu era "bom praticante" e o publicano praticava injustiças. Mas, quem se comportava bem foi condenado e o pecador voltou "justificado".
O fariseu ofereceu suas obras, o publicano sua miséria e seus pecados...

- E Jesus conclui:
  "Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado".

 Parábola nos fala de DOIS TIPOS de Pessoas:

 + O Fariseu é modelo do homem "justo", cumpridor de todas as leis,que leva uma vida impecável. Ninguém o pode acusar de ações contra Deus, nem contra os irmãos. Está contente por não ser como os outros.
Vai à missa todos os domingos... Paga o dízimo... Confessa de vez em quando... Mas na confissão "não tem pecados". Só tem boas obras a declarar...
Na Oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo...
Umas práticas religiosas bem observadas lhe dão a segurança da salvação.

   * CRISTO quer uma religião em espírito e verdade, com o mandamento do amor.
 E ele a reduz a umas obrigações, para estar em dia com Deus...
 + O Publicano é modelo de homem humilde, que se reconhece pecador.



Sente necessidade de Deus, confia nele e lhe oferece seu pobre coração abatido.
 * Aceita com humildade os meios da Confissão, da Missa e da Comunhão.
   Não se considera melhor do que os outros... Nem os julga...
 + Os novos Fariseus...
 O FARISAÍSMO é uma atitude religiosa que nos impede de ver-nos como somos e deturpa nossa relação com Deus e com os irmãos.
Ninguém está isento da contaminação dessa perene soberba humana.

PUBLICANOS são todos aqueles que tomam consciência de seus erros e pedem perdão.
 + Quais são os sentimentos que animam o nosso coração na oração?
   - Do Fariseu ou do Publicano?
   - Como pretendemos voltar para casa?
 - Será que muitas vezes não imitamos a posição de suficiência do fariseu?
- Ao invés de escutar Deus e suas exigências, preferimos convidá-lo a que admire a boa pessoa que somos?
- Não seria melhor, nos colocar ao lado do publicano, reconhecendo com humildade nossa condição de pecadores, confiando na misericórdia de Deus.
 Assim voltaremos para casa participando mais perfeitamente de sua justiça e de sua santidade.
 Com este espírito, continuemos a nossa oração, para que ela seja realmente agradável a Deus e proveitosa para nós.
                                    Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 27-10-2013
www.buscandonovasaguas.com.br

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A verdadeira oração: O Fariseu e o Republicano - Carlos Mesters e Mercedes Lopes

     

Terça-feira, 22 de outubro de 2013 - 14h39min
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A VERDADEIRA ORAÇÃO: O AVESSO É O LADO CERTO
O FARISEU E O PUBLICANO
Texto extraído do livro "O avesso é o lado certo: círculos bíblicos sobre o Evangelho de Lucas". Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes. Saiba mais em vendas@cebi.org.br
No texto de hoje, Jesus fala sobre uma parábola, na qual o avesso é o lado certo. Ela mostra que Jesus tinha outra maneira de ver a vida. Jesus conseguia enxergar uma revelação de Deus lá onde todo o mundo só enxergava coisa ruim. Por exemplo, ele via algo de positivo no publicano, de quem todo mundo dizia: "Ele nem sabe rezar". Jesus vivia tão unido ao Pai pela oração, que tudo se tornava expressão de oração para ele. Acompanhe o texto.
SITUANDO
Neste texto, Jesus trata da oração. É a segunda vez que Lucas traz palavras de Jesus para ensinar como rezar. Na primeira vez (Lucas 11,1-13), ensinou o Pai-Nosso e, por meio de comparações e parábolas, ensinou que devemos rezar com insistência, sem esmorecer (cf. Lucas 18,1-8). Agora, nesta segunda vez, ele recorre à parábola tirada da vida para ensinar sobre a humildade. A maneira de apresentar a parábola é muito didática. Primeiro Jesus faz uma breve introdução que serve de chave de leitura. Em seguida, conta a parábola. No fim, o próprio Jesus faz a aplicação, mostrando que o avesso é o lado certo.
COMENTANDO
Lucas 18,9-14: o fariseu e o publicano
Lucas 18,9: A introdução
A parábola é introduzida com a seguinte frase: "Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros!" A frase é de Lucas e se refere, simultaneamente, ao tempo de Jesus e ao tempo do próprio Lucas, em que as comunidades da tradição antiga desprezavam as que vinham do paganismo.
Lucas 18,10-13: A parábola
Dois homens sobem ao Templo para rezar: um fariseu e um publicano. Na opinião do povo daquela época, um publicano não prestava para nada e não podia dirigir-se a Deus, pois era uma pessoa impura. Na parábola, o fariseu agradece a Deus por ser melhor do que os outros. A sua oração nada mais é do que um elogio de si mesmo, uma auto-exaltação das suas boas qualidades, um desprezo pelos outros. O publicano nem sequer levanta os olhos, bate no peito e apenas diz: "Meu Deus, tem dó de mim que sou um pecador!" Ele se coloca no seu lugar diante de Deus.
Lucas 18,14: A aplicação
Se Jesus tivesse deixado o povo dizer quem voltou justificado para casa, todos teriam dito: "É o fariseu". Jesus, no entanto, pensa diferente. Quem voltou justificado, isto é, em boas relações com Deus, não é o fariseu, mas sim o publicano. Novamente, Jesus virou tudo pelo avesso. Muita gente não deve ter gostado da aplicação que Jesus fez desta parábola.

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20 de outubro – 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM

ORAÇÃO, FÉ E ESCRITURAS

I. INTRODUÇÃO GERAL 
A liturgia de hoje sugere dois temas importantes: a força da oração (1ª leitura e evangelho) e a importância da S. Escritura (2ª leitura), mas ambos têm o mesmo pano de fundo: a esperança da salvação em Jesus. Para a reflexão (e a homilia) vamos insistir mais no segundo tema, por ele ter uma atualidade especial no momento atual da América Latina. Nosso continente, de fato, está conhecendo desde alguns anos um verdadeiro movimento de redescoberta (católica e ecumênica) da Bíblia e, neste particular, se sabe incentivado pelo Concílio Vaticano II, retomado na Exortação Verbum Domini do Papa Bento XVI.
 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 
1. I leitura (Ex 17,8-13)
Na batalha contra os amalecitas, quem decide da vitória não é Josué, o general, mas Moisés, o homem de Deus, que reza de braços estendidos desde a manhã até a noite. Como toda boa catequese, também a de Israel gostava de histórias que falassem à imaginação. Assim é esta história, que conta como Moisés conseguiu a vitória de seu general Josué sobre os amalecitas, os eternos inimigos de Israel. Enquanto Moisés, segurando o bastão de força divina, ergue as mãos por cima dos combatentes, Israel ganha. Quando ele baixa os braços, Israel perde. Então, escoram a Moisés com uma pedra e sustentam-lhe os braços erguidos, até o pôr do sol, quando a batalha é decidida em favor de Israel. A história não diz se o gesto de Moisés significava oração, bênção sobre Israel ou esconjuro do inimigo, mas, sendo Moisés o enviado de Deus, é evidente que se tratava de uma maneira de tornar a força do Senhor presente no combate. O gesto pode bem significar que Deus mesmo é o general do combate. O próprio gesto de levantar as mãos indica o relacionamento com o Altíssimo. Levantar as mãos a Deus sem cansar, eis a lição da 1ª leitura. O salmo responsorial comenta, nesse sentido, o levantar os olhos (Sl 121[120]).
 2. Evangelho (Lc 18,1-8)
No mesmo sentido, o evangelho narra uma dessas parábolas provocantes bem ao gosto de Lucas. É a história da oração insistente da viúva. Uma viúva pleiteia seu direito junto a um juiz pouco interessado, provavelmente comprometido com o outro partido. Porém, no fim lhe faz justiça, não por virtude e amor à justiça, mas por estar cansado da insistência da viúva. Quanto a nós, embora saibamos que Deus gosta de nos atender (não é como o juiz!), Jesus nos encoraja a cansar Deus com nossas orações! Mas, para isso, precisa fé. Ora, acrescenta Lc: será que o Filho do Homem encontrará ainda fé, na terra, quando ele vier…?
Jesus ensinou a rezar pela vinda do Reino; mas quando esta vinda se completar, na parusia do Filho do Homem, encontrar-se-á ainda fé na terra? (Lc 18,9; cf. 2Tm 4,1). Por isso, até lá, é tempo de oração. Devemos reconhecer a carência em que vivemos e assumi-la na oração insistente. Se não clamarmos a Deus para fazer justiça, sua vinda nos encontrará sem fé.
Lucas escreve no último quartel do século I. A fé está enfraquecendo. A demora da Parusia, as perseguições, as tentações da “civilização” do império romano eram tantos fatores que colaboravam para enfraquecer a fé. Os cristãos, vivendo num mundo inimigo, esperavam a Parusia como o momento em que Deus faria justiça em favor dos pequenos e oprimidos. Seria o Dia do Senhor. Mas estava demorando! Rezavam: “Venha teu Reino!” (Lc 11,2). Por outro lado, sabiam também que é difícil aguentar a pressão: “Não nos deixes cair em tentação” (11,4). Por isso, Lucas pergunta: se continuar assim, não terão todos caído quando o Filho do Homem vier? (Lc 18,8). Talvez isso seja uma advertência pedagógica, para insistir na necessidade de guardar a fé até que venha o Filho do Homem. 1Pd 3,9 está às voltas com o mesmo problema, mas oferece outra interpretação: Deus demora porque está dando chances para a gente se converter.
3. II leitura (2Tm 3,14-4,2)
A mensagem da 2ª leitura completa a das duas outras. Não apenas nossa oração deve ser insistente, não apenas devemos guardar a fé; devemos insistir também na pregação da palavra do Evangelho, oportuna ou inoportunamente!
A fé é uma graça de Deus, mas também algo que a gente aprende, tanto o conteúdo quanto a atitude. Isso vale, sobretudo, para quem tem responsabilidade na comunidade. Sua fé deve crescer pela leitura da S. Escritura (2Tm 3,14-16), pela experiência vital e pela desinteresseira transmissão da Palavra, traduzida novamente para cada geração. A palavra de Deus atinge as pessoas através dos seus semelhantes. Só o convicto consegue convencer. Daí a solene admoestação dirigida a Timóteo (2Tm 4,1-2): “Eu te peço com insistência: proclama a palavra, insiste oportuna ou inoportunamente…”.
Alguns anos atrás, na crise da secularização, procurava-se não incomodar o homem “urbano moderno” com a expressão franca da identidade cristã. Se alguém, prudentemente, expressasse uma exigência cristã, o interlocutor respondia, com um sorriso de compaixão: “Eu achava que o senhor fosse esclarecido!”. Por isso tornou-se comum esconder a visão cristã. Contudo, sobretudo agora, diante do sumiço da visão cristã, é melhor não ficar dando voltas, mas insistir, mesmo inoportunamente, naquilo que o evangelho diz ao mundo. O tempo é breve. Se julgamos dever respeitar o homem moderno por ser secularizado, devemos também lembrar que ele é, sobretudo, objetivo e não gosta de rodeios, mas quer logo saber qual é o assunto! Por isso, sejamos claros. Não se trata de fanatismo (que é disfarce da insegurança), mas de clareza e sadia insistência. Paulo aconselha exteriorizarmos nossa convicção (2Tm 4,2), sobretudo porque o evangelho que ele propõe é o da “graça e benignidade de Deus, nosso Salvador” (Tt 3,4; cf. 2,11).
Para isso, é necessário que o evangelizador “curta”, pessoalmente, toda a riqueza da Palavra e a sua expressão nas Sagradas Escrituras – inclusive do Antigo Testamento, que fornece a linguagem em que Jesus moldou seu evangelho. Tudo isso é obra do Espírito de Deus (2Tm 3,16).
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO
A Sagrada Escritura: a reflexão pode aprofundar o tema da 2ª leitura, que reforça o que o evangelho diz sobre a oração: a assiduidade na leitura da Escritura (2Tm 3,14-16). Antigamente, os protestantes se distinguiam dos católicos porque, como se dizia, eles “liam a Bíblia”. De uns tempos para cá, isso mudou. Agora, a Bíblia faz parte também do lar católico, e isso não só para ficar exposta sobre um belo suporte de madeira entalhada… O Concílio Vaticano II nos exorta a ler a Sagrada Escritura, usando as mesmas palavras de Paulo na 2ª leitura de hoje: a Escritura “comunica a sabedoria que conduz à salvação”, “é inspirada por Deus e pode servir para denunciar, corrigir, orientar”. E a recente Exortação apostólica Verbum Domini do Papa Bento XVI diz que a leitura das Escrituras deve ser a alma de toda a pastoral.
Ora, essa recomendação de Paulo e do Concílio deve ser interpretada como convém. Não significa que cada palavrinha isolada da Sagrada Escritura seja um dogma. A Escritura é um conjunto de diversos livros e textos que devem ser interpretados à luz daquilo que é mais central e decisivo, a saber: o exemplo de vida e o ensinamento de Jesus – aquilo que faz Cristo crescer em nós e em nossa comunidade.
O centro e o ponto de referência de toda a Sagrada Escritura são os quatro evangelhos. Em segundo lugar vêm os outros escritos do Novo Testamento (as Cartas e os Atos dos Apóstolos), que nos mostram a fé e a vida que os discípulos de Jesus quiseram transmitir. A partir daí podemos compreender como deve ser interpretada a Bíblia toda, com inclusão do Antigo Testamento, para que nos manifeste, mediante a fé em Jesus Cristo, a “sabedoria que conduz à salvação” (2Tm 3,15). A recomendação de Paulo a Timóteo para que leia as Escrituras refere-se ao Antigo Testamento, as Escrituras de Israel (pois o Novo ainda não tinha sido posto por escrito); à luz de Cristo, essa leitura se torna caminho de salvação. Quanto a nós, o Novo Testamento nos fala de Jesus, e o Antigo se torna leitura salvífica em Jesus, que, como verdadeiro “filho de Israel”, mostrou a plenitude do Antigo e o levou à perfeição. Jesus usou as palavras do Antigo Testamento para rezar e para anunciar a Boa-nova do Reino. Sem conhecer o Antigo Testamento, não entendemos a mensagem de Jesus conservada no Novo. “Quem não conhece as Escrituras, não conhece Cristo” (S. Jerônimo).
Jesus é a chave de leitura da Bíblia. Isso é muito importante para não fazermos de qualquer frase do Antigo (e nem do Novo) Testamento um dogma definitivo! A lei do sábado, por exemplo, deve ser interpretada com esse profundo senso de humanidade que tem Jesus: o sábado é para o homem, não o homem para o sábado. As ideias de vingança, no Antigo Testamento, à luz de Jesus aparecem como atitudes provisórias e a serem superadas. Todos os trechos da Bíblia, por exemplo as parábolas de Jesus, devem ser entendidos dentro do seu contexto e conforme seu gênero e intenção. Não devem ser tomados cegamente ao pé da letra. Muitas vezes apresentam imagens que querem exemplificar um só aspecto, mas não devem ser imitados em tudo (cf. o administrador esperto, no 25º domingo do tempo comum).
Por outro lado, importa ler a Sagrada Escritura no horizonte do momento presente, interpretá-la à luz daquilo que estamos vivendo hoje. Sem explicação e interpretação, a Bíblia é como faca em mão de criança, ou como remédio vendido sem a bula: pode até matar! Ora, a interpretação deve se relacionar com a vida do povo. Por isso, o próprio povo deve ser o sujeito dessa interpretação, mediante círculos bíblicos e outros meios adequados.

Pe. Johan Konings, sj

Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje. E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br.

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Comum 1029: De Braços erguidos

A Liturgia de hoje nos convida a manter com Deus uma ORAÇÃO PERSEVERANTE.
Só assim será possível aceitar os projetos de Deus, compreender os seus silêncios, respeitar os seus ritmos e acreditar no seu amor.

Na 1a Leitura, MOISÉS não desiste de rezar. (Ex 17,9-13a)

O Povo de Deus está a caminho da Terra Prometida...
- Josué organiza seus homens para lutar contra os inimigos com as armas.
- Moisés, no alto da colina, de "mãos erguidas", faz uso da arma da Oração.
  Duas pessoas sustentam os braços cansados de Moisés.
  A vitória foi alcançada muito mais pelo auxílio de Deus, do que pelo valor dos combatentes.

* Nas duras batalhas da vida, devemos contar com a ajuda e a força de Deus.
   Devemos manter, como Moisés,  as "Mãos sempre erguidas" em oração, sem nos deixar vencer pelo cansaço.

Na 2a Leitura, PAULO indica uma fonte preciosa que alimenta a Oração:
A Sagrada Escritura:
 "Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça... Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, preparado para toda a boa obra". (2Tm 3,14-4,2)

* A Bíblia é o fundamento da fé e o vigor das comunidades.
A Instrução bíblica constitui o equipamento vital do homem de Deus, aos ministros da Palavra, uma preparação conveniente, para que ela se torne atraente e chegue ao coração dos ouvintes.
O Documento de Aparecida afirma: "Uma maneira privilegiada de ler a Bíblia
é a LEITURA ORANTE DA BÍBLIA...
Bem praticada, conduz ao encontro com Jesus-Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus-Messias, à comunhão com Jesus-Filho de Deus e ao testemunho de Jesus-Senhor do universo". (DA 249)

No Evangelho, a VIÚVA não desiste de implorar. (Lc 18,1-8)

"Para mostrar a necessidade de REZAR SEMPRE, e nunca desistir":
Jesus contou aos discípulos uma PARÁBOLA:
- Uma viúva injustiçada pede justiça... mas o juiz não lhe dá ouvidos...
   Ela tanto insiste, que o juiz acaba atendendo.
   A insistência da viúva vence a indiferença do juiz iníquo.
- Se até um homem mau cede diante de um pedido incessante, quanto mais Deus, que é justo e santo, nos atenderá e salvará...
  A Oração deve ser um Diálogo insistente e contínuo...

* Deus está sempre atento aos nossos pedidos, mesmo quando "parece" insensível aos nossos apelos, aos nossos clamores por justiça. Geralmente temos pressa...
   Ele sabe a hora e o momento para cada coisa.
   A nós resta moderar a impaciência e confiar totalmente nele.

+ "REZAR SEMPRE"...

- Significa nunca interromper o DIÁLOGO com Deus, mesmo no aparente silêncio de Deus.
   "É a presença silenciosa de Deus na base do nosso pensamento, da nossa reflexão e do nosso ser, que impregna toda a nossa consciência". (Bento XVI)

- Nesse diálogo, Deus transforma os nossos corações e aprendemos a nos entregar nas mãos de Deus e confiar nele.
  Se interrompermos esse contado, se deixarmos "cair os braços", logo fracassaremos.

+ A Oração não é uma fórmula mágica
   para levar Deus a fazer nossa vontade ou até nossos caprichos.
   Não é um simples ato de piedade, ou expressão do sentimento; mas antes um ato de fé e de amor, que nos abre ao DIÁLOGO COM DEUS.

+ Rezar é CONVERSAR com Deus: Falar e Escutar...
   As Orações não precisam de palavras complicadas.
   Existem orações escritas que rezamos, mas também as orações que são feitas quando queremos conversar com Deus do nosso jeito.
   Deus é o nosso melhor amigo e gosta de nos ouvir.

+ Rezar é fazer SILÊNCIO profundo
   para ouvir Deus, acolher a sua Palavra e assim nos dispor a fazer a sua vontade...

+ Rezar é uma RESPOSTA vivencial e verbal, que poderá assumir várias FORMAS: Ação de graças... Contemplação...    
   Profissão de fé... Declaração de entrega... Pedido...

+ UM DESAFIO: (convite):           
    Nesta semana: encontrar todos os dias um tempo sagrado para uma Oração (conversa) pessoal com Deus...
    A Oração perseverante ajudará a ser "Discípulos-Missionários" Nesse Dia Mundial das Missões, recordemos o compromisso missionário da Igreja, rezando pelos missionários e dando a nossa oferta pelas missões.
Lembremos mais uma vez o tema "Juventude em missão" e o lema "A quem eu te enviar, irás" da Campanha missionária.

                                     Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 20.10.2013

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A viúva que enfrenta o juiz: Impaciência e persistência como modelo de fé e oração (Lucas 18,1-8) [Odja Barros]

Segunda-feira, 14 de outubro de 2013 - 9h11min
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Onde está Amarildo?
A parábola da viúva persistente de Lucas 18,1-8 é material exclusivo do Evangelho de Lucas. Não se encontra nos outros Evangelhos e tem por tema principal a persistência na oração aqui entendida e vinculada à ação. A mulher viúva é tomada como exemplo da oração que agrada a Deus. Sua ação incansável e obstinada em busca da justiça e do direito é o exemplo maior de fé e oração esperada por Deus. Essa parábola na maioria das vezes é superficialmente interpretada limitando a força da parábola apenas à persistência na oração. Ignora-se que, para além da persistência na oração, a parábola traz uma mensagem forte de luta incessante, persistente e impaciente pela justiça. Luta que uma pobre viúva enfrenta diante de um insensível juiz. Ela o enfrenta com uma atitude obstinada e até agressiva em busca de justiça.
 O que nos conta a Parábola?
A parábola apresenta certa cidade onde havia um juiz que não temia a Deus e nem se importava com as pessoas. Na mesma cidade, havia também uma viúva que se dirigia continuamente a ele dizendo: "Faze-me justiça contra meu adversário!" (18,2-3).  O juiz está bem descrito: Ele é um juiz que não teme a Deus e nem se importa com as pessoas. E sobre a viúva? O que é dito? Não é apresentada qualquer informação sobre ela, não se sabe sequer qual era a causa que aflige o direito dessa mulher. Sabe-se apenas que ela está sendo prejudicada nos seus direitos por causa de alguém denominado de "adversário" e que por isso procura o juiz a quem se dirige de forma contínua e persistente travando uma luta obstinada e incansável pela justiça.
 "Faça-me justiça contra meu adversário"
Essas são as únicas palavras da viúva na parábola. Nestas palavras está inscrita a história dessa viúva e a história de tantas outras mulheres e grupos oprimidos em busca e em espera pela justiça em sua época.
Desprovido de temor a Deus e interesse pelas pessoas, o juiz não parece se importar pela situação daquela mulher. A pobre viúva sem dinheiro ou poder tem a seu favor apenas o recurso da intimidação e da persistência. A ação da viúva é expressa como uma ação contínua e ameaçadora que atinge o juiz onde ele poderia ser atingido: na preocupação egoísta do seu próprio conforto.
 Aborrecer e importunar até que me faça justiça
Essa foi a estratégia de luta dessa mulher. Ela vinha todos os dias diante do juiz e o importunava e o aborrecia. O termo grego que aparece em 18,5 é "hypopiadzein"significa uma bofetada em baixo dos olhos que deixa uma marca roxa característica que denuncia em público a agressão sofrida. O uso do termo na parábola não quer dizer que isso tenha acontecido, mas que o juiz temia que isso pudesse acontecer o que lhe causaria muito constrangimento público. Por isso, ele é coagido pela ação ativa e insistente e ameaçadora da viúva a agir em favor dela.  Naquela mulher obstinada, o insensível magistrado encontrou adversário à sua altura. Ele podia ter sido assaltado por persistência obstinada antes, mas nenhuma que se igualasse aos apelos infindáveis e insistentes desta mulher. Ele lhe fez justiça, não porque fosse justo ou mesmo compassivo, mas porque percebeu que não conheceria um momento de paz até que atendesse aquela mulher.
 A vida das mulheres viúvas e o sistema injusto
As viúvas e os órfãos sempre eram no mundo antigo, do ponto de vista estrutural, as primeiras vítimas das injustiças e alvos de descaso e de tentativas de fraude e exploração. Desde o Antigo Testamento Deus aparece intervindo em defesa dos grupos que sofrem essa injustiça estrutural. A viúva da parábola de Lucas 18,1-8 chama a nossa atenção pela sua persistência na luta pelos seus direitos. Ela se fundamenta no direito divino. A atitude dessa mulher é do começo ao fim destacada como referência de quem se deve aprender. Diante da violência do sistema injusto é preciso resistir com firmeza e intrepidez.
Segundo Ivoni Richter, a situação de vida e o atuar desta viúva não é um caso isolado na antiguidade. Com seu exemplo, a parábola condensa a experiência de muitas viúvas, as quais, conforme a tradição veterotestamentária, tantas vezes está exposta à injustiça, à não realização dos seus direitos. A parábola de Jesus assume positivamente a experiência desta viúva que luta por seus direitos. E os conquista. Com isto, a parábola quer estimular e animar as pessoas crentes à oração ativa e continua em meio ao sofrimento da vida. Portanto, a parábola reflete a situação de vida das viúvas que muitas vezes tiveram que levantar-se e impor-se para garantir seus direitos.

A esperança escatológica e a justiça de Deus
Os versos 6 a 8 inserem a parábola no contexto da esperança escatológica e aligam com o tema da vinda do filho do homem de Lucas 17,20-37. Neste sentido, justiça, juízo, graça e perseverança são temas que se unem na parábola. O estabelecer da justiça de Deus está vinculado à vinda do filho do homem que virá para fazer justiça aos pobres e oprimidos que se confrontam com situações cotidianas de direitos negados. Mas, a justiça de Deus é motivada pelo seu amor e sua misericórdia e não pela preocupação consigo mesmo como no caso do juiz injusto da parábola. É nesse contexto que Lucas insere a parábola da viúva persistente, advertindo para não desanimarmos na luta ativa para fazer presente a justiça de Deus.   
 A impaciência e persistência da mulher como modelo de fé e oração
A parábola encerra com a pergunta problematizante: "Quando o filho do homem vier, encontrará fé na terra"? O exemplo da viúva persistente fica claramente apresentado como modelo a ser seguido pela comunidade de discípulos e discípulas. A advertência de Jesus é quanto à espera ativa e persistente pelo reinado de Deus. A fé aqui referida é sinônimo da postura e ação da viúva em que, na situação de injustiça na qual parecia haver total ausência de Deus, ela se implica de maneira insistente e incansável.  Portanto, manter a fé significa não desanimar, não desistir e perseverar em busca incessante da realização da ação salvadora e libertadora de Deus, comprometendo-se com seu projeto de justiça, principalmente para os grupos mais excluídos e oprimidos para quem Ele,  justo juiz,  dirige sua misericórdia.
O exemplo trazido nessa parábola nos convida a viver uma fé não fatalista e não conformista, mas uma fé e oração ativa, combativa e persistente comprometida e implicada com a luta pelos direitos das pessoas mais excluídas. A pergunta continua pertinente: Será que quando o filho do homem vier, encontrará fé como a dessa mulher? Que a herança e exemplo dessa parábola nos ajudem a manter uma fé ativa e operante em meio ao mundo de estruturas injustas.
 Referência bibliográfica:
El poder de una protagonista: La oración de las personas excluidas (Lucas 18,1-8). Ivoni Richter. Ribla em Pero Nosotras dicimos. Revista latino americana de Estudos bíblicos CLAI. n. 25. 1997.
As Parábolas de Jesus: Uma nova hermenêutica. Luise Schottoff. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2007.
As Parábolas de Lucas. Kenneth Bailey. São Paulo: Vida Nova editora, 1995.
http://www.cebi.org.br
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13 de outubro – 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM

A GRAÇA DE DEUS E NOSSO AGRADECIMENTO

I. INTRODUÇÃO GERAL 
A liturgia do 28º domingo comum nos apresenta um tema bem caro ao evangelista Lucas e muito esquecido em nossa sociedade: a gratidão. Em nossos dias de individualismo e de egocentrismo exacerbado, por causa do mito do bem-estar e da idolatria do mercado, a gratidão brilha como uma luz nas trevas.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 
1. I leitura (2Rs 5,14-17)
A 1ª leitura é a história da gratidão de Naamã, o general sírio que ficou leproso. Aconselha-se, aos padres ou ministros da Palavra, que expliquem e contextualizem bem esta leitura, pois o trecho prescrito no Lecionário ficou muito truncado. O recorte litúrgico exige pelo menos uma pequena introdução narrativa, para pôr os ouvintes a par do que precedeu à entrada de Naamã na água do Jordão! É preciso lembrar como esse estrangeiro concebeu a ideia de consultar um profeta de Israel e, sobretudo, como ele queria montar um espetáculo, levando ricos presentes e vestes (2Rs 5,5). O poderoso general sírio queria que o profeta Eliseu o curasse por sua palavra, mas Eliseu o mandou banhar-se no Jordão, para que ficasse claro que não era Eliseu quem curava, e sim o Senhor de Israel e das águas do Jordão. O general, apertado, aprendeu a obedecer.
Então veio a hora de agradecer. Novamente, Naamã quer mostrar seu prestígio oferecendo um presente digno de príncipe. Eliseu recusa, pois quem agiu não foi ele, mas foi Deus! Então vem o comovente fim da história: curado não só de sua lepra, mas de seu orgulho de militar, Naamã pede para levar consigo, nos jumentos, umas sacas de terra, para poder adorar, na Síria, o Deus de Eliseu sobre o chão de Israel! Além disso, pede antecipadamente perdão, porque, como funcionário real, terá que adorar também, de vez em quando, o deus sírio Remon; e Eliseu responde: “Pode fazer tranquilamente”…
As lições dessa história são diversas: a gratuidade do agir de Deus, pois o que o move não são as manias militarescas ou os presentes, mas a simples confiança de Naamã; a humildade do profeta, que só quer que Deus apareça; a comovente gratidão do sírio; a abertura de espírito do profeta quanto às obrigações religiosas do sírio; o fato de ele ser estrangeiro e, nesse sentido, o fato de Deus o atender gratuitamente, sem “ter obrigações” para com ele…
2. Evangelho (Lc 17,11-19) 
O evangelho lembra, sob vários aspectos, a história de Naamã (1ª leitura). Trata-se de lepra. Dez leprosos são curados não imediatamente (exatamente como Naamã), mas somente depois de ter mostrado confiança inicial na Palavra de Jesus, que os mandou mostrar-se aos sacerdotes. Porém, quando eles obtêm a cura, a história se torna menos emocionante que a de Naamã: torna-se um caso grave de ingratidão. Só um dos dez volta para agradecer, e este é, por sinal, um estrangeiro (como Naamã), e, além disso, samaritano, inimigo dos judeus.
Parece que a graça de Deus é melhor acolhida pelos estrangeiros. E é verdade, pois os estrangeiros se sabem agraciados, enquanto as pessoas da casa acham que tudo quanto recebem é “por direito” e que, portanto, não precisam agradecer! Esquecem que tudo é graça. Acham que estão quites quando cumprem as prescrições: mostrar-se aos sacerdotes. Sua atenção é absorvida por seu próprio sistema. Por isso, diz-se que os piores cristãos são os que moram perto da Igreja: apropriam-se da religião e esquecem o extraordinário de tudo o que Deus faz.
3. II leitura (2Tm 2,8-13) 
Na 2ª leitura, o “testamento de Paulo” (cf. domingos anteriores) chega ao ponto mais significativo: Paulo confia a seu cooperador, Timóteo, o evangelho que ele mesmo pregou, o anúncio da ressurreição de Cristo, que garante também a nossa ressurreição – se ficarmos firmes na fé nesta palavra. Quem segue no trilho do Apóstolo arrisca-se. O amor ao Evangelho e aos “eleitos” exige empenho total. Isso é possível a partir da certeza de que Cristo foi ressuscitado dos mortos (2,8). Paulo está algemado, mas a palavra não está algemada (v. 9)!
As últimas frases da perícope (2Tm 2,11-13) formam um hino. A palavra que é verdadeira nos ensina: se morrermos com Cristo, viveremos; se formos firmes, reinaremos com ele; se o renegarmos, ele nos renegará; – e agora vem uma quebra surpreendente nos paralelismos – se formos infiéis, ele será… fiel! À nossa infidelidade, Deus responde com sua fidelidade, pois não pode negar seu próprio ser!
III. PISTAS PARA REFLEXÃO 
Gratidão: os textos nos convidam a refletir sobre a gratidão. A 1ª leitura nos oferece uma das mais belas histórias do Antigo Testamento. Naamã, general sírio, foi curado da lepra pelo profeta israelita Eliseu. Para mostrar a sua gratidão, levou consigo para a Síria, nos seus jumentos, uns sacos cheios de terra de Israel, para, lá na Síria, adorar o Deus de Israel no seu próprio chão! Em contraste com este exemplo de singela gratidão, o evangelho narra a história dos dez leprosos curados por Jesus, dos quais apenas um voltou para agradecer. E esse era, por sinal, um estrangeiro (como o general sírio), pior, um samaritano, inimigo do povo de Jesus…
Gratuidade do agir de Deus, gratidão por tudo o que Deus faz: tudo é graça. O tema da gratidão é bem enquadrado pela liturgia toda. A oração do dia reza que a graça de Deus deve preceder e acompanhar nosso agir; devemos estar atentos ao bem que Deus nos dá para fazer. O salmo responsorial (Sl 98[97]) e a aclamação ao evangelho estão no mesmo tom.  É também o dia indicado para ler o belo prefácio comum IV: agradecemos a Deus até o dom de o louvar! Graça, gratuidade, gratidão, agradecimento: é o momento de ensinar ao povo o parentesco, não apenas etimológico, mas vital, dessas palavras.
As antigas orações estão cheias de ação de graças. O próprio termo “eucaristia”, que indica a principal celebração cristã, significa “ação de graças”. Contudo, quando se faz, depois da comunhão, uma ação de graças partilhada, a maioria das pessoas dificilmente consegue formular um agradecimento; a oração de pedido é que lhes vem aos lábios. Numa missa, depois da comunhão, o padre convidou os fiéis a formular orações de louvor e gratidão, não de pedido, mas a primeira voz que se fez ouvir rezou: “Eu te agradeço, Senhor Deus, porque te posso pedir por meu marido e meus filhos…”.
A gratidão é uma flor rara. Brota, frágil e efêmera, nas épocas de trocar presentes (Natal, Páscoa…), mas desaparece durante o resto do ano. Quase ninguém agradece pelos dons que recebe continuamente, dia após dia: a vida, o ar que respira, os pais, irmãos, vizinhos…
Se fosse apenas o costume de pedir, não seria grave. Pedir com simplicidade pode ser outra face da gratidão – como aquele frei que, depois de uma boa sobremesa na casa de uma benfeitora, assim falou: “Minha senhora, não sei como mostrar minha gratidão por esse almoço e essa sobremesa tão gostosa… posso pedir mais um pedaço?”. Ao contrário, porém, a mania de pedir sem agradecer reflete a mentalidade de nosso ambiente: sempre querer levar vantagem. Será por causa das dificuldades da vida? Mas os que têm a vida mais folgada é que mais pedem sem agradecer… Falta motivação para se dirigir em simples agradecimento àquele que é a fonte de todos os bens. Talvez não seja apenas a gratidão que desapareceu. Receio que Deus mesmo tenha sumido dos corações.
Não só as pessoas individuais, também as comunidades eclesiais devem precaver-se desse perigo. Lutar pelo amor-com-justiça é bom e necessário, mas a luta deve estar inspirada pela visão alegre e alentadora do bem que Deus dispõe para todos, e não pela insatisfação e frustração. Um espírito de gratidão pelo que já se recebeu, em termos de solidariedade e fraternidade, é o melhor remédio para que a luta não faça azedar as pessoas. Então a desgraça que se vive não abafará a gratidão; será apenas um desafio a mais para que tudo o que fizermos seja uma ação de graças a Deus, conforme a palavra de Paulo na 2ª leitura.
Pe. Johan Konings, sj

Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje. E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br.


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Comum1328: "Obrigado, Senhor"

Vivemos num mundo em que a vida humana ficou transformada num grande comércio,onde tudo se compra e tudo se paga ...
Diante dessa realidade, muitos perderam o valor da GRATUIDADE e da GRATIDÃO.

A Liturgia de hoje nos apresenta o pensamento de Deus:

Na 1ª Leitura: O Profeta Eliseu cura o leproso Naaman. (2Rs 5,14-17)

O general sírio apresenta-se ao Profeta para ser curado...
Eliseu, sem acolhê-lo, manda lavar-se sete vezes no Rio Jordão.
O General humilhado está decidido a desistir e voltar para a sua terra...
Mas a comitiva insiste e ele obedece... e fica curado...
Reconhecido, proclama sua fé no Deus de Israel e, como sinal de sua gratidão, leva consigo de Israel um pouco de terra, a fim de cultuar na própria terra o Deus verdadeiro.

Na 2ª Leitura, Paulo, bem consciente de ter sido um "leproso", em meio aos sofrimentos e privações da prisão, encontra motivos de alegria, de esperança e de gratidão a Deus, pelos favores recebidos, chegando a afirmar:
"Estou algemado como um prisioneiro,mas a palavra de Deus não pode ser algemada". (2Tm 2,8-13)

No Evangelho, Jesus, a caminho de Jerusalém, cura dez leprosos. (Lc 17,11-19)

Os leprosos deviam morar fora do povoado, longe do convívio humano para não contaminarem os outros com a sua impureza física e religiosa.
- Eles gritam de longe: "Jesus, mestre, tem compaixão de nós..."
- Jesus se "compadece" e os manda se apresentarem aos sacerdotes, que eram os responsáveis para comprovar a cura e liberar a reintegração na Comunidade.
- Os dez obedecem e "no caminho" se vêem curados. Mas só um volta para agradecer...  e era um samaritano, considerado estrangeiro e desprezado pelos judeus...
- Cristo questiona: "Não foram 10 os curados? Onde estão os outros nove?"
  E acrescenta: "Levanta-te e vai. TUA FÉ te salvou".

* O episódio ilustra o CAMINHO DA FÉ:
A fé nasce da esperança em Jesus que cura, se concretiza "a caminho" na obediência à Palavra de Jesus e se manifesta plenamente na gratidão.

Pormenores significativos da narrativa do milagre:

- "A Lepra" representa o mal que atinge toda a humanidade, gerando exclusão, opressão e injustiça (número 10 significa "totalidade").
  A todos os que se sentem "leprosos", Deus faz encontrar a vida plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade dos homens.
- Judeus e Samaritanos juntos e solidários:
  Dois povos adversários, unidos pela desgraça e pela dor.
  A luta pela vida supera as diferenças religiosas, políticas ou raciais.
  E em conjunto vão à procura de Jesus: "Tem compaixão de NÓS".

- A Lepra desaparece "no caminho":
  A Ação libertadora de Jesus é um processo progressivo, no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração.

- Só um volta para agradecer:
  O Leproso curado volta "glorificando a Deus em alta voz".
  Reconhece Jesus como libertador e está disposto a segui-lo.
  Agradece e acredita, por isso recebe mais: "Vai a tua fé de salvou".
  A fé dos demais chega até a cura; a sua fé chega até a Salvação.

- "E é um Samaritano" (estrangeiro)
Os "de casa" não sentem necessidade de agradecer.
O estrangeiro volta para agradecer.
* A graça de Deus é mais valorizada por quem não pertence à Comunidade...
   - O que nos diz esse fato?

+ Quem são os leprosos de hoje,
que marginalizados e discriminados pela comunidade, continuam ainda hoje sofrendo na própria pele as conseqüências das feridas da lepra do pecado?

+ A gratidão: é uma das virtudes que enobrecem a pessoa humana. 
Desde criança, fomos educados a agradecer os favores recebidos.
A gratidão é a atitude que brota do coração de quem se sente amado pelo amor de Deus...

Nem todos sabem agradecer. ("Nem obrigado recebi!")
- Não basta na hora da necessidade gritar: "Senhor, tem piedade de mim!".
É preciso também manifestar a nossa gratidão pela libertação que faz acontecer em nós, comprometendo-nos com ele.

- Saber agradecer a tantas pessoas, que tornaram nossa vida mais feliz:
nossos pais, nossos professores, o padre, o médico, o catequista, os colegas de estudo, de trabalho, de esporte e tantos outros.
- Não basta sentir... É importante também manifestar...

- "Obrigado" é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos.
   Ela valoriza o dom recebido e dispõe ainda mais o doador.

+ EUCARISTIA quer dizer: "ação de graças".
Aproveitemos esse momento privilegiado para agradecer a Deus de todos os favores recebidos em nossa vida, e partamos daqui dispostos a reconhecer agradecidos também os inúmeros favores recebidos de nossos irmãos...

                                        Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 13.10.2013
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Viver em gratidão: sinal da presença do Reino - Lucas 17,11-21 [Carlos Mesters / Mercedes Lopes]
Terça-feira, 8 de outubro de 2013 - 10h40min
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No texto de hoje, aparece outro assunto muito próprio de Lucas: a gratidão. Saber viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava (Lc 2,28-38; 5,25-26; 7,16; 13,13; 17,15-18; 18,43; 19,37; etc.). Além disso, no Evangelho de Lucas, há vários cânticos e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc 1,46-55; 1,68-79; 2,29-32). 
Comentando
1. Lucas 17,11: Jesus em viagem para Jerusalém
Lucas lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia. Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela Samaria. Isto significa que os importantes ensinamentos dados nestes capítulos (9 a 17) foram todos dados em território que não era judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de Lucas, vindas do paganismo.
2. Lucas 17,12-13: O grito dos leprosos
Dez leprosos aproximam-se de Jesus, param ao longe e gritam: "Jesus, mestre, tem piedade de nós!" O leproso era uma pessoa excluída. Não podia aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se, novamente, acolhido por Deus, poder dirigir-se a Ele para receber a bênção prometida a Abraão.

3. Lucas 17,14: A resposta de Jesus e a cura
Jesus responde: "Vão mostrar-se aos sacerdotes!" Era o sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de Jesus exige muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de lepra. Mas eles acreditam na palavra de Jesus e vão em direção ao sacerdote. E acontece que, enquanto vão caminhando, manifesta-se a cura. Ficam purificados.
4. Lucas 17,15-16: Reação do samaritano
Dos dez, só um volta para louvar a Deus e agradecer a Jesus. E este é um samaritano. Por que os outros não voltam? Por que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia uma tendência que levava o povo a observar a lei para poder merecer a vida eterna. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Elas acham tão normal receber algum favor, que nem sequer agradecem! O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que nós, seres humanos, não temos mérito nem crédito diante de Deus. Tudo é graça, a começar pelo dom da própria vida! Hoje são os pobres que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta dimensão da gratuidade da vida.
5. Lucas 17,17-19: Observação de Jesus
Jesus estranha: "Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!" Para Jesus, agradecer aos outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição nos judeus. Hoje, são as pessoas que não fazem parte da comunidade que dão lição a nós! Tudo que recebemos deve ser visto como um dom de Deus que vem até nós por intermédio do irmão e da irmã.

6. Lucas 17,20-21: O Reino no meio de nós
Lucas acrescenta, aqui, uma discussão entre Jesus e os fariseus sobre a data da vinda do Reino. Os fariseus achavam que o Reino só poderia vir quando o povo tivesse chegado à perfeita observância da Lei de Deus. A vinda do Reino seria recompensa de Deus pelo bom comportamento do povo. E o Messias viria de maneira bem solene como um rei, recebido pelo seu povo. Jesus diz o contrário. A chegada do Reino não pode ser observada como se observa a chegada dos reis da terra. Para Jesus, o Reino de Deus já chegou! Já está no meio de nós, independentemente do nosso esforço ou mérito. Jesus tem outro modo de ver as coisas. Tem outro olhar para ler a vida. Ele prefere o samaritano que vive na gratidão aos nove que acham que merecem o bem que recebem de Deus.
Alargando
1. O significado do gesto do samaritano para as comunidades de Lucas.
Nas comunidades de Lucas, a maioria das pessoas tinha vindo do paganismo. Mesmo depois de haverem acolhido o evangelho e de serem batizadas, suportavam o desprezo dos cristãos de origem judaica. A mancha de haverem sido pagãos permanecia. Essa era também a experiência do samaritano. Foi curado da lepra e podia agora participar da vida da comunidade, mas continuava nele a mancha de ser samaritano, que ninguém poderia tirar. A experiência de ser um eterno excluído aumenta nele a capacidade de reconhecer o dom do acolhimento dado por Jesus. Por isso, volta para agradecer.
2. A acolhida dada aos samaritanos no Evangelho de Lucas.
Para Lucas, o lugar que Jesus dá aos samaritanos é o mesmo que as comunidades devem reservar aos pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois para os judeus samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios interiores do Templo de Jerusalém nem participar do culto. Eram considerados portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não depende dos méritos de ninguém.
3. A lepra e a busca da pureza no tempo de Jesus.
Os leprosos eram marginalizados, desprezados e excluídos do direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da pureza, eles tinham que andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados e ir gritando: "Impuro! Impuro!" (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura significava o mesmo que buscar a pureza para que fossem reintegrados na comunidade e entrar no santuário.


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12 de outubro – NOSSA SENHORA APARECIDA ()

INTERCESSORA JUNTO A JESUS E PADROEIRA DO BRASIL

I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia de hoje é marcada pela ideia da intercessão de Maria, padroeira principal do Brasil. Ao mesmo tempo, a lembrança de sua imaculada conceição sugere a dedicação “sem reticência” que ela desenvolve junto a seu filho Jesus, que é o Filho de Deus. É nesse sentido que a liturgia de hoje orienta nosso pensamento.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Est 5,1b-2; 7,2b-3)
A 1ª leitura lembra a intercessão da rainha Ester junto ao rei Assuero em favor do povo judeu, ao qual ela mesma pertencia. Ao mesmo tempo, menciona-se a graciosa beleza desta “flor de seu povo”.
Se é verdade que Deus encarna seu amor, deve encarná-lo também na realidade que é uma nação. No Antigo Testamento, a consciência da encarnação do amor de Deus praticamente não ultrapassava as fronteiras de Israel. Um dos momentos em que se notificou esse amor encarnado na proteção da nação foi a atuação da rainha Ester, judia que, graças às suas reais qualidades e à presença de Deus em sua vida, conseguiu proteção para o povo dominado. Esse tema pode ser interpretado como um símbolo do amor que Deus dedica a qualquer povo que expressa sua confiança nele e toma sua vontade e justiça como rumo de seu caminho.
Para a liturgia de hoje, a “rainha” por excelência é Maria, mediadora junto a Jesus e a Deus, e solidária com o povo. Como Ester, ela reza: “Salva meu povo”.

2. II leitura (Ap 12,1.5.13a.15.16a)
A 2ª leitura é a mesma da festa da Assunção. O texto litúrgico se compõe de recortes do capítulo 12 do Apocalipse, que põe em cena a Mulher-Povo de Deus. Ela dá à luz o Messias e é perseguida pelo Dragão, que representa o anti-Reino. Da alegoria da Mulher-Povo de Deus (Ap 12) utilizam-se, na interpretação litúrgica, aqueles versículos que sublinham a grandeza e a realeza da Mulher-Maria (Mãe do Messias), como também a solidariedade da “terra” com sua luta (12,16a).
Destaca-se o papel protetor que a Mulher exerce com relação ao Filho messiânico. Se, no sentido primeiro, a Mulher é a Igreja-povo de Deus, a intuição da fé, aplicando essa leitura a Maria, percebe-se a analogia entre o papel da Igreja e o de Maria. Gerar e levar o Salvador ao mundo, e presenciar sua vitória, eis o que Maria e a Igreja têm em comum. Destacando a figura de Maria, a Igreja assume, até certo grau, o que foi a obra de Maria. Isso vale também com relação à proteção do povo, que não é algo mágico, mas algo que se realiza mediante as nossas mãos: nosso empenho por uma sociedade melhor, mas justa, mais conforme à vontade de Deus.

2. Evangelho (Jo 2,1-11)
O evangelho de hoje é escolhido em função da ideia da intercessão de Maria, como aparece no “milagre do vinho”, nas bodas de Caná.
Maria é apresentada aí como a “senhora mãe” (é o que significa, na linguagem bíblica, o termo de tratamento “mulher”). Ela se sente responsável pelo que diz respeito à sua família: a presença de seu filho Jesus e de seus amigos faz com que se preocupe com a falta de vinho na festa. Conhecendo seu filho, intercede junto a ele para apontar essa situação. Quando Jesus, então, pergunta pelo sentido dessa situação (“Que significa para ti e para mim, mulher?”) e observa que “ainda não chegou sua hora” (para sua grande obra) (Jo 2,4), Maria confia os serventes à providência dele (“Fazei tudo o que ele vos disser”, cf. Gn 41,55, a respeito de José do Egito). Talvez às cegas, mas confiante no projeto de Deus e no filho que Deus lhe deu, Maria assume sua missão de confiar o mundo a ele.
A partir daí, Jesus vai realizar não um simples “milagre”, mas um “sinal”, como João gosta de dizer – um sinal de sua missão, sinal de que Deus está com ele, sinal-símbolo do dom que ele mesmo é. Pois a história que João conta, como todo seu evangelho, não é propriamente mariológico, mas cristológico. Mostra Jesus dando início (2,11) aos sinais da sua grande obra, antes que se realize a sua “hora” (2,4), que á a hora da cruz (cf. 12,23.27; 13,1; 17,1). Nessa hora aparecerá na cena, pela segunda e última vez no evangelho de João, a “mãe de Jesus”, sendo chamada com o mesmo título de 2,4: “Mulher” (19,26). A “mulher, mãe de Jesus” emoldura, assim, toda a “obra” dele, desde o “início dos sinais”
(2,11) até a obra “consumada” (19,30). Alguns Santos Padres interpretaram isso no sentido de que, em Maria, o povo do Antigo Testamento, representado pela imagem da mulher, passa para a comunidade do Novo Testamento, quando a “Mulher-Mãe” é amparada pelo Discípulo por excelência, que “a acolheu no que era seu” (Jo 19,27).
A abundância de vinho é um sinal de que Jesus vem cumprir a missão messiânica (cf. a abundância de vinho no tempo messiânico, Am 9,13-14 etc.), mas esta missão só é levada a termo na “hora” da morte e glorificação (cf. Jo 13,1ss; 17,5 etc.).

III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Essa festa nos oferece um ensejo para explicar o sentido do pedir graças a Deus mediante a intercessão de N. Senhora. Geralmente as graças que se pedem são benefícios materiais. Mas Deus e Maria não têm como tarefa específica resolver nossos problemas materiais. As graças materiais são apenas sinais de que Deus nos quer bem. Ora, ele nos quer bem sempre, também no sofrimento e na ausência de benefícios materiais! Por outro lado, nem todo benefício material pode ser interpretado como sinal do bem-querer de Deus, pois há muita gente materialmente bem provida e cujo coração está longe de Deus!
Reflitamos, pois, a partir do presente evangelho, sobre o sentido desse pedir graças mediante a intercessão de N. Senhora. Em Caná, Maria pede uma intervenção material, e esta se realiza, porém, não como um fim em si, mas como sinal da grande obra do Cristo, sua morte, na “hora” que naquele momento ainda não havia chegado (2,4; cf. 13,1). Assim também o que nós pedimos pela intervenção de N. Senhora, quer sejamos atendidos de acordo com o pedido ou de outro modo, torna-se sinal do amor até morrer que seu Filho nos dedica. É assim que devem ser interpretadas as preces de súplica: “Dai-nos, Senhor, um sinal de vosso amor”.
A ideia da intercessão, na presente liturgia, concerne sobretudo à pátria brasileira, portanto uma realidade histórico-material. Pode-se, então, pedir a Maria que a ninguém faltem as condições necessárias para viver dignamente. Mas esse pedido deve traduzir também nossa disponibilidade para colaborar e participar na grande obra de amor que Cristo iniciou e assinalou em seu primeiro “sinal”, em Caná. Ou seja, os pedidos devem exprimir a vontade de colaborar no reino de paz e amor, pois esse reino é o meio mais seguro para fazer acontecer a realização daquilo que pedimos. Se pedimos bênçãos pela pátria, devemos estar dispostos a nos tornarmos instrumentos daquilo que pedimos (integração de todos numa sociedade justa e fraterna etc.).
A titular da festa é “Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil”. O povo a chama simplesmente de Nossa Senhora Aparecida. Para a “Imaculada Conceição” temos outra festa, em 8 de dezembro. Todavia, vale a pena, apoiados na liturgia, estabelecer um nexo entre a “imaculada conceição” (=a eleição de Maria desde a sua concepção) e seu papel de intercessora e padroeira do nosso povo. Tal nexo se encontra na ideia da “eleição”. Maria não é intercessora e padroeira por mérito próprio, mas porque Deus assim quis que fosse e a elegeu para colaborar na obra a ser levada a termo pelo filho. Toda a vida de Maria foi dedicada a Deus: este é o sentido de sua concepção sem o pecado original, conforme a Tradição da Igreja. E nesta total dedicação a Deus se baseia a sua “liberdade régia” (cf. Ester) para intervir junto a seu filho – o filho de Deus –, para apontar a necessidade de seu povo, como narra o evangelho de hoje.

Pe. Johan Konings, sj

Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje. E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br.

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06 de outubro – 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

A SOBERANIA DE DEUS E NOSSA FIDELIDADE

I. INTRODUÇÃO GERAL 
O mote da liturgia de hoje é: fé e fidelidade. O termo bíblico – emuná em hebraico, pistis em grego, fides em latim – tem esses dois sentidos. Ora, a base de nossa fidelidade está na firmeza inabalável e soberana de Deus. Se dizemos que nossa fé nos salva, isso não é por causa da nossa qualidade, mas porque nossa fé nos une a Deus, que nos salva. Fé é adesão firme a Deus, que é fiel. É a total entrega ao seu desígnio, que muitas vezes supera nossa compreensão imediata, mas, em última instância, nos confirma na salvação. No Antigo Testamento, por exemplo, na 1ª leitura de hoje, a fé é a adesão em autenticidade e lealdade a Deus; no Novo Testamento, trata-se da adesão a Jesus Cristo, que nos une a Deus.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 
1. II leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4)
Habacuc 1,2-2,4 é um diálogo entre Deus e o profeta. Diante da desordem que reina em Judá, nos últimos anos antes do exílio, Habacuc grita a Deus com impaciência, quase com desespero. Deus, porém, anuncia que tratará o mal da infidelidade com um remédio mais tremendo ainda: os babilônios. Quando Habacuc reclama contra essa solução – na leitura deste domingo –, Deus responde: “Eu sei o que faço; não preciso prestar contas; mas os justos se salvarão por sua fidelidade” (2,2-4). O profeta se queixa, porque a impiedade está vencendo, porque o direito e o próprio justo são pisados ao pé. Deus, porém, não precisa prestar contas para o ser humano. Este é que lhe deve obediência, também nas horas difíceis: é a “fé/fidelidade” que faz viver o justo (2,4).

2. Evangelho (Lc 17,5-10)
O evangelho começa com a prece dos apóstolos: “Senhor, aumenta nossa fé”. Às vezes precisa-se de muita fé para acolher a palavra de Jesus, pois o evangelho não é tão evidentemente gratificante. Daí os discípulos dizerem: “Dá-nos mais fé”.
A resposta de Jesus é uma admoestação para que tenham fé que transporta montanhas! Jesus fala aqui no estilo hiperbólico, exagerado, dos orientais, mas não deixa de ser verdade que quem se entrega em confiança a Deus em Jesus Cristo faz coisas que outros não fazem e que o próprio crente não se julga capaz de fazer.
Somos como peões de fazenda, que, depois de terem executado seu longo e cansativo serviço, não podem reclamar, pois apenas cumpriram seu dever (cf. 1Cor 9,16). Assim como, em Habacuc, Deus não presta contas ao profeta, o “dono” na parábola do evangelho não precisa prestar contas a seus servos. Depois da longa jornada dos servos no campo, ele pede que lhe preparem a comida e a sirvam, sem reclamar. Fizeram somente seu dever. Claro que Jesus não está justificando esse modo de agir do dono; apenas usa uma cena cotidiana de seu tempo para expressar que Deus não precisa prestar contas: quando o servimos, fazemos apenas o que devemos fazer.
Nossa mentalidade atual não aceita isso facilmente. Em nossa sociedade, a mínima prestação de serviço exige uma gratificação específica. Ainda que, muitas vezes, a gratificação não valha o serviço, essa mentalidade exclui todo o espírito do “simples serviço”. Até as prefeituras e governos estaduais fazem propaganda com as obras que nada mais são que a execução de seu dever! Ora, no Reino de Deus, o que conta é o espírito de participação. Faz-se o que o Reino exige, sem cobrar nada extra. A recompensa existe no participar, como Paulo diz a respeito de anunciar o evangelho gratuitamente (1Cor 9,16). Ao interpretar a parábola de Jesus, devemos pôr entre parênteses os traços paternalistas da cena que ele evoca. O que ele quer mostrar é que participamos no projeto de Deus, não em função de uma compensação extra, mas porque é a obra de Deus. O próprio Deus é nossa recompensa, e a realização de seu amor supera qualquer recompensa extra que poderíamos imaginar.

3. II leitura (2Tm 1,6-8.13-14)
A 2ª leitura é tomada do início da Segunda Carta a Timóteo. Esta carta impressiona-nos por seu estilo vivo – uma fotografia em alta definição do Apóstolo no fim de seus dias. É seu testamento espiritual. No trecho de hoje, Paulo exorta seu amigo Timóteo a manter a plena fidelidade ao Senhor. Pois também o ministro da fé deve firmar-se na fidelidade, para poder confirmar os seus irmãos na fé.
Em Romanos 1,16, Paulo escreveu que não se envergonhava por causa do Evangelho. A Segunda Carta a Timóteo repete a mesma afirmação, para exortar os pastores que o sucedem, a fim de que se lembrem de estarem servindo ao Cristo aniquilado. Nas cidades do “mundo civilizado” de então, o cristianismo era ridicularizado e perseguido. Por isso, Paulo exorta seu discípulo a não se envergonhar e a guardar a doutrina sadia que dele recebeu (contra as fantasias gnósticas e outras que se introduziram no cristianismo primitivo). Exorta-o a guardar o “bom depósito”, ou seja, o bem nele depositado, a ele confiado (1,14). Esse “bom depósito” é a plena verdade do Evangelho. Repleto dela, o discípulo poderá distribuí-la aos outros, pois o cristão é responsável não só por sua própria fé, mas também pela fé e fidelidade do seu irmão. Ora, nas circunstâncias daquele tempo e de todos os tempos, isso só é possível com a força do Espírito Santo.
Recebemos hoje, portanto, uma mensagem para valorizar a fé, inclusive, como base da oração. Mas nossa fé não é uma espécie de fundo de garantia para que Deus nos atenda. Assim como ele não precisa prestar contas, também não é forçado por nossa fé. Nossa fé é necessária para nós mesmos, para ficarmos firmes na adesão a Deus em Jesus Cristo. Deus mesmo, porém, é soberano, e soberanamente nos dá mais do que ousamos pedir, como diz a oração deste domingo.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO 
Somos simples servos: quem não gosta de um elogio? Não estão nossas igrejas tradicionais cheias de inscrições elogiando os generosos doadores dos bancos e dos vitrais? Ora, o evangelho de hoje nos propõe uma atitude que parece inaceitável a uma pessoa esclarecida: o empregado não deve reclamar quando, depois de todo o serviço no campo, em vez de ganhar elogio, ele ainda deve servir a janta. Ele é um empregado sem importância especial; tem de fazer seu serviço, sem discutir…

Essa parábola não é para ensinar a forma de tratar os empregados, Jesus nos quer ensinar a estar a serviço do Reino, sem atribuirmos importância a nós mesmos. Ele mesmo dará o exemplo disso, apresentando-se, na Última Ceia, como aquele que serve (Lc 22,27). Isto não rima com a mentalidade calculista e materialista da nossa sociedade, que procura compensação para tudo o que se faz – aliás, compensação superior ao valor daquilo que se fez…
Ora, se levamos a sério a parábola de Jesus, como ensinamos os empregados e os operários a reivindicar sempre mais (porque, se não reivindicam, são explorados)? Certamente, Jesus não quer condenar os movimentos de reivindicação, mas seu foco é outro. Ele quer apontar a dedicação integral no servir. Interesse próprio, lucro, reconhecimento, fama, poder… não são do nível do Reino, mas apenas da sobrevivência na sociedade que está aí. A parábola não quer desvalorizar as reivindicações da justiça social, mas insistir na gratuidade do serviço do Reino.
Diante disso, convém fazer um sério exame de consciência acerca da retidão e da gratuidade de nossas intenções conscientes e de nossas motivações inconscientes. Na Igreja, tradicional ou progressista, quanta ambição de poder, quanto querer aparecer, quantas compensaçõezinhas!
E mesmo com relação às estruturas da sociedade, a parábola de Jesus, hoje, nos ensina a não focalizarmos única e exclusivamente as reivindicações. Estas são importantes, no seu devido tempo e lugar, para garantir a justiça e conseguir as transformações necessárias. Mais fundamental, porém, na perspectiva de Deus, é criar o espírito de serviço e disponibilidade, que nunca poderá ser pago. Quem vive no espírito de comunhão nunca achará que está fazendo demais para os outros.
“Somos simples servos”. Antigamente se traduzia: “Somos servos inúteis”. Tal tradução era psicológica e sociologicamente nefasta, pois fomentava a acomodação; e também contraditória, pois servo inútil não serve… Servindo com simplicidade, não em função de compensações egoístas, mas em função da fidelidade e da objetividade, somos muito úteis para o projeto de Deus.

Pe. Johan Konings, sj

Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje. E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br.




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Aqui nos reunimos porque temos , e desejamos alimentá-la e fortalecê-la.
 O que é mesmo a fé? Como se expressa?

- Quantas vezes em nossa vida passamos   por momentos de desânimo, impaciência, descrença.
- Questionamos tudo e todos, até mesmo a nossa fé.
- Chegamos a ponto de nos perguntar: vale a pena crer?

Ouçamos o que a Palavra de Deus tem a nos dizer:

Na 1a Leitura, o Profeta HABACUC conta a sua experiência de fé.
Diante da extrema violência e corrupção, que vê no meio do povo, ele se queixa impaciente: "Até quando, Senhor?"
E o Senhor o exorta a não desanimar. Ele intervirá no momento oportuno:
"O justo viverá por sua fé". (Hab 1,2-3.2,2-4)

* Quantas vezes também nós não conseguimos entender porque Deus permite tantas coisas "absurdas"...
Nessas horas, como Habacuc, reclamamos: Por que? Até quando?
A fé é o único caminho para compreender o Mistério da História e superar todas as dificuldades e contradições.
Devemos confiar em Deus, mesmo quando ele "parece" ausente da história.
Um dia veremos a intervenção salvadora e libertadora de Deus.

Na 2a Leitura: PAULO convida Timóteo, cansado e preocupado
pelas adversidades (Paulo preso, apóstolos morrendo):
"Reaviva o DOM DE DEUS, que recebeste". (2Tm 1,6-8.13-14)

* O texto nos convida a reavivar também a chama da nossa fé,   anunciando-a de todas as formas, em todos os lugares e culturas.

No Evangelho, Jesus afirma que a fé remove os obstáculos. (Lc 17,5-10)

JESUS e os apóstolos estão a caminho de Jerusalém.
Diante da caminhada difícil proposta por Cristo a seus seguidores, os Apóstolos estão vacilando, sentem-se tentados a voltar atrás, como já tinham feito muitos discípulos.
Então, preocupados, pedem ao Senhor: "Senhor, aumentai a nossa fé".
- Jesus responde: "SE TIVÉSSEIS FÉ como um GRÃO DE MOSTARDA,  poderíeis dizer a essa amoreira, arranca-te daqui e planta-te no mar,  e ela vos obedeceria".

* A FÉ consegue realizar aquilo que aos olhos dos homens parece impossível.
   A fé autêntica, mesmo pequena, poderá superar os maiores obstáculos.

   O QUE É A FÉ?

- Um DOM GRATUITO DE DEUS, que tudo ilumina e fortalece na vida.
   Não conquistamos por méritos...
- Mas que exige UMA RESPOSTA VIVA E ATUANTE:
    "A fé sem obras é morta". (Tg 2,17)
   Fé e Vida devem andar sempre juntas. A fé, mesmo que pequena, cresce e  se torna forte pelo cultivo da oração, da participação ativa na comunidade,  pela prática da caridade, da justiça, pela vivência fraterna e solidária.

- Não é apenas uma ADESÃO INTELECTUAL
  a umas verdades aprendidas na catequese, a uns ritos de religiosidade popular.
  Não é um recurso para conseguir determinadas coisas...

- É, antes, uma ADESÃO DE VIDA ao Projeto de Deus.
  Um encontro pessoal com Deus, em Jesus Cristo. 
  É aceitar realizar o plano de Deus em nós, fazer a vontade de Deus...
  É olhar o mundo, os acontecimento, as pessoas com o olhar de Deus...

- É uma ENTREGA TOTAL E GRATUITA...  
  sem esperar direitos e privilégios. Não é ter Deus a nosso serviço,  mas nos colocar plenamente à disposição de Deus,  confiando nele e acatando sua palavra e sua vontade.
  Nosso serviço e nossa fidelidade ao Senhor são de filhos e não de assalariados.

DUAS TENTAÇÕES: (nesse mundo inseguro, perturbado, hostil...)

1. O Desânimo: Sentimo-nos pequenos, incapazes, inúteis...
    Por isso, muitas vezes pensamos até em largar tudo...

2. Considerar-nos "Necessários" ou "Merecedores"...
Muitas vezes, imaginamos Deus como um Contador
que contabiliza cuidadosamente num livro nossos créditos e débitos,a fim de pagar religiosamente, de acordo com os nossos "merecimentos".
Para apagar essa imagem de Deus e eliminar a "Religião dos merecimentos" (comum aos judeus e a nós),Jesus contou uma PARÁBOLA: O Servo que volta da roça:
"Quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei:
  somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer".
E se nossa fé for ainda pequena, menor do que o grão de mostarda, façamos nosso o pedido dos Apóstolos: "Senhor, aumentai a nossa fé ..."

+ Para o dia mundial das Missões, o papa, em sua mensagem, lembra que, no final do ano da fé, é "uma ocasião importante para revigorarmos a nossa amizade com o Senhor e o nosso caminho como Igreja que anuncia, com coragem, o Evangelho... A fé é um dom precioso de Deus, que abre a nossa mente para O podermos conhecer e amar. Trata-se de um dom que é oferecido a todos com generosidade... e deve ser partilhado com todos...
Toda a comunidade é «adulta», quando professa a fé, celebra-a com alegria na liturgia, vive a caridade e anuncia sem cessar a Palavra de Deus, saindo do próprio recinto para levá-la até às «periferias», sobretudo a quem ainda não teve a oportunidade de conhecer Cristo."

                 
                                            Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 05.10.2013

http://www.buscandonovasaguas.com/
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Fé como um grão de mostarda (Lc 17, 5-10) Orides Bernardino, do CEBI-SC.

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Orides Bernardino, do CEBI-SC é autor do livro Casa - acolhida e libertação para as primeiras comunidades.

Para muitas igrejas, a Palavra proposta para a liturgia do próximo final de semana é Lucas 17,5-10, onde Jesus procura mostrar que "os cristãos são servos de Deus, e que o serviço a Deus não deve ser concebido como fonte de méritos".
Estamos ainda durante a "grande viagem a Jerusalém" (9,51-19,27) com os desafios, exigências e obstáculos no seguimento de Jesus. A viagem reflete o caminho das comunidades cristãs com suas crises e busca de solução aos desafios propostos pelo evangelho.
Lucas reúne, nos primeiros dez versículos deste capítulo, diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer segui-Lo pelo caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-6 e vv. 7-10.
A força da fé 
Em Lucas 17,5-6, os apóstolos pedem ao Senhor: "aumenta-nos a fé!". Jesus responde que não se trata de quantidade, de ter "mais" ou "menos" fé, mas de qualidade. Ela deve ser genuína como a semente que traz em si todas as potencialidades da árvore. Uma fé qualificada com esta potencialidade é capaz de arrancar da terra uma árvore de profundas raízes e plantá-la ao mar. É claro que se trata de uma metáfora, mas mostra claramente a força da fé. É uma fé assim que será capaz de reacender a chama e o entusiasmo da comunidade.
Servir desinteressadamente 
Nos versículos 7-10, Lucas nos apresenta uma parábola que reflete a prática pastoral de Paulo: "anunciar o evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o evangelho! Se eu o anunciasse de própria iniciativa, teria direito a um salário; no entanto, já que o faço por obrigação, desempenho um cargo que me foi confiado. Qual é, então, o meu salário? É que, pregando o evangelho, eu o prego gratuitamente sem usar dos direitos que a pregação do evangelho me confere. Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me servo de todos, a fim de ganhar o maior número possível" (1Cor 9,16-19).
A parábola pode chocar um pouco, pois parece justificar a escravidão. Não, Jesus não está justificando a escravidão. Essa era a realidade de seu tempo. Havia muitas pessoas escravas. E Jesus tinha consciência dessa vida de opressão que era imposta a escravos. No entanto, o sistema escravocrata não fazia parte do projeto do reinado de Deus, onde ninguém está acima de ninguém, pois "todos são irmãos" (Mateus 23,8). Em seu programa não há lugar para escravos: "Já não vos chamo escravos, pois o escravo não sabe o que o seu senhor faz. Eu vos chamei amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi de meu Pai" (João 15,15). Este evangelho é herança das comunidades fundadas por Paulo, que entendeu muito bem a proposta de Jesus. Por isso, Paulo pediu com ternura e encarecidamente a Filemon que libertasse o escravo Onésimo (Filemon 16).
Ao contar esta parábola, Jesus quer mostrar, usando um fato da vida daquele tempo, que os cristãos são servos de Deus, e que o serviço a Deus não deve ser concebido como fonte de méritos. A parábola, portanto, deduz que o discípulo não evangeliza por iniciativa própria, mas cumpre um mandato. Não tem consequentemente o que exigir em troca. Jesus, que confia ao discípulo seu projeto, não se sente obrigado a nada quando este cumpre sua obrigação. Esperar elogios ou alguma recompensa não é se tornar solidário, e sim, ambicioso. Melhor é se libertar da ambição de ser recompensado e descobrir a alegria de servir.
Confira também O Reino dos céus num grão de mostarda de Fábio Py Murta. 

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29 de setembro – 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

COITADO, SÓ TEM DINHEIRO!

I. INTRODUÇÃO GERAL 
As leituras do 26º domingo comum dificilmente deixarão insensível o coração do verdadeiro cristão. Trazem uma contundente crítica à ganância, que, esta sim, torna insensíveis as pessoas. As leituras de hoje trazem um forte chamamento à conversão à solidariedade e à justiça social para a transformação de uma realidade injusta e iníqua, segundo a vontade de Deus. Essa necessidade de conversão não é apenas para os ricos, mas também para os pobres que têm coração e mentalidade de ricos e para todos os que não abrem os olhos para a realidade social injusta.
 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 
1. I leitura (Am 6,1a.4-7)
Mais uma vez (como no domingo passado) Amós, mestre da ironia profética (veja as “vacas de Basã”, Am 4,1), critica a “sociedade de consumo” de Samaria e de Jerusalém (Sião). Os ricos, especialmente os da corte real, aproveitam a vida sem se importar com a “casa de José”, ou seja, com a ruína do povo. A “casa de José” são as tribos de Efraim e Manassés, filhos de José do Egito, que constituíram o reino do Norte (Samaria). José, porém, distribuía alimentos ao povo, enquanto os donos de Samaria tiravam o pão do povo. Por isso, essa elite tem que ir ao cativeiro, para aprender o que é a justiça e o direito.
Na leitura da semana passada, Amós revelava a ambiguidade dos ricos comerciantes da Samaria. Hoje, censura-lhes a irresponsabilidade. Denuncia o luxo e a luxúria das classes dominantes. Evoca ironicamente a gloriosa história antiga: os ricos, porque têm uma cítara para tocar, acham que são cantores como Davi… enquanto o povo é ameaçado pela catástrofe da injustiça social e da invasão assíria. Por isso, esses ricaços sairão ao exílio na frente dos deportados…
2. Evangelho (Lc 16,19-31)
A insensibilidade pelo sofrimento do pobre é também o tema da leitura evangélica deste domingo, a parábola do ricaço e do pobre Lázaro, Lc 16,19-31. Nesta parábola, própria de Lucas, o narrador acentua o perigo da riqueza. Mostra a insensibilidade de quem vendeu sua alma em troca de riqueza – quem é tão pobre que só possui dinheiro!
A descrição do pobre e de sua contrapartida, o ricaço, é extremamente viva. As sobras da mesa do rico não vão para o pobre, mas para o cachorro. Parece que é hoje. Significativo é que Lázaro tem nome, e seu nome quer dizer: Deus ajuda. O rico não tem nome, é ignominioso. Quando então sobrevém a morte, igual para ambos, o quadro se inverte. Lázaro vai para “o seio de Abraão” (é acolhido por Abraão no lugar de honra do banquete, podendo reclinar-se sobre seu lado). O rico, entretanto, vai para o xeol, a região dos mortos, onde passa por tormentos. Há entre os dois um abismo intransponível, de modo que Lázaro não poderia nem dar ao ricaço um pouco de água na ponta do dedo para aliviar-lhe o calor infernal. Na realidade, esse abismo já existia antes da morte – o abismo entre ricos e pobres –, mas com a morte tornou-se intransponível, definitivo. Então, o rico pede que Lázaro possa avisar seus irmãos, que vivem do mesmo jeito como ele viveu. Mas Abraão responde: “Eles têm Moisés e os profetas. Nem mesmo se alguém ressuscitasse dos mortos, não acreditariam nele”: alusão a Cristo.
Dureza, isolamento, incredulidade: eis as consequências do viver para o dinheiro. Podemos verificar esse diagnóstico em redor de nós, cada dia, e, provavelmente, também em nós mesmos. A pessoa só tem um coração; se o coração se afeiçoa ao dinheiro, fecha-se ao irmão.
Os ricos são infelizes porque se rodeiam de bens como de uma fortaleza. É a impressão que suscitam hoje os condomínios fechados. São “incomunicáveis”. As pessoas vivem defendendo-se a si e a suas riquezas. Os pobres não têm nada a perder. Por isso, “as mãos mais pobres são as que mais se abrem para tudo dar”.
Em nosso mundo de competição, a riqueza transforma as pessoas em concorrentes. A riqueza é vista não como “gerência” daquilo que deve servir para todos, mas como conquista e expressão de status. Tal atitude marca a riqueza financeira (capitalização sem distribuição), a riqueza cultural (saber não para servir, mas para sobrepujar) e a riqueza afetiva (possessividade, sem verdadeira comunhão). Considera-se a riqueza recebida como posse em vez de “economia” (palavra grega que significa: gerência da casa). Não se imagina o tamanho deste mal numa sociedade que proclamou o lucro e a competição como seus dinamismos fundamentais. Até a afetividade transforma-se em posse. As pessoas não se sentem satisfeitas enquanto não possuem o objeto de seu desejo, e, quando o possuem, não sabem o que fazer com ele, passando a desejar outro… Não sabem entrar em comunhão. Assim, a parábola de hoje é um comentário do “ai de vós, ricos” (Lc 6,24).
 3. II leitura (1Tm 6,11-16)
A 2ª leitura de hoje não participa da temática principal da 1ª leitura e do evangelho, mas completa-a, no sentido de apresentar o contrário da dureza e avareza.
Imediatamente antes do trecho de hoje, a primeira Carta a Timóteo fala da avareza, que chega a abalar a fé (6,10). Também os ministros da Igreja devem cuidar-se dela. Depois, positivamente, exorta Timóteo a cultivar as boas virtudes (6,11-12), a ser fiel à profissão da fé (6,12.13), confiada a ele por Cristo, até sua volta (6,14.15-16). A Igreja está no tempo do crescimento; deve conservar o que lhe é confiado.
O testemunho de Cristo neste mundo não é nada pacífico. É uma luta: o bom combate. Importa travar esta luta – como o fez Paulo – até o fim, para que vivamos para sempre com aquele que possui o fim da História. (Poder-se-iam acrescentar à leitura os versículos que seguem, 1Tm 6,17-19, e que são uma lição do que o cristão deve fazer com seus bens.)
 III. PISTAS PARA REFLEXÃO 
A riqueza que endurece: ouvimos as censuras de Amós contra os ricos da Samaria, endurecidos no seu luxo e insensíveis ao estado lamentável em que se encontra o povo. Jesus, no evangelho, descreve esse tipo de comportamento na inesquecível pintura do ricaço e seus irmãos, que vivem banqueteando-se, enquanto desprezam o pobre Lázaro, mendigo sentado à porta. Quando morre e vai ao xeol, o rico vê, de longe, Lázaro no céu, com o pai Abraão e todos os justos. Pede a Lázaro que venha com uma gota d’água aliviar sua sede. Mas é impossível. O rico não pode fazer mais nada, nem sequer consegue que Deus mande Lázaro avisar seus irmãos a respeito de seu erro. Pois, diz Deus, nem mandando alguém dentre os mortos eles não acreditam. Imagine, se mesmo a mensagem de Jesus ressuscitado não encontra ouvido!
E nós? Nós continuamos como o rico e seus irmãos. Os pobres morrem às nossas portas, onde despejamos montes de comida inutilizada… (Alguma prefeitura poderia talvez organizar a distribuição das sobras dos restaurantes para os pobres.) Será que devemos criar uma nova estrutura na sociedade, de modo que não haja mais necessidade de mendigar nem supérfluos a despejar? Isso certamente aliviaria, ao mesmo tempo, o problema social e o problema ecológico, pois o meio ambiente não precisaria mais acolher os nossos supérfluos. Mas, ao contrário, cada dia produzimos mais lixo e mais mendigos.
O exemplo do rico confirma a mensagem de domingo passado: não é possível servir a Deus e ao dinheiro. Quem opta pelo dinheiro afasta-se de Deus, de seu plano e de seus filhos. Talvez decisivamente.
Em teoria, aceitamos essa lição. Mas ficamos por demais no nível pessoal e interior. Procuramos ter a alma limpa do apego ao dinheiro e, se nem sempre o conseguimos, consideramos isso uma fraqueza que Deus há de perdoar. Mas não fazemos a opção por Deus e pelos pobres em nível estrutural, ou seja, na organização de nossa sociedade, de nosso sistema comercial etc. Temos até raiva de quem quer mudar a ordem de nossa sociedade. Prendemo-nos ao sistema que produz os milhões de lázaros às nossas portas. Pior para nós, que não teremos realizado a justiça, enquanto eles estarão na paz de Deus.
A “lição do pobre Lázaro” só produzirá seu efeito em nós, “cristãos de bem”, se metermos a mão na massa para mudar as estruturas econômicas, políticas e sociais de nossa sociedade. Porém, que adiantariam novas estruturas se também não se renovassem os corações? Quem conhece a história sabe que nenhuma estrutura social ou econômica é definitiva, porque é fruto do trabalho humano, que é sempre provisório. As estruturas mais justas não dispensam a sensibilidade por aquele que sofre, e é assumindo nossa responsabilidade diante do sofrimento de cada um, na dedicação ao amor fraterno, que cuidaremos também de tornar mais fraternas as próprias estruturas da sociedade.

Pe. Johan Konings, sj

Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje. E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br.



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Lázaros de Hoje


Celebramos hoje o Dia da BÍBLIA.
E o lugar privilegiado para ler e acolher a Palavra de Deus é a Comunidade na celebração dominical.

A Liturgia de hoje convida a ver os bens desse mundo, como dons que Deus colocou em nossas mãos, para que administremos, com gratuidade e amor.

Na 1ª Leitura: o Profeta AMÓS denuncia severamente os ricos e poderosos do seu tempo, que viviam no luxo e na fartura, explorando os pobres, insensíveis diante da miséria e da desgraça de muitos.
O Profeta anuncia que Deus não aprova essa situação.
O castigo chegará em forma de exílio em terra estrangeira. (Am 6,11-16)

* As denúncias de Amós são ainda hoje atuais!
- Povos gastando fortunas matando gente em guerra,   enquanto outros morrem de fome por não ter o que comer.
- Quantos vivem na abundância, enquanto muitos morrem de fome e na miséria.
- Quantos satisfazem seus caprichos, sacrificando até seus familiares...

Na 2ª Leitura, Paulo denuncia a cobiça, "Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males". (1Tm 6,10-16)

No Evangelho, temos o julgamento de Deus sobre a distribuição das riquezas.

A Parábola do homem Rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31) tem três quadros:
  - A Situação de vida do Homem rico e do Pobre "Lazaro".
  - A mudança de cena para ambos após a morte...
  - Um DIÁLOGO entre o rico e Abraão,
      > Proposta: "Pai Abraão, se alguém entre os mortos for avisar meus irmãos, certamente vão se converter..."
     > Resposta: "Se não escutam a Moisés, nem aos profetas, mesmo se alguém ressuscitar dos mortos, não acreditarão..."

A morte de ambos reverte a situação:
quem vivia na riqueza está destinado aos "tormentos", quem vivia na pobreza se encontra na paz de Deus.
É uma Catequese sobre escatologia, antecipa o amanhã para que valorizemos o presente.
O rico não é condenado por ser rico, mas porque prescinde de Deus.
O pobre se salva porque está aberto para Deus e espera a Salvação.
A pobreza não levou Lázaro ao céu, mas a humildade, e as riquezas não impediram o rico de entrar no seio de Abraão, mas seu egoísmo e a pouca solidariedade com o próximo.

* Na Parábola, o pobre tem "nome", o rico não... Em nossa Comunidade, os pobres têm nome?

+ "Escutem Moisés e os profetas!":
    Essa advertência tem um significado todo especial no DIA DA BÍBLIA.
  
A expressão "Moisés e os Profetas", no tempo de Jesus, significava a Bíblia.
Por isso, Jesus queria dizer que não estamos precisando de aparições duvidosas do além, de videntes ou prodígios milagrosos...
A BÍBLIA é a única Revelação segura que todo cristão deve acreditar...
Ela é suficiente para iluminar o nosso caminho.
Seguindo essa Luz, encontraremos, aqui na terra, a solidariedade, a fraternidade  e, na outra vida, acolhida na casa de Deus, um lugar junto de Abraão.

Essa Palavra de Deus, podemos encontrá-la:
Na Catequese... na Liturgia... na Leitura Orante da Bíblia...
nos Grupos de Reflexão, nos Cursos de formação... na Leitura pessoal...

+ Quem são os LÁZAROS hoje?
Ainda hoje quantos ricos esbanjam na fartura, enquanto pobres "Lázaros" continuam privados até das migalhas que sobram...
Creio que os vemos diariamente nas ruas e na televisão...
Escutar Moisés, os Profetas, o Evangelho
favorece o desapego e abre os olhos às necessidade dos irmãos.

O Documento de Santo Domingo afirma:
"O crescente empobrecimento a que estão submetidos milhões de irmãos nossos, que chega a intoleráveis estremos de miséria, é o mais devastador e humilhante flagelo que vive a América Latina" (179).

No Brasil: O Salário mínimo irrisório... A aposentadoria miserável...
enquanto outros recebem super salários... e inúmeros desvios...

No Brasil, milhões de Lázaros nos indicam o caminho da salvação...
- Se nos abrirmos ou não a eles...
- Se nos colocarmos ou não a serviço de sua libertação.

+ E conclui com uma ADMOESTAÇÃO:
   "Há um abismo que nos separa... e não haverá mais volta..."
    Após a morte, a situação se torna irreversível.

+ Como superar esse abismo que nos separa?
    Abismo que não foi construído por Deus, mas pelos homens...
    abismo que começa agora... e se prolonga no além...

    A EUCARISTIA é um grande meio para vencer esse abismo,
    desde que seja sempre uma verdadeira COMUNHÃO...     
       - que inicia AGORA (na Igreja, na família, na sociedade) e
       - se prolonga por toda a ETERNIDADE junto de Deus.

Por: Pe Antônio Geraldo Dalla Costa
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O rico e o pobre Lázaro - Lucas 16,19-31 [Katia Rejane Sassi]

Terça-feira, 24 de setembro de 2013 - 9h41min

jesusmafa.com


parábola de Lucas 16,19-31 não é uma espécie de “geografia do céu e do inferno”, nem um ensinamento sobre a questão do “além”, da situação depois da morte. É uma parábola, cujo objetivo é provocar um questionamento, uma reflexão que leve ao entendimento da mensagem e a uma tomada de posição.
De um lado, esta parábola parece dirigir-se aos fariseus (Lucas 16,14), aqueles definidos por Jesus como “amigos do dinheiro”. De outro lado, é uma advertência aos discípulos e às discípulas de Jesus de ontem e de hoje.

Uma realidade cheia de contrastes
A situação inicial é descrita apresentando os contrastes entre duas realidades: de um homem rico anônimo contra um mendigo que se chamava Lázaro (que significa “Deus ajuda”); de roupas luxuosas de púrpura e linho contra a pele coberta de úlceras repugnantes; de banquetes diários contra estômago faminto que desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa; de enterro certamente com toda solenidade e pompa contra o sepultamento de um indigente; de luxo, abundância e supérfluo, de um lado, e a falta do mínino necessário para viver, do outro.

O abismo da indiferença
Uma cena comum que pode ser vista quotidianamente no palco da vida. Mesmo separados pela distância da indiferença, o rico e o pobre viveram bem próximos um do outro. Porém, o rico não vê nada, sequer percebe a presença de Lázaro. Ele vivia extremamente para si, fechado no seu mundo de bens, luxo, festa e comilança. Uma pessoa insensível ante a situação de fome, doença e dor do pobre que estava junto à porta de sua casa. Lázaro era um entre tantos marginalizados da cidade. Só os cães de rua se aproximam dele para lamber-lhe as feridas. Sua única esperança é Deus. O uso egoísta dos bens materiais cavava um abismo entre o rico e o pobre. Jesus desmascara esta realidade da sociedade onde as pessoas estão separadas por uma barreira invisível: essa porta que o rico nunca atravessa para aproximar-se de Lázaro.

Não basta ser “filho de Abraão”
Após a morte, as sortes se inverteram. Lázaro é levado pelos anjos ao “seio de Abraão”, expressão figurada para falar do banquete do Reino (cf. Lucas 13,28; Mateus 8,11). O rico está embaixo, na morada dos mortos, no meio de tormentos. Ele, que antes tinha comidas e bebidas finas à sua disposição, agora implora por uma simples gota d’água. Porém, um abismo intransponível separa os dois.
O rico da parábola crê que faz parte do povo de Deus, chamando Abraão de “pai”. Porém, não basta ser “filho de Abraão”, é preciso escutar as Escrituras e demonstrar solidariedade e justiça para com os irmãos que sofrem necessidade. O profeta Isaías, por exemplo, diz o que os filhos de Abraão devem fazer: “repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu e não se fechar à sua própria gente” (Isaías 58,7; cf. Mateus 25,35-36).
A parábola pode estar denunciando a falsa religião dos fariseus, que se dizem filhos e filhas de Abraão, mas acumulam os bens dos pobres, reduzindo à miséria muitos filhos e filhas de Abraão, irmãos e irmãs deles (cf. Mateus 23,14). Nesta posição, eles se tornam surdos ao clamor dos pobres e aos ensinamentos de Moisés e dos profetas.

Uma mensagem ética que rompe barreiras
Esta parábola é uma crítica de Jesus a um sistema opressor que gera indiferença diante do sofrimento de quem está na miséria. Os ricos insensíveis, amantes do dinheiro, não mudam seu comportamento de luxo e de esbanjamento. Sustentam uma sociedade que produz milhões de “lázaros”, aqueles que são jogados “fora dos muros” do convívio e da participação na vida.
A parábola é uma advertência e apelo à conversão dirigida a todos nós, discípulos e discípulas de Jesus. Quem escuta a Palavra de Deus não vive descompromissado com a realidade à sua volta. Quem segue Jesus vai se tornando mais sensível ao sofrimento daqueles que ele encontra em seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se estiver em seu alcance, procura aliviar sua situação.
A indiferença só se dissolve quando se dá passos que nos aproximam dos “lázaros” de diferentes rostos e nomes. Ao invés de levantar barreiras que dividem, somos interpelados a lutar por eliminar o “abismo” que separa os povos através do poder econômico, da suposta superioridade racial, de gênero, de crença ou cultura.
Felizes as pessoas que seguem Jesus, rompendo barreiras e atravessando portas, abrindo caminhos e se aproximando dos últimos. Elas encarnam o “Deus que ajuda” os pobres.




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